SÃO PAULO — As ações do IRB (IRBR3) chegaram a despencar 15,41% nesta segunda-feira (3), em reação à carta da Squadra Investimentos questionando as práticas contábeis realizadas pela resseguradora. A companhia negou que haja fundamento nas alegações da gestora carioca.
Os papéis atingiram a mínima da sessão (R$ 37,92) às 10h49, pouco depois da abertura dos negócios, e foram amenizando as perdas ao longo do dia. À tarde, por volta das 14h40, eles chegaram ao maior valor do dia, R$ 42,91, ainda 4,28% abaixo da cotação de fechamento de sexta-feira (R$ 44,83). No fim do pregão, as ações terminaram cotadas a R$ 40,77 cada uma (-9,06%).
Em documento de 30 páginas, a Squadra detalhou os motivos que a fazem crer que os lucros reportados pelo IRB não refletem seu earnings power e que a rentabilidade do seu negócio é muito menor do que grande parte do mercado acredita ser.
“Desde que o IRB Brasil realizou sua abertura de capital em bolsa de valores, no ano de 2017, acreditamos ter encontrado fatores que, em nossa opinião, indicam lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras significativamente superiores aos lucros normalizados”, disse.
Segundo a Squadra, essa disparidade entre lucro reportado e lucro normalizado (recorrente) teria sido crescente e atingiu sua maior diferença nos nove primeiros meses de 2019. “Em nossa opinião, existem indícios que apontam para lucros recorrentes significativamente inferiores aos lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras da companhia.”
Em resposta, o IRB afirmou que sua perfomance financeira e seu earnings power está fielmente retratado nas referidas demonstrações. Além disso, reforçou que as suas demonstrações contábeis são auditadas internamente e externamente pela empresa PwC.
“A companhia informa ainda que está avaliando com seus assessores legais, as medidas cabíveis a serem tomadas neste cenário, onde o emissor da carta tem interesse econômico diametralmente conflitante com os interesses da companhia”, informou em nota o IRB.
Em janeiro, as ações do IRB acumularam ganho de 15,1%, ficando entre as cinco maiores altas do Ibovespa no primeiro mês do ano. O salto foi devolvido em menos de uma hora no pregão de hoje. Veja o gráfico abaixo.
“Não concordamos com essa tese [da Squadra]”, diz Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven Financial. “As acusações são graves. (…) Esse caso da Squadra não é novidade. Ano passado, em fevereiro de 2019, saiu uma matéria no Brazil Journal colocando a posição vendida [da gestora carioca em ações do IRB].”
Daltozo comentou os pontos expostos pela Squadra em sua carta. O primeiro deles foi a comparação da sinistralidade da carteira de prêmios no Brasil com o restante do mercado brasileiro de resseguradoras.
“Várias resseguradoras globais atuam no Brasil com escritório de representação porque era o que a lei exigia antigamente. Esse comparativo, no nosso ponto de vista, é ruim porque é muito distante o tamanho do IRB com as demais resseguradoras locais. Ele tem portfólio completo de seguros, ou seja, uma série de vantagens competitivas. (…) Não leva em consideração a retrocessão, que é um ponto central, é justamente onde o IRB tem feito a diferença com uma cadeia de parceiros globais.”
O segundo ponto questionado pela Squadra foi a sinistralidade no exterior. “Eles questionam o avanço do IRB principalmente na América Latina, falando que este é um mercado muito dependente de políticas públicas e acordos com governos. Eles dão exemplo do Peru, que é realmente um mercado muito pequeno. (…) Comparar sinistralidade de empresas globais que estão sujeitas a catástrofes com o IRB, a gente não concorda muito com este ponto.”
O terceiro ponto é sobre o PSL (provisões de sinistros a liquidar). “É um ponto mais técnico. O questionamento é que o IRB faz um provisionamento acima da média de outros players globais. Segundo o levantamento da Squadra é de 30% contra 2% da média. (…) De novo, o comparativo com resseguradoras locais é muito ruim para chegar a qualquer tipo de conclusão, pois a distância entre as companhias é muito grande.”
