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O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), Jerome Powell, tem duas audiências marcadas para esta semana no Congresso, na 3ª e 4ªfeiras, para comentar o Relatório de Política Monetária divulgado na última sexta-feira (3) e não tem motivos para atenuar a comunicação mais dura que tem aplicado nos últimos meses. A explicação é que a autoridade monetária é motivada por dados e os últimos que divulgados não foram favoráveis a uma suavização do discurso.
Quando o Fed optou por reduzir o ritmo de alta do atual ciclo de juros para 25 pontos-base na virada de janeiro para fevereiro, uma das expressões que Powell mais usou na coletiva de imprensa pós-reunião foi “desinflação”. Até aquele momento, a inflação mensal do consumidor (CPI) havia realmente perdido velocidade, com variações mensais de 0,2% em novembro e de 0,1% em dezembro.
Powell praticamente antecipou aos jornalistas que a autoridade monetária iria praticar mais duas altas de 25 pontos-base em março e maio e que depois havia possibilidade de uma pausa, sem no entanto se comprometer com o momento no qual os juros começariam a cair.
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Mas o CPI de janeiro veio como um balde de água fria, apontando alta mensal de 0,5%. Os preços de consumo (PCE), outro indicador muito observado pelo Fed, veio com salgados 0,6% no primeiro mês de 2023, o triplo da taxa dos dois meses anteriores. E isso com sinais recorrentes de que o mercado de trabalho estava se mantendo persistentemente aquecido.
Para completar, a última revisão do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA mostrou uma crescimento de 2,7% no quarto trimestre, quase idêntica aos 2,9% da estimativa anterior e pouco abaixo dos 3,2% observados no terceiro trimestres, apontando que os efeitos da política contracionista sobre a economia ainda estavam limitados.
A partir daí, as apostas de um Fed mais “hawkish” cresceram. Embora ainda minoritária, a projeção de que o Banco Central dos EUA poderia optar por uma alta de 50 pontos-base em março ganhou adeptos.
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O Goldman Sachs, por exemplo, disse em relatório que enxerga um risco significativo de que o consumo nos EUA cresça acima do potencial em 2023, apesar de uma provável recuperação da taxa de poupança. Segundo o banco de investimentos, a renda real disponível estaria a caminho de aumentar entre 2,5% e 3% este ano.
A conta leva em consideração os ganhos contínuos de empregos, com crescimento real positivo dos salários e um aumento da indexação dos cheques da previdência social à inflação do ano anterior.
Para o banco, se o crescimento do consumo realmente aumentar para cerca de 2,5% este ano e o crescimento do PIB estiver próximo de 2%, a “regra de ouro” implicaria que o Fed poderia compensar isso aproximadamente entregando 50 pontos-base adicionais de aumentos inesperados, para uma faixa de 5,75% a 6%.
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“Isso exerceria 50 pontos-base de pressão ascendente sobre as condições financeiras e cerca de 0,5 ponto porcentual de pressão descendente sobre o crescimento do PIB em 2023, tudo se mantendo constante”, avaliou o banco.
Num outro cenário, com consumo, manufatura e habitação acelerando – o que está mais longe do nosso caso base – a força subjacente na demanda ameaçaria aumentar o crescimento do PIB em 2023 para +2,5%. Nesse cao, um aumento ainda maior na taxa de fundos pode ser necessário para manter o crescimento da demanda abaixo do potencial e o reequilíbrio do mercado de trabalho no caminho certo, diz o banco.
O que os analistas tem comentado é que Powell deve deixar de lado as observações sobre cenários mais benignos de inflação no curto prazo e manter à frente do comitê bancário do Senado e de serviços financeiros da Câmara, o discurso padrão de que ainda há trabalho a ser feito e que a queda recente de inflação esteve concentrada em bens, favorecida pela normalização das cadeias e suprimentos.
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Na própria conversa com os jornalistas, há pouco mais de um mês, o presidente do Fed disse que a inflação de serviços ainda era uma preocupação, tanto os serviços habitacionais quanto os não habitacionais, onde ainda não havia sinais de desinflação.
Na época ele também disse que o emprego e a economia deveriam continua aquecido, em taxas mais baixas e que via possibilidade de que o núcleo da inflação do PCE voltasse a patamares de 4% por volta de junho.
Ele também deve manter o mantra de que será preciso observar os dados à frente. E os próximo são o payroll de fevereiro, que será divulgado na sexta-feira (10), a inflação do CPI no dia 14 e as vendas no varejo no dia 15.