As ações que podem ser impactadas (positiva ou negativamente) pela agenda Bolsonaro

De mudança no imposto de renda à redução de alíquotas sobre importação: como as prováveis medidas a serem adotadas pela equipe econômica podem afetar as ações 

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – Além das ações que podem repercutir num prazo mais curto os efeitos da eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência, outros papéis devem ser observados de perto por conta das expectativas para a agenda a ser implantada pelo agora presidente eleito. 

Embora os desafios sejam grandes, especialmente no campo econômico, os investidores dão o benefício da dúvida para o presidente eleito, aguardando as sinalizações do novo governo. 

Paulo Guedes, indicado como futuro ministro da Fazenda de Bolsonaro, vem ressaltando propostas liberais, com viés reformista. Bolsonaro ainda não deixou claro quais propostas priorizará, mas ao longo de sua campanha focou a agenda em quatro grandes temas: privatização, concessões, reforma tributária e abertura comercial.

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As informações sobre a direção que seu governo tomará ainda carecem de maiores definições, mas o time de análise da XP Investimentos destacou o que foi dito até o momento por Bolsonaro e seus aliados e fez uma lista com as principais ações expostas a estes temas na Bolsa – e que podem ser impactadas positiva ou negativamente. Confira: 

>> Mudança no imposto de renda para pessoa física
Guedes mencionou a proposta de levar a zero o Imposto de Renda de quem ganha até 5 salários mínimos, com alíquota única de 20% para outras faixas de renda. Por outro lado, também propôs eliminar deduções com gastos com saúde e educação, compensando menores alíquotas para maiores faixas de renda.

Para a XP, uma menor incidência de imposto de renda beneficiaria setores relacionados a consumo discricionário, como consumo, aéreas, shoppings, locadoras, siderurgia e construção. Neste segmentos, as ações favoritas da XP são B2W (BTOW3), Lojas Americanas (LAME4), Azul (AZUL4), BR Malls (BRML3), Localiza (RENT3) e Usiminas (USIM5).

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>> Mudança no imposto de renda para empresas e tributação de dividendos
O guro econômico de Bolsonaro defendeu a criação de um imposto de 20% sobre dividendos, compensado pela redução do imposto de renda para empresas de 34% para 15%. Apesar de já haver ocorrido debates no passado, não foram mencionadas mudanças para juros sobre capital próprio. 

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Nestes moldes, a proposta é neutra para empresas conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos, como elétricas e bancos.

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>> Imposto sobre importação
O plano de governo de Bolsonaro aborda a “redução de muitas alíquotas de importação e das barreiras não-tarifárias, em paralelo com a constituição de novos acordos bilaterais internacionais“.

Se confirmada, empresas de setores como siderurgia e industriais, como a Weg (WEGE3) poderiam ser impactadas negativamente.

>> Privatização 
Paulo Guedes afirmou ser favorável a todas as privatizações, mas Bolsonaro disse que focará naquelas empresas deficitárias, deixando de fora Eletrobras, negócios centrais da Petrobras (como produção de petróleo), Banco do Brasil e Caixa.

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No âmbito estadual (não dependentes de iniciativa do governo federal), potenciais estatais a serem reestruturadas e/ou privatizadas seriam a Cemig (CMIG4), Copasa (CSMG3) e Banrisul (BRSR6). “Todos podem ter interessante potencial de valorização, a ser quantificado quando tivermos mais detalhes”, avalia a XP.

>> Preços de combustíveis
Bolsonaro já afirmou que preços de combustíveis praticados pela Petrobras (PETR4; PETR3) devem seguir mercados internacionais, mas flutuações de curto prazo devem ser mitigadas com hedges. O candidato também já defendeu a privatização do segmento de refino da Petrobras para evitar o problema com definição de preços e monopólio.

Por fim, Bolsonaro criticou a elevada tributação de combustíveis, diagnóstico na direção certa. No entanto, o maior problema está no âmbito estadual (ICMS), que deve ser negociado com governadores

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>> Concessões

Membros da campanha de Bolsonaro afirmam que concessões de infraestrutura devem ser aceleradas e intensificadas, com o potencial avanço de projetos como a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste e as rodovias BR-163 e BR-319.

Além disso, o governo buscaria a expansão da matriz energética, com projetos eólicos e solares, além da retomada de projetos hidrelétricos como usinas no Rio Tapajós. Finalmente, membros da campanha afirmam que a Usina Nuclear de Angra III seria concluída apesar do elevado custo do projeto.

Neste cenário, os principais beneficiários seriam concessionárias, siderúrgicas e geradoras de energia. Nestes setores, as favoritas da XP são Ecorodovias (ECOR3), Gerdau (GGBR4) e AES Tietê (TIET11).

