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A leitura qualitativa da inflação medida pelo IPCA, divulgada nesta sexta-feira (10) pelo IBGE, continua benigna, na opinião de economistas, o que aponta para um cenário mais tranquilo na condução da política monetária pelo Banco Central, pelo menos no front doméstico.
A alta na inflação de serviços em outubro foi praticamente toda atribuída à forte variação nos preços das passagens aéreas, item considerado volátil. A medida dos serviços subjacentes, que exclui itens com esse comportamento mais instável, continua controlada, segundo os especialistas.
O IPCA subiu 0,24% em outubro, ante 0,26% em setembro e acumula alta de 4,82% em 12 meses.
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Alexandre Maluf, economista da XP, destacou o qualitativo mais uma vez benigno das métricas mais importantes para o BC, que são a média dos núcleos da inflação oficial do país e o comportamento dos serviços subjacentes. Ele diz que as duas leituras foram “bastante baixas”: a média dos núcleos variou 0,26% e os serviços subjacentes subiram apenas 0,19%.
Ele citou também que, quando são observadas as médias móveis trimestrais com ajuste sazonal e anualizadas dessas duas medidas, nota-se que ambas caminham para a meta de inflação do ano, de 3,25%. A média dos subjacentes recuou de 3,55% para 3,35% na comparação mensal e os núcleos passaram de 3,48% para 3,43%. “Bastante comportados e também dentro do intervalo da meta”, afirmou.
Dentro de subjacentes, ele chamou a atenção para uma aceleração na alimentação fora do domicílio (0,42% no mês contra mês). Mas outras métricas surpreenderam para baixo, como como seguro voluntário e aluguel de veículos.
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Outra surpresa citada por Maluf foi em bens industriais, especialmente no preços de automóveis novos, que caíram 0,32% em outubro.
O economista chefe da Suno Research, Gustavo Sung, comentou que o IPCA corrobora o cenário esperado de inflação controlada. “Esse contexto dá segurança para que o banco central continue realizando cortes na taxa de juros. Além disso, o boletim Focus continua mostrando estabilidade das expectativas de inflação”, afirmou, lembrando que as estimativas mais longas ainda estão acima da meta de 3,0% por conta de incertezas no campo fiscal.
“É preciso que a inflação continue dando sinais claros de convergência para meta, principalmente as medidas subjacentes. Na reunião de dezembro (do Copom), nossa expectativa é de corte de 50 bps, levando a taxa Selic a 11,75%. no final de 2023. Para janeiro, enxergamos uma queda de mesma magnitude”, previu.
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Na projeção da Suno, a inflação deve arrefecer até o fim do ano, chegando a 4,62% no encerramento de 2023.
Industriais surpreendem
Rafael Costa, analista do time de estratégia macro da BGC Liquidez, avaliou que a maior surpresa baixista em outubro foi a inflação menor que esperada no grupo de industriais, que caiu 6 pontos base além das estimativas, citando, além dos automóveis, os preços de higiene pessoal.
No segmento de preços monitorados, ele citou a queda maior que a estimada nos preços da gasolina.
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“O resultado de hoje confirmou os bons detalhes que foram registrados no IPCA-15 de outubro em relação aos segmentos mais acompanhados pelo Banco Central para avaliação do processo desinflacionário. Em suma, foi um resultado favorável”, afirmou.
Laura Moraes, economista da Neo Investimentos, também citou a surpresa de baixa nos bens industriais, especialmente por outubro ser o mês que antecede a Black Friday, quando é comum acontecer alguma tentativa de elevar os preços.
“O IPCA de industriais se beneficia de uma reversão importante dos preços no atacado e de um nível de estoques alto. No entanto, essa fonte de desinflação vinda do atacado parece estar se esgotando, tendo em vista a estabilização no IGP”, alerta.
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Laura citou também como ponto de atenção a piora no itens de alimentação in-natura (+3,56% após cair -1,80% no mês anterior) que parece refletir o começo do impacto do fenômeno climático do El-Niño. “A inflação dessa categoria vinha mostrando fortes quedas em todas as frentes”, comparou. “Continuamos vendo os fundamentos apontando para uma inflação relativamente baixa na parte de alimentos, embora acreditemos que o melhor momento já ficou para trás.”
