Trajetória da dívida dos EUA é preocupante para a liquidez global, diz Campos Neto

Para presidente do BC empresas dos EUA remunerando investidores em 8% ao ano por títulos de dívida também retiram dinheiro de outros lugares

Reuters

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. (Foto: André Ressel/BCB)
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. (Foto: André Ressel/BCB)

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(Reuters) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (17) que as projeções sobre a trajetória da dívida dos Estados Unidos são bastante preocupantes, uma vez que seu aumento tende a reduzir a liquidez no mundo.

“Quando a gente faz a projeção sobre onde dívida dos EUA vai parar, é bastante preocupante, isso significa tirar um montante de liquidez do mundo bastante grande para poder rolar essa dívida”, disse, durante live organizada pelos jornais O Globo e Valor Econômico.

Campos Neto disse ainda que o fato de empresas sólidas norte-americanas estarem remunerando investidores em 8% ao ano por títulos de dívida também acaba retirando dinheiro de outros lugares do mundo.

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Apesar desse ambiente, Campos Neto afirmou que países emergentes apresentaram “reação surpreendente” até agora, ressaltando que a remuneração dos títulos dos EUA “colou” na dos países em desenvolvimento. Ele ponderou que é preciso observar se esse cenário vai se manter.

Na avaliação de Campos Neto, o diferencial de juros entre Brasil e grandes economias “ainda tem espaço”, argumentando que não é a queda da taxa Selic que vai gerar reversão no movimento de apreciação da taxa de câmbio visto este ano. Para ele, o câmbio no Brasil tem se comportado bem.

Na apresentação, Campos Neto mencionou cenário global desafiador para que haja um ritmo mais forte de redução da inflação, citando como fatores conflitos militares que afetam commodities – apesar de relativo controle na cotação do petróleo– e desastres naturais gerando maior flutuação de preços.

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“É impressionante quando a gente olha os gastos projetados para a mudança climática. E talvez essa seja nossa prioridade número um porque a gente viu que o número de desastres naturais está crescendo quase exponencialmente, isso vai afetar preço de energia e comida”, afirmou.

Em relação ao ambiente doméstico, ele afirmou que o crescimento no Brasil tem apresentado surpresas positivas consecutivas, mas há previsão de desaceleração até 2024.

(Por Bernando Caram; Reportagem adicional de Luana Maria Benedito)