Ações de varejistas têm nova onda de revisões e analistas apontam oportunidades após “sell-off”

Mesmo com diversos cortes de preço-alvo, Renner e Arezzo são apontadas como compra após queda dos ativos; Magalu ainda é vista com cautela

Lara Rizério

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Ainda que tenha registrado recuperação nas últimas sessões, as ações de empresas do varejo ainda registram baixas expressivas no ano, como as de Lojas Renner (LREN3), com -34%, Arezzo (ARZZ3) com queda de 14% e Magalu (MGLU3) com desvalorização de 30%.

Pressão da alta alavancagem financeira, pressões de rentabilidade e desaceleração da demanda, deterioração do ambiente externo e debate sobre a Reforma Tributária estiveram entre os fatores de aversão ao risco para o setor, levando a muitas revisões nas perspectivas das companhias.

Nas últimas semanas, diversos bancos revisaram assim para baixo as suas projeções para os resultados das empresas. Mas, por outro lado, destacaram oportunidades, uma vez que a queda recente dos ativos seria muito além da expectativa de deterioração dos balanços.

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Um dos casos mais emblemáticos é o da Lojas Renner. Isso porque, mesmo com muitos cortes de preço-alvo, as ações da companhia aparecem entre as mais citadas como aquelas com recomendação de compra dos analistas, que veem oportunidades após a forte queda do papel.

Na semana passada, o JPMorgan elevou os ativos LREN3 de neutra para equivalente à compra, ainda que o target tenha sido cortado de R$ 19 para R$ 15,50.

Os analistas avaliam que as discussões estruturais ainda estão na mesa, mas que o “sell-off” recente dos ativos parece exagerado. Ainda assim, reduziram o preço-alvo e cortaram as previsões para lucro líquido em 2023 e 2024 em 9% e 13%.

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“É improvável que a tão esperada recuperação do segundo semestre para Lojas Renner seja o que muitos – inclusive nós – esperavam, com tendências de crescimento ainda suaves, apesar das comparações mais fáceis”, afirmaram. “Ainda assim, numa base relativa dentro do seu grupo de pares, a Renner apresenta a mais elevada qualidade de lucros, na nossa opinião.”

O Goldman Sachs, por sua vez, cortou o preço-alvo de LREN3 de R$ 26 para R$ 23, mas seguiu com recomendação de compra para os papéis.

“Reconhecemos que os desafios continuam a existir, mas também acreditamos que o risco-retorno está agora inclinado para cima para Renner. Nos últimos três meses, o consenso Bloomberg revisou os lucros de 2024 em -13%, enquanto as ações caíram -33%, resultando em uma redução do múltiplo de preço sobre lucro [P/L] esperado para 2024 para 10 vezes”, avaliam, o que seria abaixo do múltiplo de 14 vezes em um cenário de estresse.

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Os analistas esperam que a dinâmica dos lucros melhore no 4T23, o que deve ajudar o sentimento e o desempenho das ações.

O Citi, por sua vez, cortou o preço-alvo de Lojas Renner de R$ 24 para R$ 18, mas também reiterando recomendação de compra.

Os analistas João Pedro Soares e Felipe Reboredo apontam que a companhia deve mostrar recuperação sequencial nas vendas mesmas lojas no terceiro trimestre, mas em um ritmo mais lento e gradual do que o inicialmente previsto.

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O Citi cortou as projeções de receitas para os próximos anos em torno de 2% a 5% com o ambiente mais desafiador, o que também deve impactar as margens.

No radar, estão também a expectativa de maior taxa efetiva, com o possível fim dos juros sobre capital próprio e mudanças nos subsídios de ICMS. Contudo, veem que a partir do quarto trimestre as comparações anuais começam a ficar mais favoráveis, além das ações estarem sendo negociadas a múltiplos descontados, o que leva à recomendação de compra.

Arezzo também em destaque

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Em relação à Arezzo, embora tenham reduzido o preço-alvo de R$ 93,50 para R$ 7 , os analistas do JPMorgan veem um risco positivo para as projeções no mercado e um melhor posicionamento relativo em vestuário e calçados, bem como um bom ponto de entrada na ação da companhia, que consideram, assim como Vivara, uma das com melhor desempenho no setor. Assim, elevaram a recomendação de neutra para equivalente à compra para ARZZ3.

