IBC-Br de janeiro confirma atividade estagnada no início de 2023, dizem analistas

Indicador de atividade do BC teve em janeiro a quinta queda mensal nas últimas seis leituras; IBC-Br caiu 1,3% no trimestre móvel

Roberto de Lira

(NatanaelGinting/Getty Images)
(NatanaelGinting/Getty Images)

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A queda de 0,04% no Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) em janeiro, divulgada nesta segunda-feira (17) pelo Banco Central, confirma a tendência de estagnação no início do ano mostrada pelos indicadores de comércio, indústria e serviços do IBGE, afirmam analistas. Eles veem nesse comportamento efeitos diretos do ciclo de aperto monetário, do encarecimento do crédito, da perda de dinamismo do mercado de trabalho e também da dissipação dos impulsos que a economia recebeu no ano passado em sua retomada pós-pandemia.

Segundo a XP Investimentos, essa perda de força fica nítida ao constatar que foi a quinta queda mensal nas últimas seis leituras do BC. Além disso, o IBC-Br caiu 1,3% no trimestre móvel até janeiro.

Mesmo reconhecendo que a atividade econômica vem enfraquecendo pelos motivos citados, a XP lista alguns fatores que fazem um contraponto e que acabam por impedir que a economia registre dados piores. “O forte aumento das atividades menos sensíveis ao ciclo econômico (agricultura e mineração) e a expansão da renda disponível real das famílias ajudam a evitar uma desaceleração mais acentuada do PIB no ano.”

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A previsão da XP para o IBC-Br de fevereiro é de uma alta de 0,8% na leitura mensal e uma queda de 0,4% na anual. “O forte aumento da produção agrícola combinado com a recuperação do setor de serviços reforçam essa expectativa”, comentou o relatório.

Assim, a previsão para o crescimento do PIB no primeiro trimestre está situada em 0,8%, com alta de 2,4% ante o mesmo trimestre de 2021. A projeção para o PIB fechado de 2023 permaneceu em 1%.

O Banco Original alertou que o resultado mensal foi influenciado por uma queda no setor de serviços e uma estabilidade relativa na produção industrial e no varejo. “Como foi observado nos dados de janeiro, o setor de transportes acabou impactando negativamente todas as áreas da atividade econômica”, comentam os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac.

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Eles ponderam, no entanto, que ao analisar os dados agregados, é possível observar que o varejo apresentou um resultado homogêneo e positivo, após uma sequência de resultados negativos ou de estabilidade.

Além disso, houve alta mensal de 1,8% na indústria extrativa e em 14 das 25 atividades da indústria de transformação. Por fim os serviços prestados às famílias apresentaram crescimento de 1% em janeiro.

Para os economistas do Original, ainda que janeiro tenha vindo um pouco melhor do que o esperado, não altera a tendência de desaceleração. “Com o resultado do índice de hoje, mantemos nossa projeção de 2,1% para o PIB no primeiro trimestre. Esse resultado vem de uma agropecuária forte e que deve ter um crescimento de dois dígitos, já descontados os efeitos sazonais do período. Para 2023, projetamos um avanço do PIB de 0,7%”, afirmaram.

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Perda de dinamismo

Rafael Perez, economista Suno Research, também afirmou que o indicador ilustrou a perda de dinamismo da atividade nos últimos meses.

“O desempenho no mês foi influenciado, em especial, pelas quedas dos setores de serviços (3,1%) e da indústria (0,3%), o que acabou compensando a forte expansão do comércio de 3,8% em janeiro”, comentou.

Diante desse cenário de estagnação, Perez afirmou que a perspectiva para 2023 é de um crescimento menor da economia brasileira, “mas que deve ser sustentado por setores menos sensíveis ao ciclo econômico como o agronegócio, além da demanda das famílias graças as recentes medidas de incentivo ao consumo do governo.”

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Para o Goldman Sachs, é possível que a atividade se beneficie de estímulos fiscais e parafiscais – como as transferências adicionais para famílias de baixa renda com alta propensão a consumir – expansão da massa salarial real e perspectivas favoráveis para a produção agrícola.

No entanto, tanto a perda de força da retomada como os efeitos das condições monetárias e financeiras domésticas apertadas devem manter a economia estagnadas neste ano.

Para o Santander Brasil, os dados disponíveis de fevereiro apontam para sinais mistos. “Em relação ao setor terciário, os dados de confiança econômica da FGV para residências, serviços e varejo seguem abaixo do patamar neutro, enquanto nossos dados proprietários (IGet) apontam expansão das vendas no varejo e estabilidade nos serviços prestados às famílias”, comenta o banco em relatório.

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Para a indústria, tanto a confiança industrial da FGV quanto o PMI de manufatura permanecem abaixo do limite neutro. E as atividades de serviços, que se beneficiaram da redução de impostos e da normalização da mobilidade, tende a sofrer agora a piora nas condições financeiras.

“Mantemos nosso crescimento do PIB no primeiro trimestre em +0,5%, com impacto positivo da produção agrícola. Projetamos crescimento do PIB de 0,8% em 2023”, afirmou o Santander Brasil.

Para o banco haverá desaceleração da demanda doméstica e dos componentes cíclicos da oferta, decorrentes principalmente da esperada recessão global e dos efeitos da política restritiva do Banco Central. “Mas também esperamos forte crescimento para os mercados não cíclicos produção agrícola, refletindo uma previsão de alta histórica para a safra de grãos.”

Já Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, disse que, apesar do resultado melhor do que o esperado do IBC-Br, o índice de atividade do BC não deve alterar o cenário estabelecido de uma desaceleração lenta da economia brasileira.

“Nas últimas seis divulgações do índice, em cinco vimos quedas mensais e a variação ano contra ano também segue em trajetória de desaceleração. Cada vez mais os efeitos da política monetária são sentidos pela economia, e não são mais fortes por um bom desempenho recente do setor agrícola e da resiliência do mercado de trabalho”, comentou.

Carla Argenta CM Capital, também citou a apatia da atividade no primeiro mês do ano, movimento já sinalizado nos dados do PIB do último trimestre de 2022 e nas pesquisa mensais do IBGE.

Carla disse, no entanto, que prefere aguardar os indicadores referentes a fevereiro, que serão divulgados nas próximas semanas. O IBGE atrasou essas divulgações devido a mudanças na aferição de alguns dados. “Os dados foram divulgados com uma desfasagem longa. Estamos em abril e acabou de ser divulgado o dado de janeiro”, comentou.