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2021 foi um ano marcado por um grande número de estreias na Bolsa de valores brasileira. Os juros baixos levaram investidores a buscarem ativos de risco em suas alocações de capital e diversas companhias aproveitaram o momento para fazerem suas ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês). Poucas delas, porém, se valorizaram de lá para cá.
Das 42 empresas que estrearam na B3 no ano passado, apenas sete tiveram performance positiva em 2022 e, dentre as quedas, várias registraram quedas consideráveis. O destaque positivo ficou com a PetroReconcavo, de petróleo, com avanço de mais de 70%, enquanto a empresa de soluções digitais Infracommerce (IFCM3) registrou a maior queda do período, superior a 80% (confira o desempenho em tabela no final da matéria).
Os últimos doze meses foram ruins principalmente para as empresas menores, e, em grande parte, o grupo de companhias estreantes na Bolsa foi composto pelas chamadas small caps, com valor de mercado entre R$ 300 milhões e R$ 2 bilhões. Das 42 estreantes, apenas 15 não são companhias desse grupo e entre as sete que ficaram no verde, somente quatro são small caps.
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“Small Caps realmente estão em uma mínima histórica na relação com o Ibovespa. Se olhar um gráfico do BOVA11 contra o SMALL11, verá claramente isso”, comenta Max Bohm, analista e gestor de ações especialista em small caps.
Segundo ele, um dos principais motivos que justificam essa diferença entre Ibovespa e o índice de small caps, e também para com as companhias estreantes, é que em 2022 a Bolsa brasileira recebeu um considerável fluxo de capital estrangeiro. “Tivemos, principalmente, capital estrangeiro entrando ao longo do ano na Bolsa brasileira. E os gringos costumam entrar em ações mais líquidas, nas blue chips, com as small caps ficando em segundo plano”, contextualiza.
Outro importante agente na performance das ações novatas, no cenário macroeconômico, foi a alta dos juros. A Selic saiu do patamar de 2% em março de 2021 para fechar 2022 em 13,75% – e com algumas chances de ir além altas por conta do risco fiscal.
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“Se o custo de capital aumenta, com os juros elevados, as companhias menores sofrem para crescer. Assim, os valuations acabam sendo comprimidos”, explica Bohm. “A partir do momento em que o novo governo traz incertezas, principalmente quanto à equipe econômica e à âncora fiscal, os juros tendem a ficar altos por mais tempo. Isso deve acabar pressionando ainda mais as small caps. Essas empresas só vão se recuperar quando tivermos, no horizonte, a perspectiva de que as taxas irão ceder”.
Em parte, é também essa explicação que mantêm os gringos longe das companhias menores. A liquidez, buscada por eles, é um remédio contra incertezas: no caso de o Brasil “desandar”, as blue chips oferecem uma saída rápida do país.
Werner Roger, gestor da Trígono Capital, vai no mesmo sentido.
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“Várias das companhias estreantes se definem ainda como empresas de tecnologia. Esse setor, geralmente, conta com múltiplos altos e com grandes expectativas de crescimento”, pontua. “Quando temos uma taxa de juros maior, no entanto, essas empresas não crescem tanto, com a economia do país travada no geral”.
Werner destaca ainda que há a questão do fluxo de caixa descontado. com a taxa de juros pesando progressivamente sobre a linha inferior das companhias. “Quando fazemos avaliação do fluxo de caixa descontado, temos uma taxa mais elevada. Se o desconto de uma empresa é 12% hoje, quando fazemos um desconto levando em conta o juros no futuro, ele fica maior”, defende.
Além disso, existe também efeito de que companhias menores, normalmente, têm operações mais alavancadas, captando mais dívidas para crescer – o que, em um momento de taxa de juros alta, pesa no balanço.
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“Há ainda o peso das empresas que se endividaram para crescer, sendo isso o pior de tudo. Compraram companhias que não trarão retorno imediatamente. A despesa financeira corrói a companhia original e se transforma em prejuízo”, debate Werner.
Com tudo isso, várias das companhias que estrearam na Bolsa brasileira não conseguiram, até então, cumprir o que foi prometido nos seus prospectos de IPO.
“Sem histórico nenhum em M&As (fusões e aquisições), essas empresas saem fazendo aquisições e cerca de 90% das compras resultam em destruição de valor para os acionistas”, comenta o gestor da Trígono. “Tiram dinheiro de IPOs, tiram dinheiro de debêntures e fazem aquisições. Agora, estão com dívidas altas, ou pouco caixa, as compras não trouxeram os resultados desejados. Por isso não gostamos dessa história de pegar dinheiro para aquisições”.