“A empresa deve mostrar resultados sólidos no segundo semestre de 2023 com base em uma execução no topo de uma estrutura mais enxuta após a reestruturação do primeiro semestre, enquanto o capital de giro deve se normalizar gradualmente”, avaliam.

O Goldman manteve recomendação de compra para ARZZ3, ainda que cortando o preço-alvo de R$ 105 para R$ 92. Os analistas veem a ação atualmente negociada a 14 vezes o P/L ( com desconto no cenário de estresse). Eles acreditam que um prêmio em relação a outros pares listados é merecido devido à sua exposição ao segmento de renda mais alta.

No início do mês, o Santander também cortou o target de Arezzo de R$ 109 para R$ 90, mantendo recomendação de compra.

O banco cortou estimativas de crescimento com novas premissas macroeconômicas e da empresa, diminuindo projeção de avanço da receita em 2,6% entre 2023 e 2025 e do Ebitda em 3,7% no mesmo período.

Contudo, a visão permanece positiva, em especial sobre a execução em abrir novas avenidas de crescimento e na rápida adaptação operacional. O foco da Arezzo em recuperação de margens deve gerar efeitos, avalia o banco, com expansão da margem Ebitda em 2024 e 2025, compensando desaceleração das vendas, efeito de comparações mais altas e marcas maduras com menor crescimento.

Outras oportunidades?

Além de Renner e Arezzo, os bancos destacaram oportunidades em outras ações do setor de varejo, ainda que haja uma visão mais diversa sobre as oportunidades que estão no radar.

O JPMorgan elevou a recomendação para as ações da Vivara (VIVA3) para compra. Ao contrário de Renner e Arezzo, o preço-alvo também subiu, de R$ 26 para R$ 34, com os analistas considerando a ação com o melhor equilíbrio entre crescimento versus “valuation”.

“A empresa vem mostrando tendências distintas do restante do setor com crescimento acelerado a partir de sua expansão na marca Life. E, no que diz respeito à rentabilidade, as tendências também são positivas”, escreveu a equipe do JPMorgan.

“A maturação das lojas deverá ajudar na alavancagem operacional e começar a compensar as pressões pré-operacionais, enquanto a nova fábrica deverá continuar a impulsionar uma maior eficiência de produção, reduzindo os custos dos produtos sem impactar a proposta de valor”, acrescentaram.

Já o Goldman Sachs destacou ver outras oportunidades em companhias do varejo alimentar/atacarejo como Carrefour (CRFB3), Assaí (ASAI3), ainda que tendo cortado o preço-alvo, assim como para RD (RADL3).

O banco cortou nesta semana o target de ASAI3 e CRFB3 de R$ 16 para R$ 15, mas manteve compra para os dois papéis.

“As ações de ASAI3 e CRFB3 caíram 35% em média no acumulado do ano, devido a vários ventos contrários de planos de conversão/reabertura de grandes lojas, desinflação e, ultimamente, até mesmo deflação em alimentos, um cenário de demanda ainda morna, relativamente balanços alavancados e risco aumentado para certos incentivos fiscais”, apontam.

O Goldman reconhece que o mau desempenho reflete, em parte, a revisão acentuada dos lucros destas empresas (o consenso Bloomberg para o lucro por ação de 2024 caiu em média 44% no acumulado do ano). “No entanto, reiteramos nossa recomendação de compra pois estamos nos aproximando de um ponto de inflexão no crescimento dos lucros. Acreditamos que as avaliações atuais, mesmo ajustadas por benefícios fiscais, oferecem um ponto de entrada convincente”, avaliam os analistas do banco.

Sobre RD, houve corte de preço-alvo de R$ 38 para R$ 36, mas o banco vê a companhia como uma empresa de crescimento confiável e com boa visibilidade de lucros.

“Considerando o perfil de risco do setor como um todo, acreditamos que o prêmio é justificado, com as ações sendo atualmente negociadas a 28 vezes o P/L esperado para 2024”, aponta a equipe de análise.

