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Os eleitores americanos voltam às urnas no próximo dia 8 de novembro, nas tradicionais “midterms” – como são chamadas as eleições de meio de mandato dos presidentes. Normalmente essas disputas são consideradas uma espécie de plebiscito da atual administração e têm o poder de afetar sua governabilidade na segunda metade da administração.
Estão em disputa 35 das 100 cadeiras do Senado e todas as 435 vagas da Câmara, além de 36 dos 50 cargos de governadores. Isso sem contar as centenas de cargos nos legislativos estaduais.
A julgar pelo histórico e pelos níveis de aprovação recentes do governo, o presidente Joe Biden deve enfrentar dois anos difíceis, segundo analistas de várias vertentes nos Estados Unidos.
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Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os presidentes em exercício foram derrotados em 17 de 19 disputas na Câmara nessas eleições intermediárias, e também perderam cadeiras no Senado em 13 dessas oportunidades.
As duas vezes em que a administração de plantão conseguiu um número maior de cadeiras nas “midterms”, aconteceram em 1998, com Bill Clinton, e em 2002, com George W. Bush.
Mas esses presidentes gozavam de índices de aprovação superiores a 60% nestas épocas, coisa que Biden não pode aproveitar. Segundo as pesquisas feitas entres setembro e outubro, seu índice de aprovação está entre 39% e 45%, dependendo do estudo. A desaprovação oscila entre 50% e 55%, segundo os mesmos levantamentos.
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As últimas pesquisas mostram que os democratas têm boas chances de segurar o equilíbrio no Senado, hoje com a conta 50/50 e o desempate cabendo a uma decisão da vice-presidente Kamala Harris. Um esforço do governo Biden aqui é ampliar a força para 52 cadeiras e, assim, evitar obstruções em votações.
Mas, na Câmara, a estreita vantagem democrata parece estar com os dias contados. O partido de Biden tem hoje 221 cadeiras, apenas três a mais do que o número necessário para a maioria. Ou seja, os republicanos precisam ganhar cinco assentos para reconquistar o domínio e as pesquisas mostram que isso tende a acontecer.
Segundo Sol Azcune, analista política da XP, em termos práticos, a vitória republicana numa das Casas já seria suficiente para bloquear a agenda parlamentar de Biden. “No entanto, politicamente, apesar da baixa aprovação do governo, a manutenção do controle dos democratas em uma das casas pode ser considerada um revés para o Partido Republicano”.
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Mas para o site Politico, isso pode levar Biden a abandonar pautas progressistas e migrar sua administração para uma atuação mais ao centro do espectro político, característica aliás que marcou sua trajetória até chegar à Casa Branca.
“É a economia, estúpido”
O humor do eleitorado dos Estados Unidos tem oscilado nos últimos meses. Durante a primavera e o verão americanos, entre março e agosto, as pautas de valores predominaram.
Em junho, aconteceu o polêmico anúncio da Suprema Corte, que derrubou a decisão conhecida como “Roe x Wade”, de 1973, que garantia nacionalmente o direito ao aborto. O poder de definir a permissão do procedimento foi então devolvido aos estados e a questão dos direito de reprodução voltou a ser um debate eleitoral, tema explorado pelos candidatos de Biden desde então.
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Também aconteceram no período os tiroteios na escola primária de Uvalde (Texas), em maio, e no desfile de Highland Park (Illinois) no feriado de 4 de julho, que reacenderam as discussões sobre o controle de armas no país, temas sempre explorados pelo Partido Democrata.
Mas a alta no custo de vida tem falado mais alto no momento. A inflação dos consumidores está nas máximas em quatro décadas e isso tem feito diferença nas pesquisas, segundo os analistas. Um levantamento do New York Times/Siena College, mostrou que as preocupações dos eleitores com a economia saltaram de 36% das respostas, em julho, para 44%, em outubro. E que 49% das pessoas disseram estar dispostas a votar em republicanos, ante 45% de preferências por democratas.
Efeitos da perda da maioria
Com a insatisfação em alta e as projeções mostrando a vantagem republicana, como será o final do mandato de Biden? Para o Institute Motaigne, não será nada fácil.
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Desde que começou a atual administração, os políticos mais à direita, especialmente os ligados ao ex-presidente Donald Trump, têm voltado sua artilharia contra a “agenda verde” de energia de Joe Biden, que privilegia as fontes renováveis e trava iniciativas de fontes fósseis.
A alta dos preços internacionais de petróleo e gás fruto da guerra entre Rússia e Ucrânia acabou por fortalecer o discurso republicano, que vê na atual política uma fonte de vulnerabilidade do país. A mais nova liberação de uso da reserva estratégica de petróleo só ampliou essa visão.
O caminho para frear o impulso dos democratas nessa área, ao que tudo indica, será uma supervisão mais forte sobre a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês).
Também é de se esperar muita dificuldade em aprovar nos leis como a da redução da inflação, um pacote de gastos assinado em meados de agosto e que visa combater as mudanças climáticas, abordar os custos de saúde e reduzir o déficit nacional, impondo um imposto mínimo de 15% sobre as empresas.
Filho de Biden será alvo
Também deve ser imposta uma tática de desgastar a imagem de Joe Biden e enfraquecê-lo para uma eventual intenção de candidatura à reeleição em 2024. O site independente The Hill aponta que Hunter Biden, o filho do presidente, vai voltar a ser alvo de investigações como aconteceu no período das eleições presidenciais, por conta de seus negócios no exterior.
O site lembra que, com a maioria, vem também a capacidade de ditar o foco das audiências, obrigar a realização de depoimentos e a apresentação de documentos. O deputado James Comer (Kentucky), já prometeu audiências e investigações sobre as atividades comerciais da família Biden no exterior.
O partido também vai investigar o que considera uma postura tendenciosa do Departamento de Justiça e do FBI. O mote principal é a autorização dada pelo DoJ de revistar a mansão de Trump em Mar-a-Lago, em agosto, para apreender materiais considerados secretos e que não tinha sido devolvidos pelo ex-presidente. Cortes de verbas nesses departamentos são algumas das armas à disposição do Congresso.
Trump, aliás, tem sido figura constante na atual campanha, preparando o terreno para uma possível nova indicação pelo Partido Republicano daqui a dois anos.
Questões como combate ao crime supostamente ligados a uma política de leniência do governo Biden na fronteira também voltarão à pauta. A imigração, por sua vez está sendo bastante explorada nas últimas semanas. O prefeito de Nova York, Eric Adams, chegou a declarar estado de emergência no início do mês pelo excesso de imigrantes latino-americanos em seu sistema de abrigos para os sem-teto.
O principal motivo foi a decisão do governador republicano do Texas, Greg Abbott, que está em campanha para reeleição, de enviar ônibus cheios de imigrantes para Nova York, na tentativa de chamar a atenção para o que ele considera um recorde de travessias de ilegais na fronteira EUA-México.