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Um ataque aéreo ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, matou na noite de ontem (2) o chefe da Guarda Revolucionária do Irã, Qassem Soleimani, considerado um dos homens mais poderosos de Teerã.
Isso desencadeou uma escalada de tensões que leva a uma forte alta do petróleo e queda das bolsas internacionais neste início de ano, que havia começado com tom positivo, depois de um ano brilhante para a maioria das classes de ativos em 2019: as ações dos EUA registraram um dos melhores anos da década passada.
O ataque ocorreu em Bagdá, no Iraque, onde o chefe militar estava participando de reuniões com milícias locais, já que o Irã tem aumentado cada vez mais sua presença no território vizinho.
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Ao menos quatro foguetes atingiram o aeroporto internacional da capital iraquiana. Segundo o Departamento de Defesa dos EUA, o general Soleimani estaria desenvolvendo ativamente planos para atacar diplomatas e militares americanos no Iraque e em toda a região.
Qassem Soleimani, de 62 anos, era major-general da Força Al Quds, unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã, e apontado como o principal estrategista militar e geopolítico do país. Ele era muito próximo do aiatolá Ali Khamenei e sobreviveu a diversas tentativas de assassinato nas últimas décadas.
Considerado um herói no Irã, Soleimani tem sido chamado de mártir. De acordo com a imprensa americana, ele era tido como o número dois do país, atrás apenas de Khamenei, e era cotado para ser o sucessor do aiatolá. Teerã decretou luto de três dias. Além dele, morreram no ataque outras cinco pessoas e Abu Mahdi al-Muhandis, chefe das Forças de Mobilização Popular do Iraque, milícia apoiada pelo Irã.
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O Pentágono confirmou o ataque e disse que a ordem partiu de Trump. Em comunicado, o Pentágono também acusou Soleimani pela morte de americanos no Oriente Médio e justificou que os bombardeios tinham como objetivo deter os planos de ataques futuros do Iraque.
No campo doméstico, a decisão de Trump tem sido considerada arriscada. Não se sabe se o presidente chegou a avisar o Congresso de que poderia autorizar o ataque. Caso nenhum parlamentar tenha sido alertado com antecedência, o republicano corre o risco de perder apoio no Senado, que votará em breve seu processo de impeachment, o que eleva ainda mais os temores dos investidores.
O ataque também gerou uma grande repercussão internacional e provocou mais tensão entre os Estados Unidos e o Irã. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu aumentar a resistência contra os EUA e Israel, um grande aliado americano e desavença de Teerã.
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“Todos os inimigos devem saber que a jihad de resistência continuará com uma motivação dobrada, e uma vitória definitiva aguarda os combatentes na guerra santa”, afirmou Khamenei.
”Uma severa retaliação aguarda assassinos que têm o sangue de Soleimani e de outros mártires nas mãos perversas do incidente da noite passada”, disse ainda.
O líder supremo iraniano também nomeou imediatamente Esmail Qaani como substituto de Soleimani no comando da Força Al Quds.
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O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, afirmou em uma rede social que a morte de Soleimani é um “ato de terrorismo” dos EUA “extremamente perigoso e uma escalada tola”.
”Nenhum lugar será seguro para os americanos a partir de agora, após o assassinato de Soleimani”, afirmou Heshmatollah Falahatpisheh, membro da comissão de segurança nacional do parlamento iraniano, segundo o ICANA, o serviço oficial de notícias do órgão.
A embaixada dos Estados Unidos em Bagdá orientou que os cidadãos americanos deixem o Iraque o quanto antes. Na terça-feira (31), a sede foi alvo de um ataque de iraquianos xiitas.
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Petróleo em forte alta
Uma hora após a confirmação da morte de Soleimani, os preços do petróleo no mercado internacional já sofriam com altas de cerca de 4%. O barril brent chegou a ser vendido a US$ 68,90.
As companhias petrolíferas estrangeiras que atuam na região de Bassora, no Iraque, perto da fronteira com o Irã, ordenaram a evacuação de dezenas de funcionários.
A notícia pode ter impacto sobre a Petrobras (PETR3;PETR4) apesar de que, nesta sessão, os ganhos da companhia sejam mais tímidos. Hoje, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que tentou falar com o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, sobre uma possível alta de combustíveis no país devido ao ataque, mas ainda não conseguiu.
Bolsonaro admitiu que a ação dos EUA vai impactar o preço do petróleo no mercado internacional, o que pode repercutir no Brasil. “Que vai afetar, vai”, disse ele a jornalistas. O presidente disse ainda que não pode intervir no preço do combustível e que a adoção do tabelamento de preços no passado não deu certo.
