Como a morte de alto comandante do Irã elevou as tensões e interrompeu o forte ânimo das bolsas pelo mundo

Ataque promovido pelos EUA que culminou na morte de Qassem Soleimani foi considerado bastante arriscado

Equipe InfoMoney

Qasem Soleimani (Wikimedia Commons)
Qasem Soleimani (Wikimedia Commons)

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Um ataque aéreo ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, matou na noite de ontem (2) o chefe da Guarda Revolucionária do Irã, Qassem Soleimani, considerado um dos homens mais poderosos de Teerã.

Isso desencadeou uma escalada de tensões que leva a uma forte alta do petróleo e queda das bolsas internacionais neste início de ano, que havia começado com tom positivo, depois de um ano brilhante para a maioria das classes de ativos em 2019: as ações dos EUA registraram um dos melhores anos da década passada.

O ataque ocorreu em Bagdá, no Iraque, onde o chefe militar estava participando de reuniões com milícias locais, já que o Irã tem aumentado cada vez mais sua presença no território vizinho.

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Ao menos quatro foguetes atingiram o aeroporto internacional da capital iraquiana. Segundo o Departamento de Defesa dos EUA, o general Soleimani estaria desenvolvendo ativamente planos para atacar diplomatas e militares americanos no Iraque e em toda a região.

Qassem Soleimani, de 62 anos, era major-general da Força Al Quds, unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã, e apontado como o principal estrategista militar e geopolítico do país. Ele era muito próximo do aiatolá Ali Khamenei e sobreviveu a diversas tentativas de assassinato nas últimas décadas.

Considerado um herói no Irã, Soleimani tem sido chamado de mártir. De acordo com a imprensa americana, ele era tido como o número dois do país, atrás apenas de Khamenei, e era cotado para ser o sucessor do aiatolá. Teerã decretou luto de três dias. Além dele, morreram no ataque outras cinco pessoas e Abu Mahdi al-Muhandis, chefe das Forças de Mobilização Popular do Iraque, milícia apoiada pelo Irã.

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O Pentágono confirmou o ataque e disse que a ordem partiu de Trump. Em comunicado, o Pentágono também acusou Soleimani pela morte de americanos no Oriente Médio e justificou que os bombardeios tinham como objetivo deter os planos de ataques futuros do Iraque.

No campo doméstico, a decisão de Trump tem sido considerada arriscada. Não se sabe se o presidente chegou a avisar o Congresso de que poderia autorizar o ataque. Caso nenhum parlamentar tenha sido alertado com antecedência, o republicano corre o risco de perder apoio no Senado, que votará em breve seu processo de impeachment, o que eleva ainda mais os temores dos investidores.

O ataque também gerou uma grande repercussão internacional e provocou mais tensão entre os Estados Unidos e o Irã. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu aumentar a resistência contra os EUA e Israel, um grande aliado americano e desavença de Teerã.

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“Todos os inimigos devem saber que a jihad de resistência continuará com uma motivação dobrada, e uma vitória definitiva aguarda os combatentes na guerra santa”, afirmou Khamenei.

”Uma severa retaliação aguarda assassinos que têm o sangue de Soleimani e de outros mártires nas mãos perversas do incidente da noite passada”, disse ainda.

O líder supremo iraniano também nomeou imediatamente Esmail Qaani como substituto de Soleimani no comando da Força Al Quds.

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O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, afirmou em uma rede social que a morte de Soleimani é um “ato de terrorismo” dos EUA “extremamente perigoso e uma escalada tola”.

”Nenhum lugar será seguro para os americanos a partir de agora, após o assassinato de Soleimani”, afirmou Heshmatollah Falahatpisheh, membro da comissão de segurança nacional do parlamento iraniano, segundo o ICANA, o serviço oficial de notícias do órgão.

A embaixada dos Estados Unidos em Bagdá orientou que os cidadãos americanos deixem o Iraque o quanto antes. Na terça-feira (31), a sede foi alvo de um ataque de iraquianos xiitas.

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Petróleo em forte alta

Uma hora após a confirmação da morte de Soleimani, os preços do petróleo no mercado internacional já sofriam com altas de cerca de 4%. O barril brent chegou a ser vendido a US$ 68,90.

As companhias petrolíferas estrangeiras que atuam na região de Bassora, no Iraque, perto da fronteira com o Irã, ordenaram a evacuação de dezenas de funcionários.

A notícia pode ter impacto sobre a Petrobras (PETR3;PETR4) apesar de que, nesta sessão, os ganhos da companhia sejam mais tímidos. Hoje, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que tentou falar com o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, sobre uma possível alta de combustíveis no país devido ao ataque, mas ainda não conseguiu.