Por último, o questionamento é sobre uma participação antiga do IRB em 11 shoppings que ele vem se desfazendo. “Isso tem gerado um resultado não recorrente. Realmente, neste ponto, eles têm razão. Inclusive nós apontamos no resultado do terceiro trimestre [de 2019] que a venda dessas participações gerariam algum ganho de capital dado que isso foi adquirido há muito tempo, em outra realidade.”
“As acusações são fortes. Não concordamos com as afirmações da Squadra. Eles já perderam R$ 357 milhões com a posição vendida na empresa. 70% das posições vendidas em IRB hoje são da Squadra. (…) Para nós, é uma oportunidade de compra. Continuamos acreditando na companhia. Essa questão de fraude sempre foi colocada na mesa, nós debatemos muito com os principais executivos do IRB esses temas. Tem toda a auditoria. Os quatro maiores bancos do país eram sócios da companhia até o ano passado. Bradesco e Itaú continuam lá. Acho muito difícil que haja uma fraude no nível que a Squadra está levantando no documento. Reforçamos nosso call de compra de IRBR3”, completou o head da Eleven.
Maçãs e Laranjas
Para o Morgan Stanley, a queda das ações do IRB hoje abrem uma oportunidade de compra, citando “conceitos errôneos” que alguns investidores têm sobre a sustentabilidade da lucratividade no IRB versus pares globais. “Achamos que os investidores estão comparando maçãs e laranjas”, disse em nota o diretor do banco Jorge Kuri. “Contratos de curto prazo e falta de risco catastrófico geram uma lacuna no ROE (retorno sobre o patrimônio) e produzem modelos de negócios fundamentalmente diferentes.”
Kuri destacou que o IRB possui uma força de trabalho centralizada de 385 funcionários, em comparação com uma média de 10.000 dos players globais. “Esse modelo de headcount light conta com uma única plataforma de TI totalmente integrada, que reduz significativamente os custos de back office e torna a aceitação de riscos e o processamento de reclamações mais eficientes. No futuro, vemos espaço adicional para ganhos de eficiência, dados os planos da administração de reduzir ainda mais o número de funcionários. De fato, a administração espera ter uma estrutura completamente enxuta até 2021 e alcançar um índice sustentável de despesas administrativas de longo prazo de 4,5%.”
O diretor do Morgan Stanley ressaltou ainda outros diferenciais do IRB em relação aos seus pares globais. “O rendimento dos títulos é significativamente maior no IRB do que em pares globais, principalmente devido a um ambiente de taxa de juros mais alto que permite spreads maiores e ao fato de que, diferentemente das empresas de resseguros globais, o IRB não precisa proteger seu risco cambial. Apesar do maior rendimento, a receita financeira representa uma parcela menor da receita líquida no IRB do que nos pares globais, outra diferença fundamental no modelo de negócios do IRB. Além disso, a receita financeira do IRB, como uma porcentagem do lucro total, tem diminuído constantemente à medida que as operações de subscrição da empresa se tornam mais eficientes.”
Outras recomendações
Nesta segunda-feira, a Ativa Corretora incluiu a ação do IRB em sua carteira semanal, alegando que o ativo “segue acima das médias móveis de curto prazo. No gráfico semanal, o preço caminha dentro de um canal de alta ainda, com manutenção de tendência.”
Em janeiro, o banco UBS divulgou relatório em que destacou o cenário positivo para o mercado de resseguros no Brasil em 2020 e a melhora operacional do IRB esperada para este ano. O suíço elevou suas estimativas de resultado para a companhia e, agora, vê espaço para a receita líquida crescer cerca de 18% ao ano em 2020 e 2021.
O UBS também elevou o preço-alvo dos papéis do IRB de R$ 41,50 para R$ 50,00 e reiterou recomendação de compra, destacando “o crescimento sólido da receita líquida no mercado local, aproveitando suas vantagens competitivas únicas; as maiores oportunidades decorrentes do mercado internacional; e um dos maiores ROEs entre os players globais.”
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