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O ambiente de crédito mais restrito por conta dos juros altos, o alto grau de endividamento das famílias e o ainda presente processo de mudanças nos padrões de consumo “pós-pandemia” afetaram o desempenho da vendas no varejo em novembro, mês de realização da Black Friday, avaliam economistas e analistas. Além disso, o penúltimo mês do ano sofreu o impacto da circulação menor de pessoas nos dias úteis com jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo
Análise do Banco Original assinada pelo economistas Marco Caruso e Eduardo Vilarim aponta que a queda de 0,6% divulgada pelo IBGE veio bastante abaixo da projeção interna, que estimava estabilidade (0,0%). O dado do varejo ampliado, métrica que inclui a participação das vendas de veículos e materiais de construção, também apresentou leitura de -0,6% no mês.
Os economistas afirmam que já esperavam uma Black Friday mais fraca do que em 2021, mas que as quedas dos combustíveis e nos supermercados chamaram a atenção. “O baixo desempenho da venda de combustíveis reflete a aceleração nos preços da gasolina (2,99%) e do etanol (7,57%) em novembro. Entendemos que o volume de vendas deva ser retomado em dezembro, quando as famílias se preparam para viajar em meio as festividades de fim de ano”, comentam.
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A retração nos supermercados, por sua vez, foi atribuída à desaceleração dos rendimentos médios, segundo dados do CAGED, e ao aumento dos preços de itens mais básicos que compõem a mesa do brasileiro. Os exemplos citados foram as altas do arroz (1,46%), milho em grão (4,63%), tomate (15,71%), frango inteiro (1,19%) e de algumas hortaliças e frutas.
A análise do Original atribuiu o desempenho mais fraco da Black Friday, a fatores como o encarecimento do crédito via aumento da Selic, ao comprometimento de renda e endividamento da população e à desaceleração do mercado de trabalho. Também entram nessa lista a diminuição dos descontos em função de uma margem mais apertada do setor e as mudanças nos padrões de demanda do consumidor.
Nesse último ponto, o banco cita que “o aumento da mobilidade urbana provocado pelo avanço da vacinação levou a uma demanda mais explosiva das compras de roupas e calçados no início do ano”. Isso se configurou, segundo os economistas, numa antecipação do consumo, que retirou a demanda desse período de vendas. “Ainda assim, móveis e eletrodomésticos (2,2%) performaram bem.”
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Para dezembro, a projeção preliminar do Original considera uma queda de 0,3% do varejo ampliado, consequência dos recuos no quadro de situação atual, a partir de dados da sondagem do comércio da FGV. Também devem contribuir para isso a elevação do IPCA (0,62%) acima das expectativas e queda no licenciamento de veículos leves, divulgada pela Fenabrave. “Assim, o setor deve fechar o ano com uma queda acumulada de 0,7%”, preveem os economistas.
A XP Investimentos também atribui boa parte do fraco desempenho em novembro pela realização da Copa do Mundo no período – que afetou a mobilidade das pessoas -, combinado com um aumento marginal nos preços dos combustíveis após vários meses de queda. Além disso, as categorias de Material e Equipamentos para Escritório, Informática e Comunicação (-3,4% na leitura mensal) e Tecidos, Vestuário e Calçados (-0,8%), em sua terceira retração consecutiva, apresentaram números considerado bastante fracos.
No lado positivo, foi citada a expansão em Móveis e Eletrodomésticos (+2,5%), Materiais de Construção (+3,0%), este último encerrando uma longa série de sete quedas consecutivas, e Farmacêuticos, Produtos Médicos, Higiene Pessoal e Cosméticos ( +1,7%). O resultado nessas categoria, no entanto pode ter sido pontual, relacionado aos descontos durante a campanha promocional da Black Friday. “Em nossa opinião, a maioria desses setores não deve crescer de forma consistente nos próximos meses”, comenta o economista Rodolfo Margato em relatório da XP.
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A projeção de Margato é de um aumento modesto para o varejo em geral nas próximas pesquisas. “Em suma, as condições monetárias mais apertadas e o elevado índice de serviço da dívida das famílias são fatores contrários importantes para este ano. Por outro lado, o aumento do rendimento disponível real das famílias deverá atenuar o arrefecimento em curso da procura”, afirma.
Segundo o economista da XP, a recuperação do mercado de trabalho, embora mais branda nos últimos meses, aliada a estímulos fiscais de curto prazo devem trazer um “efeito amortecedor” para as vendas reais no varejo à frente. “No entanto, espera-se que as vendas reais dos mais sensíveis ao crédito apresentem tendência de queda, em linha com as condições monetárias mais restritivas e o elevado índice de serviço da dívida das famílias, diz
Desempenhos distintos
O BTG Pactual destaca em relatório que o índice de difusão das vendas varejistas desacelerou para 40% em novembro, levando a média móvel de 3 meses para 53%. “Setorialmente, a leitura passou sentimento misto, com os dados positivos concentrados em setores beneficiados por vetores sazonais (Black Friday), enquanto os grupos que registraram recuo têm sido deprimidos pelo aumento da inadimplência, elevado endividamento das famílias e a continuidade do processo de substituição de bens e serviços.”
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O banco cita que a cesta de segmentos que sofrem mais impacto do aumento da renda apresentou queda de 0,8% em bens essenciais e retração de 0,7% em bens não essenciais. A cesta de bens relacionados ao ciclo juros, por sua vez, registrou avanço de 1,2% no mês, após recuar 1,6% em outubro.
O BTG diz não esperar para 2023 mudanças significativas no cenário varejista, tendo como vetor positivo o mercado de trabalho fortalecido e o aumento do salário-mínimo, o que deve beneficiar os grupos de Alimentos e Bebidas e Farmacêuticos. “Os grupos de Vestuários e Artigos Pessoais também podem ser beneficiados por estes vetores, mas de maneira mais branda dado o caráter não essencial dos Bens”, diz o relatório.
A análise sugere cautela com os segmentos dependentes de financiamento (Veículos, Material de Construção, Eletrodomésticos), que já vêm sendo impactados pelo encarecimento do crédito e consequente aumento da inadimplência, que em segmentos como a aquisição de bens e cartão de crédito já atingiu patamares próximos ao observado em 2016. “Além disso, entendemos que os Bens Duráveis encontram uma demanda saturada após consumo no período pandêmico e de juros em mínimas históricas”, pondera.
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Já o Goldman Sachs, em relatório assinado por Alberto Ramos, considera que a queda das vendas varejistas acima do previsto em novembro reflete as condições financeiras domésticas apertadas e à erosão da confiança do consumidor, que devem continuar a gerar ventos contrários para a atividade nos próximos meses. “Do lado positivo, a moderação da inflação (apoiando os salários reais) e generosas transferências fiscais em dinheiro para famílias com alta propensão a consumir devem oferecer algum suporte de curto prazo à atividade varejista.”