No aniversário de um ano da guerra, China pede diálogo e manda “recados” a aliados da Ucrânia

País asiático diz que a segurança de uma região não será alcançada pela expansão de blocos militares e critica sanções econômicas unilaterais

Roberto de Lira

(Getty Images)
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No dia em que se completa um ano do início da invasão da Ucrânia por tropas russas, a China divulgou um documento com sua posição oficial sobre o conflito contendo não só apelos à volta das negociações de paz, mas também recados aos aliados da Ucrânia. Segundo o governo chinês, deve ser abandonada a mentalidade da Guerra Fria. “A segurança de um país não deve ser buscada às custas de outros”, diz o comunicado.

Segundo os chineses, a segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares, uma comentário que parece direcionado à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). “Os legítimos interesses e preocupações de segurança de todos os países devem ser levados a sério e tratados adequadamente”, alertou.

O comunicado defende ainda que não existe solução simples para um problema complexo e que “todas as partes devem, seguindo a visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável e tendo em mente a paz e a estabilidade a longo prazo do mundo, ajudar a forjar uma arquitetura de segurança europeia equilibrada, eficaz e sustentável”.

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“Todas as partes devem se opor à busca de sua própria segurança em detrimento da segurança de outros, evitar confrontos em bloco e trabalhar juntos pela paz e estabilidade no continente euroasiático”, continua o documento.

Sanções

A China também pede a suspensão de sanções unilaterais, que atualmente têm sido aplicadas contra a Rússia. “(As sanções) não resolvem o problema. Elas apenas criam novos problemas. A China se opõe a sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU”, afirmou o comunicado.

Para os chineses, os países relevantes devem parar de abusar das sanções unilaterais e da “jurisdição de braço longo” contra outros países, de modo a fazer sua parte na redução da crise na Ucrânia e criar condições para que os países em desenvolvimento cresçam suas economias e melhorem a vida de seu povo.

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Segundo documento, é preciso manter estáveis as cadeias industriais e de abastecimento, em oposição ao que chamou de “uso da economia mundial como uma ferramenta ou arma para fins políticos”. “Esforços conjuntos são necessários para mitigar as repercussões da crise e impedir que ela interrompa a cooperação internacional em energia, finanças, comércio de alimentos e transporte e prejudique a recuperação econômica global”, afirma o texto.

O país pede ainda que todas as partes apoiem a Iniciativa dos Grãos do Mar Negro, assinada pela Rússia, Turquia, Ucrânia e a ONU, de maneira plena, eficaz, e equilibrada. “A iniciativa de cooperação em segurança alimentar global proposta pela China oferece uma solução viável para a crise alimentar global.”

Além disso, para os chineses, a comunidade internacional precisa tomar medidas para apoiar a reconstrução pós-conflito. “A China está pronta para fornecer assistência e desempenhar um papel construtivo nessa empreitada.”

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Soberania

No entanto, o documento oficial da China também pede que seja respeitada a soberania de todos os países e que direito internacional universalmente reconhecido, incluindo os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, deve ser rigorosamente observado.

“A soberania, independência e integridade territorial de todos os países devem ser efetivamente preservadas. Todos os países, grandes ou pequenos, fortes ou fracos, ricos ou pobres, são membros iguais da comunidade internacional.”

Também é pedido o fim das hostilidades na Ucrânia, uma vez que “o conflito e a guerra não beneficiam ninguém”. “Todas as partes devem permanecer racionais e exercer moderação, evitar atiçar as chamas e agravar as tensões e evitar que a crise se deteriore ainda mais ou até mesmo saia do controle”, diz o documento.

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Para a China, todas as partes devem apoiar a Rússia e a Ucrânia a trabalhar na mesma direção e retomar o diálogo direto o mais rápido possível, de modo a diminuir gradualmente a escalada da situação e, finalmente, alcançar um cessar-fogo abrangente.

Para isso, é pedida a retomada das negociações de paz. “Todos os esforços conducentes à resolução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados. A comunidade internacional deve manter o compromisso com a abordagem correta de promover negociações de paz, ajudar as partes em conflito a abrir as portas para um acordo político o mais rápido possível e criar condições e plataformas para a retomada da negociação”, diz o texto.

Também é pedido que se resolva a crise humanitária causada pela guerra, com a criação de corredores humanitários para a evacuação de civis das zonas de conflito, e a proteção também dos prisioneiros de guerra. “A China apoia a troca de prisioneiros de guerra entre a Rússia e a Ucrânia e pede a todas as partes que criem condições mais favoráveis ​​para esse fim”, defende.

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Segurança nuclear

O país asiático também alerta para que não ocorram ataques armados contra usinas nucleares ou outras instalações nucleares pacíficas e pede a todas as partes que cumpram a lei internacional, incluindo a Convenção sobre Segurança Nuclear (CNS) e evitem resolutamente acidentes nucleares provocados pelo homem.

A China também se posiciona contrária ao uso de armas nucleares. “A proliferação nuclear deve ser evitada e a crise nuclear evitada. A China se opõe à pesquisa, desenvolvimento e uso de armas químicas e biológicas por qualquer país sob quaisquer circunstâncias.”