De acordo com analistas ouvidos pela CNBC, o preço do barril de petróleo pode ter uma escalada para US$ 80 se o conflito entre Estados Unidos e o Irã se intensificar.
“Uma coisa é certa: o Irã responderá”, disseram analistas do Eurasia Group, em Nova York. “Os preços do barril de petróleo muito provavelmente vão se aproximar dos US$ 70, mas podem ter uma escalada para US$ 80 se o conflito se estender aos campos petrolíferos do Sul do Iraque ou se o Irã intensificar o assédio aos petroleiros no Golfo Pérsico”, comentou o Eurasia.
“Se não houver uma escalada no conflito, então este aumento provavelmente será o bastante por agora”, disse James Athey, gestor sênior de investimentos na Aberdeen Standard Investments à CNBC News na manhã de hoje. “Mas parece ter ocorrido uma escalada grave, por isto eu acredito que o mercado ficará sob tensão a partir de agora”, comentou.
Com relação ao Brasil, após o Ibovespa atingir nova máxima histórica acima de 118 mil pontos, o índice sente o impacto pela percepção de risco geopolítico elevada, registrando baixa, enquanto o dólar avança, chegando a subir 1% na sessão e superando os R$ 4,06.
Porém, conforme destaca a XP Investimentos, a visão estrutural segue positiva para a bolsa brasileira, tendo em vista o cenário de (i) crescimento acelerando; (ii) reformas em andamento e (iii) taxas de juros mais baixas. “Mas ressaltamos que a incerteza em relação a extensão da disputa Irã-EUA pode continuar gerando volatilidade para os mercados no curto prazo”, avalia.
Já as bolsas europeias registram uma sessão de forte queda, com destaque para o DAX e o FTSE MIB, com baixa superior a 1%, enquanto os contratos futuros das bolsas americanas caem mais de 1% (baixa de 1,33% para o S&P500, 1,48% para o Nasdaq e 1,20% para o Dow Jones).
De acordo com Valentin Marinov, chefe da pesquisa de câmbio G-10 do Crédit Agricole, o momento da escalada foi “infeliz”. Isso poderia “frustrar as esperanças do mercado de uma recuperação da economia global que ainda deve emergir sob a nuvem da guerra comercial EUA-China. O sentimento de risco deve permanecer frágil também porque os bancos centrais podem demorar para responder ou simplesmente não têm mais o arsenal para responder de maneira adequada”, afirmou para a Bloomberg.
Enquanto isso, há quem não veja com tantos temores para o mercado esse novo foco de tensão geopolítica. Alberto Tocchio, diretor de investimentos da Colombo Wealth em Lugano, na Suíça, apontou à agência que a ameaça de “retaliação severa” possivelmente é o que está assustando os mercados, “pois pode significar que haverá um contra-ataque direcionado a diplomatas americanos. Os mercados poderiam usar essa desculpa para realizar um pouco de lucro”. “Usaríamos a possível fraqueza para aumentar nossa exposição a ações”, disse Tocchio.
Para Edward Lim, gestor de recursos da Covenant Capital, o ataque dos EUA “apenas destaca o risco geopolítico dos mercados de petróleo”. “Não fizemos nada depois da notícia, pois já havíamos comprado algumas ações de petróleo, como [a chinesa] CNOOC e [a francesa] Total” quando a cotação era negociada perto de US$ 60 no fim de 2019, disse Lim.
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Repercussão internacional
Enquanto isso, diversos países demonstraram preocupação com o ataque. A China fez um apelo por calma, “especialmente aos Estados Unidos”. “Fazemos um apelo às partes envolvidas, especialmente aos Estados Unidos, para que se mantenha a calma e se evite uma escalada de tensão”, pediu um porta-voz de Pequim.
A Rússia, por sua vez, disse que a morte de Soleimani provocará mais tensões em todo o Oriente Médio. “Soleimani serviu com devoção a causa da proteção dos interesses nacionais iranianos. Expressamos nossas sinceras condolências ao povo iraquiano”, escreveu a agência Ria Novosti, citando o Ministério das Relações Exteriores.
Para a França, o ataque americano em Bagdá deixou o mundo “mais perigoso”. “O que queremos é, sobretudo, estabilidade e conter uma escalada”, afirmou a ministra francesa para a Europa, Amelie de Montchalin. Em uma coletiva de imprensa, a porta-voz do governo alemão, Ulrike Demmer, disse que Berlim está “preocupada” com “o perigoso momento de escalada” de tensão e pede “moderação” na região.
(Com Ansa Brasil e Bloomberg)
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