Haddad diz que início de governo será de “arrumação” das contas e que vai rever desonerações e benesses

Em entrevista ao jornal O Globo, futuro ministro prometeu "harmonizar" políticas econômica e fiscal e trabalhar em conjunto com Simone Tebet

Roberto de Lira

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O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, colocou como um de seus compromissos que a economia do País precisa se ajustar logo no primeiro ano do novo governo. Segundo ele, essa arrumação deverá ser feita ao longo do primeiro trimestre porque em abril já deverá ser tocada uma agenda mais estrutural. “A questão da regra fiscal tem que ser muito sopesada pela sociedade. Tem que ser crível, que aponte para um futuro mais promissor. E o tema da reforma tributária, que quero colocar na ordem do dia, quando as comissões estiverem instaladas”, disse.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo nesta quinta-feira, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, calculou que o governo Bolsonaro elevou os gastos em cerca de R$ 300 bilhões, ou 3% do PIB. para tentar se reeleger. Nessa conta 1,5 ponto porcentual foi de aumento de despesas e outro 1,5 ponto em desonerações, sem base técnica, que precisam ser revistas.

“O governo tem que dizer ao que veio logo. Arrumar a casa é o item um. Rever desonerações e benesses que foram dadas eleitoralmente e que não têm base técnica nenhuma. Temos que rever os atos desesperados. Isso é uma sinalização clara porque o Banco Central vai responder a ela, os investidores estrangeiros vão responder”, disse em entrevista à jornalista Míriam Leitão.

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Para Haddad, uma das primeira medidas será relegitimar o programa Bolsa Família, uma vez que o próprio governo atual reconheceu que incluiu ao menos 2,5 milhões que não seriam elegíveis em seu cadastro.

Sobre a desoneração dos combustíveis (que não foi prorrogada pelo governo atual, a pedido de Haddad), o futuro ministro disse que, desde que essa decisão foi tomada, no calor do processo eleitoral, o preço do petróleo já caiu cerca de 20%.

Haddad também garantiu na entrevista que o déficit primário de R$ 220 bilhões previstos no Orçamento de 2023 será menor. “Esse déficit não vai acontecer, ponto final. Isso não vai acontecer. Não é a maneira que eu trabalho”, disse.

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O futuro ministro prometeu “harmonizar” de maneira técnica a relação entre a política econômica do governo que está entrando com a política fiscal do Banco Central. Como será preciso uma “construção institucional inédita”, uma vez que será a primeira vez de um BC autônomo numa transição de poder, Haddad evitou fazer comentários sobre a taxa de juros atual na entrevista.

Ele disse considerar que os nomes escolhidos para a área econômica do governo provam que há pluralidade de pensamentos e não uma homogeneidade. “Não consigo pensar em duas pessoas que pensam mais diferente do que o Guilherme Melo e o Bernard Appy, por exemplo. São pessoas muito diferentes”, afirmou.

Ele disse que há convergência de 90% da agenda do futuro governo com as ideias da futura ministra do Planejamento, Simone Tebet, e que caberá ao presidente Lula arbitrar nas divergências. Pra ele, o Planejamento será fundamental para redesenhar programas em busca de eficiência nos gastos públicos. “Eu não trabalho com esses compartimentos. Cada um tem as suas tarefas específicas, mas as decisões são tomadas em um colegiado”, afirmou.