Já para o Grupo Soma , dono da Farm e da Hering, o Santander cortou o preço-alvo de R$ 15 para R$ 11, mas mantendo recomendação de compra.

Para os analistas do banco, as perspectivas de longo prazo da varejista seguiam positivas, com a empresa entregando bons resultados mesmo com desafios macro e a reestruturação da Hering. A companhia enfrentou uma “tempestade perfeita” no terceiro trimestre, diz o Santander, com temores de desaceleração nas vendas, pressão nas margens e riscos ficais, o que acabou pressionando as ações.

Os papéis do Grupo Soma são negociados a 11 vezes o preço-lucro, múltiplos descontados na visão do banco, deixando atrativos já que o pior cenário possível foi precificado.

O JPMorgan, por sua vez, manteve recomendação neutra e reduziu preço-alvo de R$ 11 para R$ 6,50 para as ações do Grupo Soma, tendo em vista que a perspectiva de crescimento de longo prazo é incerta, enquanto a qualidade dos lucros é a mais fraca em relação aos pares.

A equipe de research do banco também destaca que Soma tem a pior qualidade de lucros entre as empresas avaliadas, uma vez que possui a maior exposição aos incentivos fiscais do ICMS. Além disso, a recuperação da Hering não está desbloqueando tanto crescimento quanto inicialmente esperado (além das adversidades macroeconômicas).

Cautela com alguns papéis do setor

Enquanto algumas ações são vistas como oportunidades pelos analistas em relatórios recentes, outras ainda são alvo de cautela por parte do sell-side, com os analistas também de olho na temporada de resultados do terceiro trimestre que se aproxima.

Na véspera, os analistas do Citi reiteraram recomendação “neutra” para os ativos ALPA4 e cortaram o preço-alvo da ação de R$ 10 para R$ 8,70, conforme relatório, no qual estimam que o balanço do terceiro trimestre ainda mostrará um período difícil para a dona da Havaianas.

“Nós esperamos mais um trimestre de queda considerável de volume no Brasil e no exterior, embora com alguma recuperação sequencial de margem”, afirmaram João Pedro Soares e Felipe Reboredo, acrescentando que também revisaram projeções para o lucro em 2024 enxergando um cenário mais desafiador.

Na semana passada, o JPMorgan havia mantido recomendação neutra para ações da Alpargatas, com leve redução do preço-alvo de R$ 9 para R$ 8,50.

Na avaliação do banco, a marca Havaianas ainda possui ótimas oportunidades nos mercados internacionais, enquanto seu negócio local deve ser uma “galinha dos ovos de ouro” para sustentar suas ambições internacionais, ainda com oportunidades para melhorar sua posição e ir além das sandálias.

Após várias mudanças de gestão (e de acionista controlador) ao longo dos últimos 10 anos, o JPMorgan vê a empresa voltando ao básico antes de aspirar a voos mais altos. Contudo, o ajuste nos processos internos para apoiar uma melhor execução de longo prazo provavelmente afetará os resultados nos próximos 12 a 24 meses, ao mesmo tempo em que limita a visibilidade futura, já que as questões do passado recente têm potencial para ter impactos mais duradouros nas relações da empresa com clientes-chave, especialmente nos mercados internacionais, avalia.

Analistas também se mostram mais reticentes com as ações de e-commerce. O Goldman cortou o preço-alvo para as ações de Magazine Luiza (MGLU3) de R$ 4,10 para R$ 2,90 e manteve recomendação neutra para os papéis.

O Itaú BBA também possui recomendação equivalente à neutra para os ativos, com target de R$ 3. Em relatório com prévias de balanços, apontou esperar que o Magalu provavelmente mostrará números mais fracos, com um aumento de 2,5% nas vendas brutas online (GMV) online em relação ao ano anterior (impulsionado pelo 3P, ou marketplace) e uma queda de 0,2 ponto percentual na margem Ebitda em um ano, apesar da base de comparação fácil”, avalia o banco. O Magalu tem resultados previstos a serem divulgados no dia 13 de novembro.

(com Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.