Powell deve manter mensagem mais dura nas audiências do Congresso, após inflação resistente

Discurso ameno feito após reunião do Fed em fevereiro deve ficar para trás, após sinais de mercado de trabalho e consumo aquecidos

Roberto de Lira

(Shutterstock)
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O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), Jerome Powell, tem duas audiências marcadas para esta semana no Congresso, na 3ª e 4ªfeiras,  para comentar o Relatório de Política Monetária divulgado na última sexta-feira (3) e não tem motivos para atenuar a comunicação mais dura que tem aplicado nos últimos meses. A explicação é que a autoridade monetária é motivada por dados e os últimos que divulgados não foram favoráveis a uma suavização do discurso.

Quando o Fed optou por reduzir o ritmo de alta do atual ciclo de juros para 25 pontos-base na virada de janeiro para fevereiro, uma das expressões que Powell mais usou na coletiva de imprensa pós-reunião foi “desinflação”. Até aquele momento, a inflação mensal do consumidor (CPI) havia realmente perdido velocidade, com variações mensais de 0,2% em novembro e de 0,1% em dezembro.

Powell praticamente antecipou aos jornalistas que a autoridade monetária iria praticar mais duas altas de 25 pontos-base em março e maio e que depois havia possibilidade de uma pausa, sem no entanto se comprometer com o momento no qual os juros começariam a cair.

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Mas o CPI de janeiro veio como um balde de água fria, apontando alta mensal de 0,5%. Os preços de consumo (PCE), outro indicador muito observado pelo Fed, veio com salgados 0,6% no primeiro mês de 2023, o triplo da taxa dos dois meses anteriores. E isso com sinais recorrentes de que o mercado de trabalho estava se mantendo persistentemente aquecido.

Para completar, a última revisão do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA mostrou uma crescimento de 2,7% no quarto trimestre, quase idêntica aos 2,9% da estimativa anterior e pouco abaixo dos 3,2% observados no terceiro trimestres, apontando que os efeitos da política contracionista sobre a economia ainda estavam limitados.

A partir daí, as apostas de um Fed mais “hawkish” cresceram. Embora ainda minoritária, a projeção de que o Banco Central dos EUA poderia optar por uma alta de 50 pontos-base em março ganhou adeptos.

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O Goldman Sachs, por exemplo, disse em relatório que enxerga um risco significativo de que o consumo nos EUA cresça acima do potencial em 2023, apesar de uma provável recuperação da taxa de poupança. Segundo o banco de investimentos, a renda real disponível estaria a caminho de aumentar entre 2,5% e 3% este ano.

A conta leva em consideração os ganhos contínuos de empregos, com crescimento real positivo dos salários e um aumento da indexação dos cheques da previdência social à inflação do ano anterior.

Para o banco, se o crescimento do consumo realmente aumentar para cerca de 2,5% este ano e o crescimento do PIB estiver próximo de 2%, a “regra de ouro” implicaria que o Fed poderia compensar isso aproximadamente entregando 50 pontos-base adicionais de aumentos inesperados, para uma faixa de 5,75% a 6%.

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“Isso exerceria 50 pontos-base de pressão ascendente sobre as condições financeiras e cerca de 0,5 ponto porcentual de pressão descendente sobre o crescimento do PIB em 2023, tudo se mantendo constante”, avaliou o banco.

Num outro cenário, com consumo, manufatura e habitação acelerando – o que está mais longe do nosso caso base – a força subjacente na demanda ameaçaria aumentar o crescimento do PIB em 2023 para +2,5%. Nesse cao, um aumento ainda maior na taxa de fundos pode ser necessário para manter o crescimento da demanda abaixo do potencial e o reequilíbrio do mercado de trabalho no caminho certo, diz o banco.

O que os analistas tem comentado é que Powell deve deixar de lado as observações sobre cenários mais benignos de inflação no curto prazo e manter à frente do comitê bancário do Senado e de serviços financeiros da Câmara, o discurso padrão de que ainda há trabalho a ser feito e que a queda recente de inflação esteve concentrada em bens, favorecida pela normalização das cadeias e suprimentos.

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Na própria conversa com os jornalistas, há pouco mais de um mês, o presidente do Fed disse que a inflação de serviços ainda era uma preocupação, tanto os serviços habitacionais quanto os não habitacionais, onde ainda não havia sinais de desinflação.

Na época ele também disse que o emprego e a economia deveriam continua aquecido, em taxas mais baixas e que via possibilidade de que o núcleo da inflação do PCE voltasse a patamares de 4% por volta de junho.

Ele também deve manter o mantra de que será preciso observar os dados à frente. E os próximo são o payroll de fevereiro, que será divulgado na sexta-feira (10), a inflação do CPI no dia 14 e as vendas no varejo no dia 15.