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A manutenção da taxa de juros nos Estados no atual patamar – a faixa 5% e 5,25% ao ano – ainda é o cenário mais provável para a próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) em junho, segundo analistas, mas ainda não é possível cravar uma tendência porque os diretores do Federal Reserve vão continuar a observar os dados a cada encontro. Essa é leitura feita a partir dos comentários da Ata da reunião dos dias 2 e 3 maio, divulgada nesta quarta-feira (24)
Andressa Durão, economista da ASA Investments, por exemplo, diz acreditar que cenário base para junho é de é pausa, mas considera que as leituras ainda estão em aberto para as reuniões seguintes.
Ela usou como exemplo exatamente a última reunião, quando a maioria achava que pausa era cenário ideal, mas condicionaram este cenário aos dados. “Para que o cenário de pausa seja confirmado, os dados terão que seguir como esperado. Diante dos últimos discursos, (os diretores) estão incomodados com alguns dados do lado mais ‘hawk’”, comentou Andresse.
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A economista da ASA destaca que a avaliação do Fomc sobre situação econômica não mudou entre as reuniões de março e maio, com a visão de um mercado de trabalho apertado e com salários desacelerando, porém ainda em níveis elevados.
Ela comenta ainda que a principal diferença na divulgação de hoje é a redução das preocupações sobre o setor bancário. Mas com um comentário o acesso ao crédito ainda não parece ter diminuído significativamente desde o início do estresse no setor.
A análise do documento, lembra Andressa, é que esse estresse, nos próximos trimestres, provavelmente induziria os bancos a restringir os padrões de empréstimo mais do que fariam em resposta apenas às taxas de juros mais altas.
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Francisco Nobre, economista da XP, também acredita que o Fomc deixou as portas abertas para as próximas decisões, embora também tenha manifestado clara intenção de pausa e manutenção da taxa básica de juros até o final do ano.
“A Ata publicada hoje é consistente com nosso cenário base de taxas de juros estáveis até o final do ano e início do ciclo de flexibilização no primeiro trimestre de 2024”, afirma Nobre.
Ele destaca que, embora um aperto maior não tenha sido descartado, a ata afirmou que “se a economia evoluir de acordo com as perspectivas atuais, pode não ser necessário um maior fortalecimento da política após esta reunião”. O documento também reforçou que o Fed não planeja cortar juros este ano e manteve sua retórica de dependência de dados, lembra o economista.
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Nobre diz que os mercados estão céticos sobre a orientação futura e continuam precificando os cortes nas taxas este ano. “Ainda assim, nas últimas duas semanas, os mercados deixaram de apostar em cortes de juros de 75 bps até o final do ano para precificar 25 bps. Além disso, os mercados estão atualmente atribuindo uma probabilidade de 30% de um aumento de 25 bps em julho”, afirma.
“O deslocamento para cima da curva de juros reflete a resiliência da inflação, da atividade econômica e dos dados do mercado de trabalho. Destacamos os dados do PMI de maio divulgados ontem, mostrando desempenho acima do esperado, principalmente no setor de serviços”, afirma.
Nobre diz acreditar que o ciclo de flexibilização deve ser gradual ao longo de 2024, com o limite superior da taxa dos fundos federais fechando o ano em torno de 3,5%.
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Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também acredita que que a Ata de hoje reforça a visão de que as decisões da autoridade monetária sobre a taxa de juros serão feitas de reunião em reunião, a depender da evolução dos dados de inflação, da atividade econômica e do mercado de trabalho.
“Vários membros discutiram que, caso a economia norte-americana evolua de acordo as perspectivas atuais, seria possível encerrar o ciclo de alta de juros. Porém, o comitê discutiu que, apesar da desaceleração, a inflação segue bem acima da sua meta de longo prazo. E, como ainda há riscos altistas, muitos participantes sinalizariam a importância de deixar a opção de novas altas em aberto”, comenta Sung.
Para o Comitê, a atividade cresceu em um ritmo modesto no primeiro trimestre. O mercado de trabalho continua aquecido, com uma taxa de desemprego baixa. Os recentes episódios no sistema financeiro impactaram negativamente o mercado de crédito para as famílias e empresas, o que ajuda a desacelerar a economia e a inflação, mas a extensão dos efeitos ainda é incerta.
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Em relação a inflação, Sung destaca que a Ata cita que inflação cheia está desacelerando, mas que o núcleo e alguns grupos precisam dar mais sinais de arrefecimento para que o Fed tenha condições de encerrar definitivamente o ciclo de alta de juros.
“Diante desse cenário, o Fed quer evitar qualquer tipo de movimento brusco para evitar algum ruído ou perda de credibilidade. De qualquer forma, esperamos o fim do ciclo em breve, mas é possível que tenhamos uma nova alta até o fim do ano. E o juro deverá permanecer no pico por um bom tempo até que a inflação dê sinais de convergência para meta de longo prazo”, afirma..
Lucas Zaniboni, analista sênior de pesquisa internacional da Garde, afirma que a ata do Fomc não trouxe muitas novidades em relação aos discursos mais recentes de diretores do Fed. “Acho que a principal informação disponível é a que o comitê se encontra mais divido que as últimas reuniões, com um número bem parecido de membros achando que o cenário permitirá ao Fed parar com as altas, e outro grupo mais ‘hawkish’ achando que algumas altas ainda serão necessárias”, comenta.
Zaniboni destaca, no entanto, que isso não necessariamente precisa acontecer na reuniões de junho. “Mesmo os membros mais ‘hawkish’ não parecem, no discurso recente, fazer tanta questão, desde que a porta esteja aberta para mais altas nas reuniões seguintes a depender de como os dados evoluam”, diz.
Já Marcelo Oliveira, co-fundador da Quantzed, diz que o Fed praticamente descartou que aconteça alguma baixa nos juros em 2023. “O mercado esperava que pudesse ter já uma queda de juros no último trimestre de 2023 e isso está agora praticamente descartado. Pelo que estou vendo, queda de juros mesmo só para 2024”, prevê.
Oliveira também afirma que o texto reconhece que a projeção de PIB não deve ser atingida, vindo abaixo das expectativas. Ou seja, podemos ter uma recessão leve a partir de 2024. O PIB deve crescer menos nos próximos dois trimestres e depois começar a cair moderadamente.”