Bolsonaro admitiu que a ação dos EUA vai impactar o preço do petróleo no mercado internacional, o que pode repercutir no Brasil. “Que vai afetar, vai”, disse ele a jornalistas. O presidente disse ainda que não pode intervir no preço do combustível e que a adoção do tabelamento de preços no passado não deu certo.

De acordo com analistas ouvidos pela CNBC, o preço do barril de petróleo pode ter uma escalada para US$ 80 se o conflito entre Estados Unidos e o Irã se intensificar.

“Uma coisa é certa: o Irã responderá”, disseram analistas do Eurasia Group, em Nova York. “Os preços do barril de petróleo muito provavelmente vão se aproximar dos US$ 70, mas podem ter uma escalada para US$ 80 se o conflito se estender aos campos petrolíferos do Sul do Iraque ou se o Irã intensificar o assédio aos petroleiros no Golfo Pérsico”, comentou o Eurasia.

“Se não houver uma escalada no conflito, então este aumento provavelmente será o bastante por agora”, disse James Athey, gestor sênior de investimentos na Aberdeen Standard Investments à CNBC News na manhã de hoje. “Mas parece ter ocorrido uma escalada grave, por isto eu acredito que o mercado ficará sob tensão a partir de agora”, comentou.

Com relação ao Brasil, após o Ibovespa atingir nova máxima histórica acima de 118 mil pontos, o índice sente o impacto pela percepção de risco geopolítico elevada, registrando baixa, enquanto o dólar avança, chegando a subir 1% na sessão e superando os R$ 4,06.

Porém, conforme destaca a XP Investimentos, a visão estrutural segue positiva para a bolsa brasileira, tendo em vista o cenário de (i) crescimento acelerando; (ii) reformas em andamento e (iii) taxas de juros mais baixas. “Mas ressaltamos que a incerteza em relação a extensão da disputa Irã-EUA pode continuar gerando volatilidade para os mercados no curto prazo”, avalia.

Já as bolsas europeias registram uma sessão de forte queda, com destaque para o DAX e o FTSE MIB, com baixa superior a 1%, enquanto os contratos futuros das bolsas americanas caem mais de 1% (baixa de 1,33% para o S&P500, 1,48% para o Nasdaq e 1,20% para o Dow Jones).

De acordo com Valentin Marinov, chefe da pesquisa de câmbio G-10 do Crédit Agricole, o momento da escalada foi “infeliz”. Isso poderia “frustrar as esperanças do mercado de uma recuperação da economia global que ainda deve emergir sob a nuvem da guerra comercial EUA-China. O sentimento de risco deve permanecer frágil também porque os bancos centrais podem demorar para responder ou simplesmente não têm mais o arsenal para responder de maneira adequada”, afirmou para a Bloomberg.

Enquanto isso, há quem não veja com tantos temores para o mercado esse novo foco de tensão geopolítica. Alberto Tocchio, diretor de investimentos da Colombo Wealth em Lugano, na Suíça, apontou à agência que a ameaça de “retaliação severa” possivelmente é o que está assustando os mercados, “pois pode significar que haverá um contra-ataque direcionado a diplomatas americanos. Os mercados poderiam usar essa desculpa para realizar um pouco de lucro”. “Usaríamos a possível fraqueza para aumentar nossa exposição a ações”, disse Tocchio.

Para Edward Lim, gestor de recursos da Covenant Capital, o ataque dos EUA “apenas destaca o risco geopolítico dos mercados de petróleo”. “Não fizemos nada depois da notícia, pois já havíamos comprado algumas ações de petróleo, como [a chinesa] CNOOC e [a francesa] Total” quando a cotação era negociada perto de US$ 60 no fim de 2019, disse Lim.

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Repercussão internacional

Enquanto isso, diversos países  demonstraram preocupação com o ataque. A China fez um apelo por calma, “especialmente aos Estados Unidos”. “Fazemos um apelo às partes envolvidas, especialmente aos Estados Unidos, para que se mantenha a calma e se evite uma escalada de tensão”, pediu um porta-voz de Pequim.

A Rússia, por sua vez, disse que a morte de Soleimani provocará mais tensões em todo o Oriente Médio. “Soleimani serviu com devoção a causa da proteção dos interesses nacionais iranianos. Expressamos nossas sinceras condolências ao povo iraquiano”, escreveu a agência Ria Novosti, citando o Ministério das Relações Exteriores.

Para a França, o ataque americano em Bagdá deixou o mundo “mais perigoso”. “O que queremos é, sobretudo, estabilidade e conter uma escalada”, afirmou a ministra francesa para a Europa, Amelie de Montchalin. Em uma coletiva de imprensa, a porta-voz do governo alemão, Ulrike Demmer, disse que Berlim está “preocupada” com “o perigoso momento de escalada” de tensão e pede “moderação” na região.

(Com Ansa Brasil e Bloomberg)

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