Com 100 dias de guerra entre Rússia e Ucrânia, petroleira lidera ganhos da bolsa

Companhias de commodities viram suas margens crescerem enquanto as que consomem esses produtos foram pressionadas

Vitor Azevedo Rodrigo Petry

(Crédito: Shutterstock)
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Sem uma sinalização de que esteja perto de acabar, a guerra entre Rússia e Ucrânia, que completa hoje 100 dias, vem impactando a economia mundial, o que – automaticamente – se reflete nos ativos listados na bolsa de valores. Em especial, os preços das commodities, sejam energéticas, metálicas ou alimentares, dispararam com o conflito.

Em meio a esse cenário, algumas empresas destes segmentos acabaram ganhando destaque em termos de valorização de suas ações, em especial as petroleiras.

Segundo levantamento realizado na plataforma da Economatica, considerando o preço dos papéis no dia anterior ao início do conflito e os do fechamento desta quinta-feira (2), a 3R Petroleum foi a companhia que viu seu valor de mercado se valorizando mais no período de 100 dias, subindo 53,72%.

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“O petróleo começa o ano em US$ 78 e agora está a US$ 120. Com isso, grande parte da alta da 3R Petroleum se dá por conta do avanço do preço da commodity, de quase 50%”, comenta Flavio Conde, head de renda variável da Levante Investimentos.

A Rússia, lembra o gestor, produz cerca de dez milhões de barris por dia e exporta cerca de cinco milhões. “Quando a Europa vira e fala que irá comprar menos petróleo da Rússia, o segundo maior produtor do mundo, há consequências. É necessário buscar esse produto de outros fornecedores”, explica.

Nesta semana, a União Europeia, que já havia anunciado que diminuiria a sua importação do petróleo russo em 1,5 milhão de barris, anunciou outra queda da mesma proporção.

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Para além do problema da oferta, a guerra na Ucrânia se deu de forma concomitante ainda com a retomada econômica após o período mais crítico da pandemia, ou seja, enquanto a demanda estava aumentando.

“80% da alta da 3R, creio, é por conta da alta do petróleo. O restante se deu pois houve uma migração de investidores da Petrobras (PETR3;PETR4) para essa companhia. Investidores viram que a estatal estava demorando para repassar preços e optaram por alocar parte dos investimentos nas juniors do setor de petróleo”, diz.

A PetroRio (PRIO3), outra companhia júnior do setor de petróleo, viu sua ação avançar 15,31% nos últimos 100 dias, também beneficiada pela alta da commodity e pela questão da Petrobras. A própria estatal, mesmo com toda a polêmica de sua política de preços e troca da diretoria, conseguiu acumular alta de quase 9%.

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Outra empresa listada que acabou se beneficiando da Guerra da Ucrânia foi a SLC Agrícola (SLCE3), que figura em quarto lugar entre as maiores altas do Ibovespa.

A companhia é uma grande produtora de soja, milho e algodão, commodities que também dispararam por conta do conflito, uma vez que o país invadido é um dos maiores produtores de grãos do mundo.

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“O algodão está subindo no ano 24%, o milho, 23%, e a soja, 30,09%. Tudo isso em dólar. Tanto a Ucrânia quanto a Rússia são produtores desses produtos agrícolas e, com a guerra, passaram a produzir e a exportar menos”, justifica Conde.

De maneira geral, qualquer pressão em uma commodity agrícola acaba também pressionando as demais, isso porque quando o preço de um alimento salta as pessoas tendem a buscar outras opções.

Confira as 20 ações do Ibovespa que mais subiram nos últimos 100 dias:

Companhia Ticker Alta (em %)
3R Petroleum RRRP3 53,72
Cielo CIEL3 53,12
Minerva BEEF3 47,07
SLC Agricola SLCE3 39,28
Gerdau Met GOAU4 30,81
CPFL Energia CPFE3 29,69
Hypera HYPE3 29,25
Eletrobras ELET6 27,57
Gerdau GGBR4 26,72
Eletrobras ELET3 26,7
JHSF Part JHSF3 24,75
Cemig CMIG4 21,74
Assai ASAI3 20,17
Sabesp SBSP3 17,99
Rumo S.A. RAIL3 16,64
BBSeguridade BBSE3 16,12
Petrorio PRIO3 15,31
Cogna ON COGN3 13,03
Multiplan MULT3 12,64
Bradespar BRAP4 11,37

