IBGE divulga IPCA de agosto e analistas querem saber se desaceleração de núcleos se manteve

Projeções da inflação anualizada superam os 4,6%, mas espera-se que leitura qualitativa positiva de julho tenha continuado

Roberto de Lira

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que o IBGE divulga nesta manhã, deve mostrar um salto tanto na leitura mensal como na anualizada, mas os economistas estarão mais atentos aos detalhes qualitativos do indicador do que ao índice cheio. O maior interesse dos especialistas vai ser observar como se os núcleos da inflação e a variação dos serviços subjacentes vão manter a desaceleração verificada em julho.

A inflação oficial de agosto deve ficar em torno de 0,30% na comparação com julho, de acordo com a mediana do mercado, um dado elevado quando comparado aos 0,12% de um mês antes ou à deflação de 0,08% registrada em junho. A taxa anualizada deve vir em 4,69% segundo as projeções, ante 3,99% em julho.

Mesmo um pouco mais salgado, esse comportamento dos preços já era esperado, devido a efeito de rebotes já observados na prévia do IPCA-15, que chegou a 0,28% no mês. Rafael Costa, analista do time de estratégia macro da BGC Liquidez, disse esperar um IPCA de 0,27% na margem e de 4,65% na comparação anualizada.

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Entre as influências altistas no mês, ele destaca a energia elétrica residencial, que deve subir mais de 4% com o aumento nos preços das contas de luz após os descontos temporários em julho motivados pelo bônus de Itaipu.

Também é esperada uma inflação de atipicamente elevada para o item automóvel novo, refletindo o fim do programa de descontos para carros populares. “Mas admitimos bastante incerteza para esse item devido à alta volatilidade das variações desde o início do programa”, pondera.

Há ainda uma previsão de alta de 15  , após o reajuste praticado pela Petrobras em agosto e que não entrou na conta do IPCA-15.

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Entre pressões baixistas para o índice, Costa cita deflação de alimentos, com projeção de -0,94% no mês.

André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi, trabalha com uma variação de 0,26% para IPCA do mês, com o acumulado em 12 meses indo 4,65%. A aceleração no 12 meses se dará não apenas uma aceleração da leitura mensal, mas em grande parte por conta do efeito base, segundo ele.

Nunes prevê que a aceleração da inflação se dará principalmente por conta de uma variação mais elevada para monitorados (1,31%), com a alta da energia elétrica (4,51%) após o bônus de Itaipu e a  (1,50%), após o último reajuste da Petrobras. “Por outro lado, alimentação no domicílio (-1,15%) continuará puxando o indicador para baixo”, comenta.

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O economista do Sicredi estima que o núcleo EX.0 deve ter uma variação de 0,19%, com uma leitura mais moderada em serviços (0,17%) e os industriais (0,22%) ainda sendo pressionados por veículos. “De modo geral, ainda esperamos um núcleo bem-comportado, o que será positivo ante uma aceleração no índice cheio”, afirma.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, por sua vez, não descarta que o dado venha acima dos 0,26%, mas admite também esperar pela abertura do indicador para saber se a leitura qualitativa foi melhor ou pior do que a observada em julho. “A gente tem tido surpresas em alguns itens, porém sabemos que o setor de serviços segue pressionado”, diz.

Para Jorge, os preços administrados podem vir com aceleração, mas ele afirma que a dinâmica recente tem mostrado um headline pior do que esperado, mas o qualitativo melhor. “O Banco Central já vem acompanhando esse dado, obviamente. Eu não vejo, mesmo que venha um número muito fora da expectativa, razão para o BC mudar a estratégia de corte da Selic para esse ano”, analisa.

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Efeitos em cadeia

Lucas Carvalho, analista-chefe da Toro Investimentos, alerta que os efeitos dos reajustes de preços praticados pela Petrobras podem ser sentidos em maior magnitude e acredita que a inflação deve ficar por volta de 0,4% no mês de agosto.

“Assim como foi a divulgação do mês de julho, quando o principal grupo de contas foi transportes, por causa da alta dos preços dos combustíveis, acreditamos que novamente esse grupo deve representar a maior alta para a mensuração de agosto”, prevê.

Além disso, ele também diz que vai olhar com atenção o grupo Habitação, que deve devolver alguns reajustes para baixo verificados em julho nas tarifas de energia. Ou seja, a incorporação do bônus de Itaipu deve trazer movimento de alta para as contas e isso deve pressionar a conta Habitação dentro do IPCA.

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Sobre o reajuste de preços dos combustíveis, Carvalho diz ser importante observar como ele pode ter se espalhado para outros setores. “O mercado vai acompanhar muito esse detalhe porque o reajuste foi feito em meados de agosto, então o IPCA-15 não captou essa mudança nos preços. Vamos acompanhar para saber os efeitos em cadeia desse reajuste”, explica.

Outro ponto de atenção será a inflação de serviços, que apresentou desaceleração no último mês. “Vamos acompanhar se esse efeito de um processo desinflacionário em serviços vai continuar. Porque isso pode ser um fator bastante positivo para a condução da política monetária, para os membros do Copom”, comenta.

Carvalho lembra que falta pouco mais de uma semana da decisão de juros, tanto nos EUA quanto no Brasil. “Portanto, a divulgação é de suma importância e pode impactar bastante as curvas de juros futuros, caso venha um número fora do esperado. Vamos acompanhar se aquela queda contratada que foi dada pelo BC de 0,50 p.p. nas próximas reuniões vai continuar.”