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Por fim, Werner Roger defende que várias das companhias que estrearam em 2021 na Bolsa brasileira vieram com valuations muito esticados – em grande parte por conta de uma excitação anormal do mercado brasileiro em meio ao juros mais baixo visto em 2021.
“Essas empresas que fizeram IPOs vieram a preços absurdos. Os bancos trabalham para as empresas, elas que contratam os coordenadores da oferta, não para os investidores. Esse é o primeiro ponto importante”, explica. “Boa parte dessas companhias ainda são de pseudo tecnologia. Eles se venderam como empresas tech, mas não são. O mercado, contudo, paga múltiplos de companhias de tecnologia. É um problema de entendimento”.
Mas é claro que existem exceções e essas, para os gestores, são ligadas principalmente a uma boa gerência.
“A PetroReconcavo foi uma das poucas companhias que compramos no IPO, mas é uma história totalmente diferente. É de petróleo, com mais de 20 anos de existência e bem sucedida”, explica o gestor. As ações da petroleira se beneficiaram da visão positiva para o petróleo, além de também serem impactadas com a rotação de investidores da Petrobras (PETR3;PETR4) para outras companhias do setor, com maior cautela do mercado para a estatal em meio aos riscos políticos.
“CBA CBAV3), apesar de ter recuado recentemente[alumínio] por conta do preço do produto que vende, também é mais antiga, com ligações com a Votorantim”, complementa o gestor da Trígono.
Roger ainda pondera sobre o investimento em empresas durante aberturas de capital. “Sou crítico de entrar em uma ação em IPOs e nunca investi neles. É só depois de um tempo que conseguimos avaliar como funciona a governança e a companhia funciona: sua relação com minoritários, como são os conselheiros, e por aí vai. No IPO, não há como avaliar nada disso”.
Max Bohm, entre as empresas estreantes que ficaram no verde, destaca o resultado que a Intelbras (INTB3), que vem, segundo ele, apresentando bons resultados por conta de sua gestão – e isso apesar do cenário econômico.
Infracommerce, o destaque de baixa na Bolsa, por sua vez, foi impactada por um plano de incentivo a executivos da plataforma de comércio eletrônico que não animou o mercado, além da forte queda de ações do setor.
Confira a performance das companhias que fizeram IPO em 2021 no acumulado deste ano (até o fechamento de 21 de dezembro):
Empresa | Ticker | Desempenho |
Infracommerce | IFCM3 | -83,10% |
G2D Investments | G2DI33 | -65,48% |
Espaçolaser | ESPA3 | -83,24% |
Kora Saúde | KRSA3 | -80,81% |
Westwing | WEST3 | -68,15% |
Allied | ALLD3 | -66,86% |
Livetech | LVTC3 | -65,80% |
Nubank | NUBR33 | -63,98% |
TC | TRAD3 | -59,93% |
Multi (ex-Multilaser) | MLAS3 | -57,97% |
Dotz | DOTZ3 | -55,56% |
Armac | ARML3 | -54,89% |
Banco Modal | MODL3 | -51,45% |
Desktop | DESK3 | -47,29% |
Cruzeiro do Sul | CSED3 | -46,44% |
HBR Realty | HBRE3 | -46% |
CSN Mineração | CMIN3 | -45,40% |
GetNinjas | NINJ3 | -42,64% |
Raízen | RAIZ4 | -42,26% |
Oncoclinicas | ONCO3 | -41% |
Unifique | FIQE3 | -37,93% |
ClearSale | CLSA3 | -36,55% |
Brisanet | BRIT3 | -35,90% |
Boa Safra | SOJA3 | -35,23% |
GPS Participações | GGPS3 | -26,46% |
Jalles | JALL3 | -24,88% |
Blau Farmacêutica | BLAU3 | -21,75% |
CBA | CBAV3 | -21,04% |
Agrogalaxy | AGXY3 | -18,15% |
Smart Fit | SMTF3 | -15,97% |
BR Properties | BRPR3 | -13,56% |
Vittia | VITT3 | -9,16% |
CM Hospitalar | VVEO3 | -4,97% |
Tres Tentos | TTEN3 | -2,29% |
Oceanpact | OPCT3 | -0,34% |
Bemobi | BMOB3 | 0% |
Caixa Seguridade | CXSE3 | +0,62% |
Eletromidia | ELMD3 | +7% |
Vamos | VAMO3 | +8% |
Intelbras | INTB3 | +9,90% |
Orizon | ORVR3 | +38,18% |
PetroReconcavo | RECV3 | +71,44% |
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