Acertando no timing de mercado, Gordon Gekko volta no novo filme “Wall Street”

Com a recuperação ainda em dúvida, filme recria crise dos subprimes, com direito a quebra do Lehman e reuniões do Fed

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Poucas pessoas conseguem acertar o timing dos mercados – a melhor e a pior hora de realizar um negócio, de entrar e sair numa ação. O diretor de cinema Oliver Stone é, aparentemente, uma delas – não no sentido mais literal, de compra e venda de ativos, mas no momento escolhido para o lançamento de “Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme”.

A continuação de “Wall Street – Poder e Cobiça”, de 1987, chega aos cinemas em uma hora em que os Estados Unidos ainda se recuperam da crise dos subprimes, em que os mercados – e os cidadãos de maneira geral – ainda seguem receosos com a recuperação da economia e com o que exatamente é feito nos principais centros financeiros do mundo. No Brasil, a estreia é esperada para a próxima sexta-feira (24).

De insider trader a Dr. Apocalipse
No novo filme, que se passa em 2008, pouco antes da crise do subprime vir à tona, Gordon Gekko – personagem baseado em Ivan Boesky – já não é mais um insider trader. Tampouco emergiu de seus oito anos de prisão um homem reformado. Ele se transformou em uma versão de Nouriel Roubini, o Dr. Apocalipse. “The ultimate bear” (o mais pessimista), diz um personagem. 

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Agora autor de livros sobre o mercado financeiro voltados ao grande público, ele discursa para universitários sobre o perigo do incentivo desenfreado ao consumo nos EUA, sobre a forte participação de operações financeiras nos resultados corporativos e, principalmente, sobre o perigo da multiplicação das hipotecas. “Eu dizia que a ganância era boa; e agora ela também é legalizada” e “a especulação é a mãe de todos os males” são algumas das falas da antiga estrela do Wall Street fictício.

Lehman, Fed e os “too big to fail”
O filme traz uma reconstituição do que ocorreu nos mercados antes da quebra do Lehman Brothers – que ganha um paralelo na ficção, com direito à reunião do Federal Reserve que decidiu não resgatar o banco da falência. Na versão de Oliver Stone, a quebra de uma grande empresa de investimentos é baseada não somente nos títulos podres, mas também em uma jogada de outro player do mercado, movida à vingança de uma bolha anterior.

O desenvolvimento da crise – com o recuo dos índices, o início dos defaults nas hipotecas e o resgate do Fed às instituições “too big too fail” (aqui, justificada pelo argumento de que, sem o socorro, “O mundo vai acabar. Como em 1929, mas mais rápido”) – tem seus efeitos nos dramas individuais dos personagens que dão corpo ao filme, especialmente no futuro genro de Gekko, o trader Jacob Moore. Assim como Bud Fox no primeiro filme, Moore aprende que o mundo dos investimentos não é tão sólido e fácil quanto parece. Já a Gekko resta apontar os gráficos do Dow Jones e FTSE100 e dizer “eu avisei” – além de um drama pessoal sem muitas ligações com os mercados.

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Para quem acompanha de perto o mercado financeiro, é fácil identificar alguns personagens e situações, ligando-os com suas versões na vida real. Há, inclusive, aparições de personalidades do meio, como Warren Buffett, que aparece falando sobre a crise em um programa de TV. Já para quem não conhece Wall Street, apesar do ritmo acelerado, as explicações sobre subprimes, sobre como a crise se espalhou e se tornou sistêmica, e sobre o próprio funcionamento do mercado são simples.

Bolhas, bolhas, bolhas
Outro ponto abordado é o efeito de rumores, que são começados por um simples e-mail e por mero interesse pessoal. A repercussão de um rumor na mídia e nas casas de investimento ajuda a mostrar que, muitas vezes, não há justificativa palpável para o movimento de uma ação, e que os insider traders – tema do filme original – ainda agem abertamente no mercado.

As bolhas – da internet, do mercado imobiliário e, no futuro, de acordo com o filme, da energia verde – também ganham bastante espaço. Vale dizer que, ao estilo do real Dr. Apocalipse, Gekko diz que a bolha do subprime ainda não é a maior delas.

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Ao recriar – ou dramatizar – as situações reais, Oliver Stone oferece ao espectador uma oportunidade de satisfazer sua curiosidade sobre como foi, ou pode ter sido, o colapso dos mercados financeiros, da perspectiva dos próprios responsáveis pela quebra. Com a recuperação da economia em dúvida, o Fed no foco do noticiário e os temores de um double-dip à frente, o timing não poderia ser melhor.

 

Fonte imagem: divulgação Fox 

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