Valorização da commodity puxa alta das ações de petroleiras:

Companhia Ticker Alta (em %)
3R Petroleum RRRP3 53,72
Enauta Part ENAT3 48,98
Dommo DMMO3 46,24
Petrorecsa RECV3 36,73
PetroRio PRIO3 15,31
Petrobras ON PETR3 8,81
Petrobras PN PETR4 5,93

Do outro lado, companhias dependentes de commodities

Se as empresas que vendem commodities surfaram com a alta dos preços, aumentando margens de lucro, as companhias que utilizam esses produtos em sua cadeias de produção não tiveram a mesma sorte.

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“Até o momento, o maior impacto que temos é nos preços das commodities e as companhias perdedoras são as que têm commodities como custo, como, quem usa grãos para ração”, pontua Pedro Galdi, analista de investimentos da Mirae Asset.

A Marfrig, por exemplo, caiu 25% nos últimos 100 dias, sendo a décima maior queda do Ibovespa do período. A BRF, por sua vez, recuou, 16,5%, sendo a vigésima maior baixa.

A mesma coisa acontece com as companhias aéreas – Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) caem, respectivamente, 31,25% e 21,38%.

“As companhias aéreas são o outro lado da alta do petróleo. 70% dos gastos variáveis de uma empresa do setor são gastos com combustíveis”, explica Conde.

Confira as 20 ações do Ibovespa que mais desvalorizaram nos últimos 100 dias:

Companhia Ticker Queda (em %)
Hapvida HAPV3 -45,37
Banco Inter BIDI11 -42,51
Rede D Or RDOR3 -35,80
Magaz Luiza MGLU3 -35,70
Americanas AMER3 -34,19
Azul AZUL4 -31,25
Locaweb LWSA3 -30,12
Petz PETZ3 -28,47
Qualicorp QUAL3 -27,61
Yduqs Part YDUQ3 -25,61
Marfrig MRFG3 -25,02
Grupo Natura NTCO3 -23,42
Banco Pan BPAN4 -22,17
Embraer EMBR3 -22,12
Meliuz CASH3 -21,86
MRV MRVE3 -21,79
Gol GOLL4 -21,38
Cvc Brasil CVCB3 -17,46
Dexco DXCO3 -17,03
Vibra VBBR3 -16,90

De forma indireta, impacto da guerra da Ucrânia é muito maior

A alta das commodities não pesa somente nos resultados nas companhias, mas acaba gerando efeitos em toda a economia mundial e também na brasileira.

“Há um impacto nos preços ao consumidor, se formos pensar nas commodities alimentícias, e também ao produtor, com os preços do petróleo – o que acaba também respingando na população”, esclarece Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “O choque da guerra ajudou a alimentar uma inflação mais alta, combinado com os estímulos dados por conta da covid-19”.

A alta da inflação é o principal fator que vem levando bancos centrais de todo o mundo a subirem suas taxas de juros, procurando limitar a demanda através do cerceamento do crédito.

Ao se observar ainda as maiores quedas do Ibovespa, muitas empresas são do setor de tecnologia ou ligadas ao consumo de bens . O Banco Inter (BIDI11) viu suas ações caírem 42,5% nos últimos 100 dias. A Magazine Luiza (MGLU3), 35,70%. A Locaweb (LWSA3), 30,12%.

Companhias do setor de tecnologia são, normalmente, mais alavancadas, tendo mais dívidas, e tendem a ter mais gastos com essas quando o juros aumenta. Empresas de varejo, do outro lado, dependem diretamente do acesso mais fácil a crédito para venderem mais.

“A guerra na Ucrânia é um risco global. os bancos centrais terão que conter a inflação crescente e a resposta será com um aumento de juros”, pontua Galdi.

O conflito no leste europeu não é o único fator que leva a alta dos juros, mas é parte da explicação e é também parte daquilo que pesa sobre várias companhias brasileiras.

Do lado positivo, analistas veem que o Brasil, por ter iniciado seu ciclo de altas mais cedo, pode sofrer menos impacto – apesar de ele já ter se estendido levemente na comparação com as projeções do passado. “No caso do Brasil, que começou a aumentar os juros antes dos outros países, o lado positivo é que a tendência é que talvez não sejam necessárias manobras mais ousadas”, finaliza Galdi.

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