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A inflação do consumo (PCE) nos Estados Unidos continua a mostrar resistência – especialmente quando analisado seu núcleo, que exclui as variações de preços mais voláteis, como energia e alimentos – e está sendo alimentada por um mercado de trabalho ainda aquecido, que traz um ganho de renda pessoal e incentiva o consumo. Para analistas, a manutenção desse quadro reforça a leitura de que o Federal Reserve vai aplicar uma nova alta de 25 pontos-base na taxa de juros na reunião da semana que em.
Nesta sexta-feira (28), foi anunciado que o PCE – medida preferida pelo Fed por capturar os preços que os consumidores americanos estão pagando por bens e serviços – subiu 0,1% em março ante fevereiro e 4,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado.
No entanto, o núcleo do indicador mostrou alta de 0,3% na leitura mensal, a mesma variação observada em fevereiro, e de 4,6% na anual, apenas 0,1 ponto percentual mais baixa que no mês anterior.
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Na avaliação de Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, a composição do PCE mostra que a alta dos preços de bens segue com menos intensidade, um natural reflexo da reorganização das cadeias produtivas e da queda dos preços das commodities.
Mas a inflação de serviços continua a pressionando o índice. “Acreditamos que a desaceleração em serviços continuará lenta, pois o setor é impactado pelo mercado de trabalho aquecido, que aumenta os salários acima da produtividade”, comenta.
De fato, a renda pessoal avançou 0,3% em março e a renda pessoal disponível cresceu 0,4% na comparação mensal.
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Com isso, a projeção do C6 Bank é que o Fed deve continuar com o ciclo de ajuste de juros, com mais um aumento de 25 pontos-base na próxima reunião, o que levará a taxa para o intervalo de 5% a 5,25% ao ano.
“Esse aumento seria necessário para conduzir a desaceleração da inflação em um contexto de demanda ainda forte. Não prevemos cortes nos juros até meados de 2024”, estima Claudia.
Ela pondera que um início do corte de juros poderia ser antecipado caso haja um aperto de crédito decorrente do colapso de alguns bancos regionais nos EUA.
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Além das comparações mensal e anual, Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, cita que o retorno anual ajustado sazonalmente de três meses para o núcleo do PCE tem estado relativamente estável desde o início do ano, em 4,60%, portanto bem acima da meta de 2% perseguida pelo Fed.
Nobre destaca que o consumo continua robusto nos EUA, refletindo parcialmente os efeitos defasados dos estímulos relacionados à covid-19 e a resiliência da economia.
“No entanto, a maioria dos principais indicadores de atividade econômica aponta para um crescimento abaixo da tendência ou mesmo para uma contração daqui para frente. Esses indicadores são consistentes com nosso cenário básico de que a economia dos EUA encolherá no segundo e terceiro trimestres”, estima.
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Segundo o economistas, dados divulgados desde o início do ano sugerem que as pressões inflacionárias têm sido mais persistentes do que o esperado e que o mercado de trabalho continua muito apertado.
“Esses fatores provavelmente forçarão o Fed a aumentar a taxa em 25 bps na próxima semana. Mas este provavelmente será o último movimento, dado que a taxa básica já está em níveis significativamente restritivos e a atividade econômica começou a mudar. Os dados de hoje são consistentes com uma pausa no ciclo de alta após a reunião de maio.”
Andressa Durão, economista da ASA Investments, observa que o núcleo do PCE apresentou leve aceleração em 12 meses, enquanto a inflação cheia cedeu bem. “Parece estar havendo nova aceleração do núcleo de bens na ponta, enquanto o núcleo de serviços cedeu no trimestre anualizado”, compara.
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Ela também prevê que, com o resultado de hoje, Fed deverá subirá os juros em 25 pontos-base na semana que vem e dirá que continuará dependente de dados. “Por enquanto, acreditamos em uma pausa em junho.”