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, projeta uma alta de 0,31% na inflação do mês e uma variação acumulada em 12 meses de 4,69%. Em termos de contribuição, ela também acredita que o maior destaque será a energia elétrica, que deve contribuir com uma alta relativamente forte, em função do bônus  de Itaipu.

O C6 Bank calcula uma alta de 4,6% nesse item e mais 1,4% em gasolina, após o reajustes da Petrobras. “Do outro lado, tem o número de passagem aérea, puxando o número para baixo e aliviando um pouco a inflação neste mês.”

A média dos núcleos da inflação em agosto deve ter ficado em 0,24% nas projeções da economista, um dado um pouco abaixo da mediana. “O mais importante nessa divulgação será olhar a parte dos núcleos e serviços. O que o BC está interessado é saber se os núcleos vão continuar desacelerando e se a parte de serviços também vai continuar desacelerando. Na nossa projeção, os núcleos desaceleram um pouco nesse mês de agosto e serviços devem ficar mais de lado.”

Sobre o comportamento dos preços administrados, Claudia reconhece que a alta forte do petróleo no exterior poderia influenciar os preços da Petrobras aqui dentro, embora ela não acredite num novo reajuste no curto prazo. “Com a defasagem aumentando, é um risco a Petrobras até o final do ano elevar o preço da gasolina.”

A economista também não projeta riscos de alta nos preços de alimentos, mesmo com notícias sobre a incidência mais forte do fenômeno climático El Niño. “O que a gente vê é que o impacto agora está sendo baixista na inflação ao consumidor. O IGP, na parte agrícola, chegou aos seus níveis mais baixos entre julho e agosto. Para a frente, deve subir um pouco”, afirma.

A projeção de Igor Cadilhac, economista do PicPay, para o IPCA fechado de agosto é de uma alta de 0,25% na leitura mensal e de 4,63% na anual. Para ele, os grupos de Habitação e Saúde e cuidados pessoais devem representar os principais impactos sobre o resultado, influenciados principalmente pelo fim da incorporação do Bônus de Itaipu e dos itens de higiene pessoal.

“Esperamos também uma aceleração nos grupos de Educação e Vestuário, em movimento sazonal de retomada dos cursos regulares e entrada da nova coleção de vestimentas”, comenta.

O grupo Alimentação e bebidas deve intensificar seu ritmo de queda e os Transportes vão se beneficiar das quedas das passagens aéreas e da alta mais moderada dos combustíveis, segundo o economista.

Para os núcleos da inflação, a estimativa é de piora, na margem, devido às altas em itens de maior volatilidade ou sazonalidade. “Ainda assim, sua composição deve seguir saudável, atendendo às expectativas. Dito isso, o IPCA tende a esvaziar as apostas de um COPOM mais dovish”, afirma.

João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, estima um IPCA de 0,28% no mês e de 4,66% na comparação com agosto de 2022. “Esse aumento reflete, em grande parte, o efeito base pela saída da deflação de 0,36% do mesmo mês do ano passado (desoneração de combustíveis e energia elétrica)”, lembra,

Entre os destaques do mês, Savignon cita os maiores preços administrados, que devem passar de uma variação de 0,46% para 1,47%, por conta da elevação dos preços de energia elétrica com o fim do bônus tarifário de Itaipu. “Em sentido contrário, teremos quedas dos preços de passagens aéreas e de alimentos”, pondera.

O conjunto de preços livres deve cair 0,13%, puxados pelos alimentos no domicílio, mas também com números bem-comportados de serviços (0,07%) e industriais (0,26%). “As medidas subjacentes também deverão apresentar resultados bons, com Serviços subjacentes ficando praticamente com a mesma variação do mês anterior, de 0,21%”, prevê.

Para a média dos núcleos, a projeção da Kínitro é de uma ligeira elevação no mês, de 0,18% para 0,25%. Em 12 meses, a média dos núcleos deve desacelerar para 5,19%, vindo de 5,62%. “Assim, esperamos que as aberturas do dado continuem coerentes com a perspectiva de melhora gradual do qualitativo da inflação no país.”

A projeção do Itaú, por sua vez, é de um IPCA de 0,29% no mês, com maiores pressões sobre veículos e gasolina. A taxa anual deve subir para 4,7% em agosto, devido à base de comparação menor após os cortes de impostos do ano passado, diz o banco em relatório. “Apesar da melhoria recente nas medidas subjacentes, não prevemos um abrandamento adicional significativo na margem.”

Leonardo Costa, economista da ASA Investments, projeta uma inflação mensal de 0,30%, com o IPCA de 12 meses atingindo 4,68% e a média do núcleos de 0,33% em agosto. “O IPCA de agosto deve acelerar na margem por conta dos preços administrados. O fim do bônus tarifário na tarifa elétrica e o aumento do preço dos combustíveis nas distribuidoras serão destaque”, afirma

Ele também lembra que não haverá o efeito do crédito tributário sobre os automóveis, o que deve pressionar também a inflação bens industrializados. “Por outro lado, espera-se nova deflação nos alimentos, bem como desaceleração nos serviços, liderados pela deflação na passagem aérea”, comenta.