Ações incorporando apostas à economia: aparentemente óbvia, relação é controversa

Associar perspectivas de evolução do PIB a alta dos preços de ativos explica o fluxo, mas não garante os ganhos

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SÃO PAULO – Os mercados emergentes parecem uma aposta certeira para 2010. A relação é simples: como as economias em desenvolvimento devem apresentar taxas de crescimento econômico superiores às economias maduras, o fluxo de capitais naturalmente caminha em busca das melhores perspectivas de crescimento. E contra fluxo, não há argumento. 

Este cenário desenha um retrato promissor para a renda variável de países como o Brasil. Como tudo nos mercados é antecipado (ou quase tudo), as perspectivas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) se tornam expectativa de maiores lucros corporativos e, grosso modo, certeza de retornos mais consistente às ações – diga-se de passagem, expectativa esta que vem sendo incorporada nos preços há algum tempo.

Faz sentido. Mas precisa haver uma correlação bem definida entre crescimento econômico e rentabilidade das ações para tornar a expectativa fato.

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Fluxo é argumento
Tomando a bolsa brasileira como exemplo, a continuidade dos ganhos vem associada ao fluxo de capitais estrangeiros – exatamente em busca por esta projeção de crescimento econômico. O movimento é bem claro: os fundos de renda variável com foco nos emergentes receberam ingresso líquido próximo de US$ 70 bilhões no ano passado, com parcela predominante atrás das bolsas do Bric (Brasil, Rússia, China e Índia), segundo informações do EPFR Global.

Basta olhar para o histórico de ingressos estrangeiros na BM&F Bovespa para avaliar o óbvio. A propaganda dos emergentes vem das projeções, das perspectivas de que a economia global como agregado sentirá como nunca a importância deste grupo de países, enquanto os velhos figurões vão perdendo espaço.

Mas tomar como garantia de alta às ações pode ser precipitado.

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China contra-exemplo
Apesar de parecer óbvio, algum pontos fazem questionar a correlação entre o desempenho das bolsas e a performance da economia. Um exemplo clássico é a China. Por mais que a crise tenha impactado a atividade da região, o gigante asiático passou por 2008 com evolução de 9,6% em seu PIB.

Por outro lado, o índice acionário Shanghai Composite bateu em outubro de 2008 seu fundo do poço. Desde lá, subiu 91%; mas ainda se encontra 46% abaixo do patamar visto em outubro de 2007. Para 2009, as projeções do Banco Mundial apontam para crescimento de 7,2% da economia chinesa, enquanto a taxa de crescimento do país em 2007 atingiu 11,4%, então batendo cinco anos seguidos de alta acima de 10% do indicador. O ritmo de sua bolsa foi bem diferente.

Dois lados
De fato, considerar o exemplo chinês serve como indício de que há questões à parte – como o fator liquidez, a situação do restante dos mercados internacionais, o patamar anterior de preços das ações, inflação, etc… – que limitam a correlação entre crescimento do PIB e desempenho das ações. Por outro lado, há particularidades que não podem ser ignoradas neste caso. Como o fato de a economia brasileira ser mais aberta aos fluxos internacionais (mesmo com as recentes taxações ao capital estrangeiro) que a chinesa – que possui um histórico de desconfianças em relação a esta questão.

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Por outro lado, apesar do acúmulo de reservas e resiliência demonstrada durante a crise, uma amostra mais abrangente revela uma histórico desfavorável do Brasil em relação a questões como corrupção, instabilidade em períodos de eleição e descontrole de preços. Ou seja, além das perspectivas de crescimento, há uma série de fatores que podem pesar contra este fluxo estrangeiro que vem impulsionando as ações. Pelo rigor estatístico, a amostra representada por estas desconfianças é bem mais significativa que a da resiliência e prosperidade.

Há ainda a questão dos custos de capital. Em matéria recente do diário Financial Times, Paul Marson, Chief Investiment Officer do banco suíço Lombard Odier,citou que a primeira coisa que vem à cabeça quando alguém menciona taxas significativas de crescimento econômico é “como este crescimento será financiado?”. Em sua opinião, os recursos que costumam impulsionar economias emergentes vêm de uma base “enormemente diluída, e assim destrutiva dos interesses da parcela de acionistas já existente”.

Efeito Proxy
Os estudos do economista Eugene Fama também entram neste debate. Sobre a correlação negativa entre os retornos das ações e as taxas de inflação, apontavam que, na verdade, este efeito era uma proxy da relação entre inflação e atividade econômica, também negativa.

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Isto porque a tendência dos períodos de forte atividade econômica é de pressão inflacionária, fator que impacta as decisões de política monetária induzindo à adoção de políticas anticíclicas; no caso, de elevação da taxa básica de juro. Os preços das ações, por sua vez, respondem negativamente quando o aumento da produção é sobrepujado pelos efeitos de uma política contracionista – uma vez que as projeções de crescimento econômico já estavam incorporadas nos preços dos ativos. Outro argumento que não pode ser descartado.

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