Ação da Marfrig (MRFG3) fecha em alta, mesmo após resultado pressionado por América do Norte; executivos esperam melhora em 2023

Divisão América do Norte apresentou uma contração de margem Ebitda no ​​trimestre, devido à redução de preços, aliada ao aumento do custo do gado

Felipe Moreira Vitor Azevedo

Frigoríficos _ Marfrig Divulgação-min
Frigoríficos _ Marfrig Divulgação-min

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A Marfrig (MRFG3) divulgou na noite desta quarta-feira (1) seus números referentes ao quarto trimestre de 2022, que foram considerados pouco empolgantes pelos analistas de mercado e levaram a uma abertura bastante negativa para os ativos da companhia nesta quinta-feira (2).

Durante a manhã, os papéis chegaram a ter queda máxima de 6,85%, a R$ 6,12, mas fecharam com alta de 1,22%, a R$ 6,65.

Os números foram ligeiramente negativos segundo o Itaú BBA, destacando o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) 8% abaixo de suas estimativas, impactado pela contração das margens com a normalização do ciclo do gado nos Estados Unidos.

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“A divisão América do Norte apresentou uma contração de margem Ebitda (Ebitda sobre receita) de 17,6 pontos percentuais no ​​trimestre (para 4,7%, abaixo das projeções do banco), devido à redução de preços, aliada ao aumento do custo do gado devido à desaceleração do ciclo nos Estados Unidos”, explicam analistas.

Em teleconferência realizada nesta quinta, os executivos da companhia afirmaram que há uma mudança de ciclo de gado nos EUA – mas comentaram que ficaram positivamente surpresos pela demanda no país, que ajudou a melhorar um pouco o cenário.

Enquanto isso, a América do Sul registrou sólidas melhorias em suas margens na comparação ano a ano devido a bases comparações mais fáceis, embora uma redução nos preços de exportação tenha levado a uma queda das estimativas de receita, já a margem Ebitda de 8,0% veio em linha com as projeções do banco. O Itaú BBA optou por manter avaliação market perform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) e preço-alvo de R$ 8.

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A XP Investimentos aponta que os resultados da Marfrig vieram em linha com suas estimativas, com margem Ebitda ajustada nos EUA caindo mais forte que o esperado e na América do Sul menor que o concorrente mais próximo, estabelecendo uma perspectiva negativa se essa tendência continuar.

“Mesmo acrescentando BRF ao seu resultado, não foi suficiente para compensar a piora nos EUA. E, com uma perspectiva desafiadora para carne bovina e de frango no curto prazo enxergamos uma tempestade perfeita se formando”, comenta XP, em relatório.

Os resultados da Marfrig tornaram-se muito correlacionados com sua operação nos Estados Unidos, aponta, de modo que margens de um único dígito poderiam levar a alavancagem da empresa a um nível ainda mais desconfortável. “No entanto, inúmeras incertezas pairam no setor de carnes (gripe aviária, vaca-louca atípica) e se somam a um ambiente macro já desafiador, então esperamos mais detalhes na teleconferência da empresa para sanar nossas dúvidas.”

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Na mesma linha que o BBA, a equipe de research do Bradesco BBI destacou o Ebitda abaixo do previsto, devido às margens de carne bovina dos EUA abaixo do esperado, que chegaram a 4,7%, abaixo das expectativas de 5,0-5,5%, enquanto a margem Ebitda de 8% na América do Sul veio amplamente alinhada com o consenso de mercado.

Analistas do BBI apontaram já terem previsto que as margens da carne bovina nos EUA recuariam mais rapidamente do que o consenso de mercado esperava em 2022, uma vez que a menor oferta de gado levaria a custos mais altos e menos interrupções no fornecimento limitariam os preços da carne bovina, o que explicou o rebaixamento da Marfrig para neutra em dezembro de 2021.

Diante disso, o BBI está monitorando possíveis reduções no abate da indústria de carne bovina dos EUA, que poderiam melhorar as margens a partir da redução da oferta, e/ou melhores condições climáticas que poderiam melhorar as pastagens para o gado, resultando em custos mais baixos para os pecuaristas nos EUA.

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As ações da Marfrig estão sendo negociadas a um múltiplo de valor da empresa sobre Ebitda, ou EV/Ebitda, (ex-BRF) de 4,2 vezes, amplamente em linha com a média histórica, sustentando assim a recomendação neutra e preço-alvo de R$ 18.

A Genial Investimentos comentou que esperava um trimestre fraco para a Marfrig, um pouco acima das expectativas do mercado, e refletindo, com maior clareza do que no 3T22, o final do ciclo do gado nos EUA. E isto foi de fato o que ocorreu, com a companhia reportando margens bem mais apertadas. O resultado consolidado veio abaixo do esperado pelos analistas da Genial, devido aos efeitos da consolidação dos resultados da BRF, porém, os números ex-BRF vieram bem em linha com as estimativas, e assim, sem novidades.

Dado o momento em que o ciclo do gado se encontra na América do Norte (resultados da companhia são altamente dependentes dessa região) e o momento desfavorável que a BRF atravessa (a qual é controlada pela Marfrig), a casa de análise está conservadora com a companhia, e manteve recomendação de neutra e preço-alvo de R$ 10,00 para ações do frigorifico.

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Para JPMorgan, a Marfrig também reportou números operacionais abaixo do esperado, com Ebitda 25% abaixo das suas projeções. “O principal impulsionador foi o aumento dos preços do gado, combinado com redução dos preços dos subprodutos.”

De positivo, segundo JPMorgan, foi o fluxo de caixa livre (FCF) de R$ 757 milhões, beneficiados por uma redução de capital de giro de R$ 1 bilhão (principalmente em dias melhores de contas a receber).

Em reunião com analistas, Tim Klein, diretor financeiro (CFO) da Marfrig, afirmou que a empresa espera margens melhores em 2023, apesar do momento do ciclo do gado nos Estados Unidos.

“Em 2023 vemos margens melhores… Não há nada no nosso horizonte que nos preocupe para frente, considerando o ciclo do gado e expectativas de oferta para os próximos meses do ano”, afirmou o executivo, citando que também houve uma melhora recente da demanda no varejo americano.

Também entre as causas do otimismo, está a reabertura da China e a busca por sinergias com a BRF (BRFS3).

“A China está com uma demanda crescente após a reabertura, tudo indica que acima das expectativas estipuladas, e o Brasil é o único país que consegue bancar essa procura”, comentou Marcos Molina, diretor executivo (CEO). “A situação da suspensão das vendas não preocupa. É preciso contextualizar. É um caso isolado. Vaca louca atípica, sem risco à cadeia e ao rebanho. Seguimos protocolo e isso já foi reconhecido”.

Para a BRF, a Marfrig, de acordo com os diretores, pretende continuar buscando sinergias, principalmente logísticas e comerciais.

“O primeiro trimestre geralmente é o pior do ano, mas este tem se estabelecido de uma forma diferente. Não vai ser melhor do que o primeiro trimestre do ano passado. O que está acontecendo, que me deixa feliz, é a demanda. A demanda está melhor do que em 2022 e creio que fará que a indústria opere com margens melhores”, finaliza Klein.

(com Reuters)

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