A janela de oportunidade que foi criada para a Embraer em meio à pandemia de coronavírus

Pandemia reforçou no mercado o espaço para os aviões de menor porte, segmento em que a brasileira tem forte presença global

Estadão Conteúdo

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Nem tudo envolvendo a covid-19 é ruim para a Embraer (EMBR3). A empresa, que corre contra o tempo para ajustar suas operações depois do fracasso do negócio com a Boeing, encontrou na pandemia uma janela de oportunidade.

A avaliação dos executivos da empresa, em linha com a análise de especialistas, é de que a pandemia reforçou no mercado o espaço para os aviões de menor porte, segmento em que a brasileira tem forte presença global.

De acordo com o Diretor de Engenharia de Vendas da divisão de jatos executivos da Embraer, Ricardo Carvalhal, os clientes estão até sondando a empresa para antecipar entregas.

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“Nossos clientes continuam comprometidos. Alguns estão consultando a gente para receber seus aviões antes do prazo. Não tivemos cancelamentos no setor de jatos executivos, apenas algumas postergações”, destacou Carvalhal. Executivos da Embraer participaram de um painel sobre a empresa brasileira no Salão Aeronáutico de Farnborough, nesta terça-feira. Tradicional no setor no Reino Unido, o evento está sendo tocado de forma online por causa da covid-19.

Com a demanda por voos internacionais perto de 2% do que era antes da pandemia, fabricantes como Boeing e Airbus enfrentam uma grave crise. A Embraer, entretanto, conseguiu encontrar um espaço no mercado, segundo o chefe de marketing e estratégia da divisão comercial da empresa, Rodrigo Silva e Souza.

Na apresentação, Souza apontou que os jatos menores se mostraram mais resilientes nos Estados Unidos durante a crise. “Isso aconteceu também depois da crise financeira. Vemos que o segmento de aviões menores é mais usado e tem recuperação mais consistente”, disse.

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A recuperação do setor aéreo depois da pandemia começou a acontecer no transporte regional, sobretudo na Europa e China, com o declínio da curva de novos casos de coronavírus. Souza defendeu que a regionalização do transporte aéreo será uma tendência importante para os próximos anos. “Um mercado doméstico mais conectado tende a emergir depois da crise. Vemos uma queda nos níveis de crescimento das empresas aéreas. Com a indústria se tornando menor, as empresas vão ter de procurar ganhar market share e se tornar mais eficientes”, disse.

Souza trouxe números do E-Jets em algumas empresas durante a crise. A KLM, por exemplo, usava 80% dos seus E-Jets no fim de abril de 2020 contra 14% dos Boeing 737-NG. Em junho, o porcentual de uso do modelo da Embraer foi para 98% contra 29% do 737. Na Japan Airlines, o cenário é parecido, com uso dos E-Jets em 97% em abril e 71% dos 737-NG, indo para 100% e 81%, respectivamente, em junho.

“O impacto no E-Jet é muito menor. Esses números sugerem para nós que os aviões menores vão ser considerados chave para qualquer crise que chegar ao setor. Sabemos que estamos em um setor cíclico e em breve vamos ver outras crises. Esperamos que não tão graves”, disse.

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O otimismo, entretanto, não tira o sinal de alerta. A Embraer encerrou o segundo trimestre com a entrega de 17 jatos, sendo quatro comerciais e 13 executivos (9 leves e 4 grandes). A carteira de pedidos firmes a entregar (backlog) ao final de junho somava US$ 15,4 bilhões. Na segunda-feira, a empresa atribuiu a menor entrega de aviões comerciais e jatos executivos no segundo trimestre à pandemia. Em igual período do ano passado, a empresa anunciou 51 jatos e backlog de US$ 16,9 bilhões.

Segundo dados da Agência Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), a crise ainda é grave. A demanda do setor (medida em receita por passageiros/km, ou RPK) caiu 91,3% em maio na comparação com igual período do ano passado. Em abril, entretanto, a queda havia sido ainda maior, de 94% na comparação anual.

Segregando apenas o mercado doméstico, a demanda recuou 79,2% em maio na comparação anual. Em abril, o declínio anual foi de 86,2%. O número reforça a sinalização de retomada do setor via mercado doméstico.

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Com a demanda internacional no chão, as gigantes tiveram de se movimentar. Também no evento, o presidente da Airbus, Guillaume Faury, desenhou um cenário de dificuldade para a definição de investimentos. De um lado, segundo o executivo, há uma sinalização de necessidade de menores aportes por causa do grave impacto da covid-19 sobre a aviação comercial. Por outro lado, o segmento tem sido muito pressionado a poluir menos, algo que demanda robusto aporte em tecnologia para se atingir a meta de emissão zero de carbono até 2050.

Segundo o executivo, a Airbus não pode apenas esperar o cenário melhorar. “Temos de tomar as decisões corretas. Para adaptar a companhia a esse novo cenário”, destacou. Ainda conforme Guillaume Faury, a empresa terá de absorver o impacto da pandemia no curto prazo para chegar novamente a um ponto de estabilidade. A missão, entretanto, não será fácil e Faury disse que o grupo pode até ter de retroceder uma década em termos de tamanho para atravessar a crise.

Em outro painel, o vice-presidente da Boeing, Mike Delaney, saiu em defesa do setor aéreo e pediu mais atenção por parte dos governos no mundo. “Legisladores precisam entender que aviões não transmitem doenças”, disse, citando ferramentas de segurança nas aeronaves que as tornam um meio de transporte seguro durante a pandemia. A fala vem na esteira de graves restrições ao tráfego aéreo em diversos países.

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A programação do Salão Aeronáutico de Farnborough vai até o dia 23. Uma das palestras no cronograma do evento é a do novo presidente da divisão comercial da Embraer, Arjan Meijer, que assumiu o cargo em junho. O mercado aguarda pistas sobre como será o futuro do setor comercial da aérea depois do fracasso do negócio entre a brasileira e a Boeing. O painel com o executivo está programado para este dia 22, às 12 horas, horário de Brasília.

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