>> E a Forjas Taurus? O impacto do fim do estatuto do desarmamento
A XP Investimentos não destacou em seu relatório uma análise sobre a antes desacreditada Forjas Taurus (FJTA3; FJTA4), mas essa é uma ação que vale ser lembrada em meio ao ser forte rali durante os últimos meses, em meio à postura favorável de Bolsonaro à liberação do porte de armas para civis. Os papéis da fabricante de armas acumularam ganhos de quase 1.000% desde setembro e os negócios, anteriormente com liquidez baixíssima, passaram a frequentar o ranking dos maiores volumes na Bolsa. 

O movimento, no entanto, é puramente especulativo e acabou gerando um efeito manada entre muitos investidores. Isto porque Bolsonaro já disse que pretendia acabar com o “monopólio da Taurus” no mercado brasileiro de armas e munições. A empresa é uma das duas fabricantes de pistolas no Brasil e fornecedora de armas para as políticas e as Forças Armadas. Ou seja, com a eleição de Bolsonaro, a empresa pode perder espaço no mercado, ainda que haja liberação do posse de armas. 

Além disso, os fundamentos da empresa não corroboram a alta. A companhia tem elevado nível de endividamento no curto prazo e possui baixa reserva financeira. Além disso, seus produtos são vistos com desconfiança pelo público-alvo após falhas e acidentes registrados nos últimos três anos. Assim, a análise corrente entre diversos analistas do mercado é de que não há justificativa para uma valorização dos papéis da companhia e que as medidas de Bolsonaro, ao contrário do que poderia se pensar, impactarão negativamente os papéis da empresa. 

Cenário econômico favorável

Vale destacar ainda as ações que não sofrem um impacto direto, mas sofrem influência do ambiente macro brasileiro. Em um cenário de retomada econômica, câmbio apreciado e juros baixos, alguns setores tendem a ser mais beneficiados, conforme destacado pela XP. Confira abaixo:

Alimentos e bebidas

Como o setor é muito correlacionado à atividade econômica, as vendas seriam beneficiadas mas com certo atraso após essa potencial melhora. Dentro do universo de cobertura da XP, a BRF (BRFS3) é preferida no setor.

Aviação

O setor seria amplamente beneficiado em um cenário de real apreciado, que promoveria menor pressão de custos, além de se beneficiar do potencial aquecimento da demanda. Neste contexto, a Gol (GOLL4) é a mais beneficiada.

Bancos e instituições financeiras

Uma potencial melhora da atividade impacta positivamente tanto a demanda de crédito por parte das famílias e empresas assim como a oferta por parte dos bancos. Outro efeito relevante é a redução dos índices de inadimplência. Neste segmento, a XP destaca as ações de Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3). 

Celulose

Apesar do potencial câmbio apreciado ser negativo para as empresas de celulose, elas continuarão se beneficiando do preço da commodity em patamares elevados, e devem ter forte geração de caixa. De fato, é um setor menos alavancado a Brasil. Aqui, a preferida da XP é a Suzano (SUZB3).

Construção civil

O setor de construção civil se beneficia com maiores vendas, reduções de estoques, menores riscos de distrato e aumento de preços de imóveis ao longo do tempo.

E-commerce

O setor de venda online (e-commerce) ainda é muito sub-penetrado no Brasil, então uma potencial recuperação da atividade no Brasil seria benéfica para o setor que já está em crescimento. B2W (BTOW3) é a ação favorita da XP no setor.

Elétricas

Comparado muitas vezes à renda fixa, o setor elétrico se beneficiaria de juros mais baixos. Além disso, uma retomada econômica beneficiaria o setor de distribuição de energia por maior consumo. Neste segmento, as favoritas são Equatorial (EQTL3) e Cemig (CMIG4).

Locadoras de veículos

O setor além de ainda ser sub-penetrado, se beneficiaria do potencial aquecimento da demanda e de um custo de capital mais baixo, visto o perfil capital-intensivo. Localiza (RENT3) é preferida da XP no setor.

Mineração

O potencial câmbio apreciado é negativo para as empresas de mineração, mas elas continuarão se beneficiando do preço de metais em patamares sustentados e demanda internacional aquecida, com forte geração de caixa. De fato, é um setor menos alavancado no Brasil. Vale (VALE3) é preferida da XP.

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Shoppings

O setor se beneficiaria do aumento do consumo e de uma ocupação maior nos shoppings em um cenário de atividade mais forte, além de se beneficiar de juros estáveis.

Siderurgia

Apesar do preço do aço ser atrelado ao dólar e, portanto, uma potencial apreciação do real ter efeito negativo, o efeito de retomada da atividade na demanda mais que compensaria tal movimento, trazendo maior utilização de capacidade e disciplina de preços. Usiminas (USIM5) é a mais beneficiada, na opinião da XP.

Vestuário

O setor de varejo vestuário seria beneficiado numa potencial melhora de expectativa e renda disponível, que aqueceriam as vendas. Lojas Renner (LREN3) é a rede mais beneficiada.

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