Com cinco anos de Reforma Trabalhista, produtividade ainda patina no Brasil

Segundo FGV, aspectos macroeconômicos têm impedido que reformas estruturais garantam os desejados ganhos de eficiência

Roberto de Lira

(Getty Images)
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Com cinco anos de vigência, a Reforma Trabalhista ainda não conseguiu atingir um dos ganhos que seus defensores previam: um avanço significativo da produtividade nacional. Essa medida da eficiência do processo produtivo continua empacada no País, seja em seu conceito mais simples – aquele que relaciona a quantidade produzida com o tempo necessário para sua conclusão -, seja nas medições mais complexas, que relacionam outros fatores qualitativos. Quais os motivos para esse quadro?

Colocado num contexto histórico, o Brasil não é conhecido por obter saltos em produtividade. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a produtividade por hora trabalhada no País avançou 0,7% ao ano entre 1990 e 2000 e cresceu para uma taxa de 1,6% anuais no período entre 2000 e 2010. Num período mais recente Já no período recente, entre 2014 e 2019, a produtividade recuou 0,3% ao ano, seguindo fortes retrações tanto na taxa de ocupação como na jornada de trabalho.

Importante destacar que, no período da pandemia, houve uma com elevação atípica de 12,1% em 2020, seguida por uma queda de 8,3% em 2021. A FGV informou num estudo que esses resultados refletiram os efeitos heterogêneos da crise sanitária sobre diferentes setores e grupos de trabalhadores, uma vez que os trabalhos informais e de baixa escolaridade oscilaram fortemente no período.

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Segundo o Observatório da Produtividade Regis Bonelli, da FGV/Ibre, a elevação da produtividade em 2020 foi temporária, tendo sido revertida ao longo de 2021 e cujo processo tem se mantido em 2022. “Este padrão transitório fica particularmente evidenciado quando consideramos a evolução da trajetória da produtividade do trabalho desde o quarto trimestre de 2019”, informou na penúltima semana do ano.

A Confederação nacional da Indústria (CNI) também faz suas medições e mostra resultados semelhantes. Segundo a entidade, entre 2000 e 2018, a produtividade do trabalho na indústria nacional cresceu, em média 0,7%. Numa comparação com exemplos mundiais desse indicador, o índice anual da Coreia do Sul, por exemplo, foi de 4,3% anuais em média no mesmo período.

Sobre os motivos de a Reforma Trabalhista ainda não ter contribuído para uma alteração dessa tendência, Fernando Veloso, coordenador do Observatório da FGV/Ibre, pondera que os ganhos de eficiência dessa mudança nas relações de trabalho constitui apenas uma parte do processo. Segundo ele, o crescimento do indicador depende da conjunção de três fatores: estabilidade macroeconômica, reformas visando a melhora do ambiente de negócios e da eficiência da economia, e o crescimento da economia mundial.

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Ele vê efeitos positivos da reforma da CLT, especialmente a prevalência do negociado ante o legislado e a redução de incertezas por decisões da Justiça Trabalhistas. Mudanças no mercado de crédito às empresa e aprovação de marcos regulatórios em várias áreas também contribuíram para uma busca de mais eficiência nos investimentos produtivos, segundo o especialistas.

Mas ele destaca que o “macro atrapalhou muito” nos último anos. Segundo ele, a pandemia de covid-19 e a turbulência fiscal que se seguiu a essa crise e que ainda permanece motivou um ciclo de alta nos juros que deprime os investimentos, agindo na direção contrária ao que as reformas micro e macroeconômicas apontavam. “Precisamos de mais estabilidade macroeconômica”, defende.

Para ele, vai ser preciso tempo para que a Reforma mostre seus efeitos, que serão sentido no longo prazo. “leva alguma tempo para aparecer porque os empregos precisam se organizar, se readaptar às mudanças e à introdução de novas tecnologias”, afirma. Um exemplo da defasagem brasileira, segundo o economistas, é uma pesquisa que aponta que o potencial do trabalho remoto nos Estados Unidos é de 30% da força de trabalho, enquanto no Brasil alcança 18%.

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Num seminário realizado este mês, Veloso e Fernando de Holanda Barbosa Filho, outro pesquisador do Ibre, alertaram, no entanto, que tão importante quanto avançar em reformas é ser efetivo em brecar a contrarreformas. Um dos exemplos citados por Veloso é proposta de reforma da Lei das Estatais que tramita no Congresso e que inclui mudanças regulatórias no campo das agências regulatórias.