Ações da Natura (NTCO3) desabam 17,5% com resultado fraco e sem novidades sobre venda da Aesop

Balanço da companhia de cosméticos foi impactado pelo cenário macroeconômico mais adverso, com perda de receita e pressão nas margens

Lara Rizério

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Aa ações da Natura &Co  (NTCO3) têm mais uma sessão de forte queda após a divulgação de seus resultados. Desta vez, no quarto trimestre de 2022 (4T22), a companhia apresentou prejuízo líquido de R$ 890,4 milhões no quarto trimestre de 2022 e reverteu, assim, o lucro líquido de R$ 695,5 milhões registrado no último trimestre de 2021. Os ativos NTCO3 fecharam a sessão desta terça-feira (14) em queda de 17,49%, a R$ 12,22.

Além do balanço, a XP ressalta que não houve anúncio sobre a venda da Aesop, o que também pode ter decepcionado o mercado.

Sobre esse assunto, na teleconferência de resultados, realizada também na manhã desta terça, os executivos da Natura afirmaram que não podiam dar mais informações sobre fora aquilo já noticiado através de fatos relevantes. “Conforme mencionado, em comunicado ao mercado publicado em novembro, a Natura continua avaliando alternativas estratégicas para a Aesop. Manteremos o mercado atualizado assim que tivermos algo concreto para comunicar”, disse Guilherme Castellan, diretor financeiro (CFO) da companhia.

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Segundo a empresa de cosméticos, o resultado do quarto trimestre foi impactado principalmente pelo menor lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) que, por sua vez, sofreu com R$ 383 milhões de “impairment não caixa” (redução de valores contábeis de ativos). Contribuíram ainda para a última linha negativa maiores despesas financeiras líquidas e perdas de operações descontinuadas.

O Ebitda ajustado foi de R$ 1,095 bilhão, com margem de 10,5%. O resultado é 29% menor do que o do mesmo período de 2021 e teve queda de 2,8 pontos percentuais na margem.

Conforme destaca a Eleven Financial, em seu 4T22, a Natura apresentou novamente um resultado fraco, impactado pelo cenário macroeconômico mais adverso, com perda de receita e pressão nas margens, com todas as marcas apresentando uma dinâmica mais fraca. Como destaque positivo, devido a maior geração de caixa e melhora do capital de giro, a dívida líquida foi reduzida em R$ 1,4 bilhão.

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Com uma dinâmica mais fraca de vendas, a receita líquida consolidada atingiu R$ 10,4 bilhões (-10,8% na base anual), ficando em linha com as expectativas da Eleven. Já analisando a performance por negócio, a receita da Natura&Co Latam apresentou uma queda de 3,2% na base anual, e, apesar da boa performance de vendas da Natura Brasil (+18% ao ano), foi impactada negativamente pelo desempenho fraco nos demais países, com a  receita da Avon caindo 11,2% ao ano. A The Body Shop apresentou novamente um trimestre difícil, com queda de 20,6% na receita, enquanto a Aesop manteve um bom ritmo de crescimento (+18% ao ano em moeda constante), apesar da queda de 2,1% em reais.

Os executivos da Natura mencionaram que o quarto trimestre foi impactado, principalmente, pelos resultados negativos registrados na Argentina e no Peru – que parecem já estarem sendo minimizadas.

“Dificuldades no primeiro trimestre parecem ser menores do que no quarto trimestre do ano passado. Natura, por exemplo, teve menos problemas na Argentina e Peru. Na Avon, toda reestruturação que estamos fazendo, apesar do problema da receita, está melhorando nossa geração de caixa”, explicou o CFO na teleconferência.

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No operacional, o Ebitda ajustado caiu 29%, com margem de 10,5% (-2,7 pontos ao ano), impactado pela maior pressão nos custos da Natura&Co Latam, Avon Internacional e The Body Shop, apesar da maior eficiência nas despesas da holding (-23,1% ao ano).