Para a política monetária, a economistas da Neo Investimentos disse que o dado de outubro confirma uma inflação bem-comportada aqui no Brasil. “Acredito que se não fosse a conjuntura externa piorando o balanço de riscos e exigindo cautela na atuação do BC, estaríamos discutindo uma aceleração dos cortes de SELIC”, opinou.
“A inflação corrente benigna dá respaldo para que o ciclo de cortes continue avançando e por isso mantemos a projeção de Selic terminal em 9% que já embute uma expectativa de inflação longa desancorada.”
Reaceleração em alimentos
Para Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, a leitura qualitativa de inflação continuou benigna, especialmente devido à medida de serviços subjacentes, que seguiu desacelerando. “A média dos núcleos também teve baixa variação em outubro, dentro do intervalo da meta, uma boa notícia para o BC Central”, disse.
Mesmo a reaceleração da inflação de bens em outubro, como em alimentos, artigos para casa e vestuário, não traz maiores preocupações, segundo a economista, por estar dentro do esperado. “O Copom deve seguir o curso de cortes de 50 pontos nas próximas reuniões, o que é um ritmo até moderado considerando a queda da inflação maior que o esperado, mas atendendo a visão de cautela devido ao risco externo maior, com juros mais elevados nos EUA e maior incerteza no cenário lá fora”, analisou Rafaela.
André Nunes de Nunes, economista chefe do Sicredi, observou que as principais contribuições negativas na inflação de outubro vieram do grupo de monitorados, como energia elétrica (-0,58%) e derivados de petróleo. Nas métricas de núcleos, ele também citou a surpresa com os bens industriais “Além do recuo maior que o previsto em veículos, também mostrou uma fraqueza nos bens semiduráveis”, disse.
Sobre a reaceleração na inflação da alimentação no domicílio, já prevista, Nunes afirmou que, nas próximas leituras, deve haver uma contribuição positiva nas carnes, enquanto leite e derivados devem continuar compensando para baixo.
A partir dos últimos dados, a economista Claudia Moreno, disse que o C6 Bank revisou sua projeção para o IPCA de 2023 de 5,2% para 4,8%. Especialmente porque os preços de alimentos no atacado virem mais fracos do que o antecipado e pela perspectiva de um câmbio menos pressionado até o final do ano. “Para 2024, nossa previsão é que a inflação fique em 5,5%”, estimou.
O C6 Bank também aposta que o BC vai manter o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual na Selic e projeta uma taxa de juros básica em 11,75% ao final de 2023 e em 9,25% ao final de 2024.
João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, também comentou que o IPCA mostrou resultado abaixo do esperado na margem e novamente com uma abertura benigna. “A despeito de serviços terem acelerado ligeiramente no mês, essa dinâmica se deveu a itens voláteis, especialmente passagem aérea”, explicou
Além disso, a alimentação no domicílio reverteu a deflação dos últimos meses, mas a alta seguiu bastante concentrada em itens in natura, segundo sua análise. “Os demais itens que compõem o IPCA mostraram um qualitativo muito benigno, com o índice de difusão se mantendo baixo e as diversas medidas de núcleos bem-comportadas e voltando a ficar dentro da meta de inflação”, ponderou.
“Chamamos a atenção para o movimento de bens industriais, que surpreenderam com uma dinâmica mais favorável que a esperada, possivelmente refletindo alguma antecipação da Black Friday em novembro. Assim, as aberturas do dado de hoje reforçam a dinâmica recente da inflação no país e o plano de voo do Banco Central no ciclo de cortes de juros.”
Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, em termos de política monetária, o resultado de hoje do IPCA pode ser considerado positivo se analisado sob a perspectiva da busca pela retomada da estabilidade de preços. Esta hipótese se sustenta quando analisamos o resultado sob a ótica das categorias de preço que compõem o indicador.
“Existe uma continuidade dos efeitos positivos sobre a inflação, que acontece por meio do encarecimento do crédito destinado aos consumidores e tem inibido o acesso à bens como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, que, como é sabido, são extremamente sensíveis às variações do ciclo econômico e alterações da taxa de juros”, explicou. “Este conjunto de fatores corrobora a hipótese de manutenção da queda nos juros em 50 pontos no Copom de dezembro, a despeito do cenário internacional”, complementou.
Júlio Hegedus, economista da Mirae Asset, também tem a percepção de que a desinflação em curso abre espaço para o BC seguir cortando a Selic em 0,50 ponto percentual a cada reunião do Copom, embora sigam no radar os desafios do front fiscal.