“A Natura novamente apresentou resultados fracos e com a demanda impactada pela piora do cenário macroeconômico, apesar de algumas melhorias na operação. Diante da conjuntura atual, ainda enxergamos um curto prazo desafiador para a companhia em termos de vendas e custo, além do trabalho de reestruturação da holding e integração com a Avon”, apontaram os analistas. Dessa forma, a Eleven manteve  recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 20,00 para os ativos.

A XP também avalia que a empresa de cosméticos divulgou resultados mais fracos no 4T22, com o Ebitda ajustado 20% abaixo de suas estimativas, principalmente devido a dinâmicas mais fracas na América Latina, enquanto o impairment  pressionou o lucro líquido.

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“Além disso, nenhum anúncio quanto a venda da Aesop foi realizado, com a companhia dizendo que continua a analisar alternativas estratégicas para o ativo, o que acreditamos que possa desapontar o mercado”, apontam os analistas da XP.

Maior rentabilidade no radar

Os executivos da companhia de cosméticos disseram, em teleconferência de resultados, que esperam alcançar uma maior rentabilidade em 2023 após os ajustes realizados em 2022. A companhia, já há algum tempo, vem passando por uma reestruturação de suas operações.

“Quero reforçar minha confiança total em nossa jornada para recuperação da lucratividade”, afirmou o diretor executivo (CEO), Fábio Barbosa.

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Castellan definiu 2022 como um ano desafiador e mencionou que a gestão esta focada na estabilização do top line [receita] e na implementação de iniciativas de redução de custos para oferecer expansão de margem e geração de caixa.

“Medidas rigorosas de contenção de custos para gerenciar os níveis de pessoal e gastos discricionários foram complementadas no trimestre pela primeira fase de reduções de custos estruturais, incluindo o redimensionamento da estrutura de despesas gerais da The Body Shop at Home, reduções na liderança e transformação de TI”, explicou o CFO.

“A reestruturação do negócio continua, e no início de 2023, administração anunciou várias medidas adicionais para melhorar rentabilidade a longo prazo. Isso inclui o anúncio em janeiro do fechamento do negócio At Home nos EUA e do dedicado centro de distribuição no Reino Unido”, complementou.

A XP destaca que a Natura forneceu alguns indicativos do que fará neste ano: i) os executivos se mantêm focados na geração de caixa e estrutura de capital, com espaço para melhora do capital de giro e impostos, bem como capex; ii) custos de integração com a Onda 2 devem ser parcialmente compensados por desinvestimentos de ativos na América Latina; iii) A companhia continua avaliando alternativas estratégicas para a Aesop, destacando que a venda de uma participação é uma possibilidade; iv) operações da TBS at Home nos EUA foram encerradas, bem como iniciativas de redução de despesas; e v) a empresa está otimizando as geografias da Avon Internacional, com a saída de países não rentáveis e simplificação dos mercados europeus.

O Bradesco BBI, por sua vez, avalia ter visão “mista” sobre os resultados. “Do lado positivo, ficamos surpresos ao ver à divisão de LatAm, TBS e Aesop com sólido crescimento e uma forte recuperação na lucratividade para TBS e Aesop. No entanto, a queda da margem Ebitda da Natura & Co LatAm para 8,9% preocupa”, avaliam os analistas. A empresa registrou uma margem histórica relativamente menor no 4T, apesar do crescimento de 10,6% em moeda constante.

O banco também cita que a direção da Natura indicou que ainda está avaliando alternativas estratégicas para a Aesop e a possibilidade de venda de participação foi destacada no comunicado dos resultados. Atualmente, o valor total da receita bruta é de R$ 13,4 bilhões e o fluxo de notícias recente apontou para uma avaliação da Aesop de pelo menos US$ 2,0 bilhões (R$ 10,4 bilhões), o que poderia melhorar substancialmente o atual alto nível de dívida líquida em 3,5 vezes (dívida líquida /Ebitda incluindo IFRS-16). Por enquanto, os analistas do BBI mantêm preço-alvo de R$ 15,00 ao final de 2023 e recomendação de compra.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.