Ata do Fomc foi cuidadosa, mas comentários sugerem que ciclo de alta de juros acabou, dizem economistas

Para especialistas, "porta aberta" para nova alta serve para controlar expectativas sobre duração do período de política ainda restritiva

Roberto de Lira

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A ata do Fomc divulgada nesta terça-feira (21) pelo Federal Reserve, manteve o tom cauteloso tanto dos comunicados anteriores como das recentes declarações de integrantes do comitê que define e a política monetária dos EUA, mas os economistas leram no conteúdo de hoje sinais de que o ciclo de alta de juros já se encerrou. A “porta aberta” para um acréscimo nas taxas, comentaram, está ligada a incertezas no cenário externo.

Nicolas Borsoi, economista chefe da Nova Futura Investimentos, afirma que sob o tom conservador da ata, o Fed busca manter as taxas de juros em níveis restritivos, impedindo um alívio das condições financeiras, o que frustraria a desinflação atual.

“Acredito que a ata do Fomc deve impactar pouco os mercados. Desde a decisão do Fed (em 1º de novembro), já ouve um alívio significativo das taxas de juros de mercado e uma melhora nos dados de inflação, invalidando boa parte dos argumentos da ata, analisou. “Não projeto novas altas de juros e acredito que é um texto em linha com o fim do ciclo”, afirmou.

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Borsoi chamou a atenção para a observação feita no documento de que a alta dos juros longos está mais relacionada à subida nos prêmios de termo, o que pode ter relação com uma taxa real de juros neutra mais alta, maior incerteza fiscal e resiliência da economia. Também foi comentado que uma elevada incerteza sobre a duração desse fenômeno e que, caso a elevação dos juros seja duradoura, seria necessário alterar os rumos da política monetária.

“No entanto, o cenário sugere a manutenção dos juros em níveis restritivos por um tempo e que a redução de balanço deve continuar à frente, mesmo que o Fed inicie o processo de corte de juros.”

Andressa Durão, economista da ASA Investments, por sua vez, classificou a ata como neutra em relação aos últimos discursos do Fed, mantendo o viés ‘hawkish’, como esperado. “Deixa a porta aberta para possíveis novas altas, a depender da totalidade dos dados, incluindo o movimento do juros de longo prazo, fator que pode alterar a trajetória da política monetária, se for persistente, independentemente do fator por trás do aumento, segundo o Fed.”

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Danilo Igliori, economista chefe da Nomad, comentou que a ata deu bastante destaque ao aperto das condições financeiras e de crédito, reconhecendo que elas devem pesar na atividade, nas contratações e na inflação. “Mas afirmaram não saber em que magnitude isto acontecerá”, ponderou.

“Apesar de deixar aberta a possibilidade de uma nova alta de juros, acredito que o conteúdo da ata reforça a visão que vem se consolidando no mercado e entre analistas: sem grandes mudanças no contexto o ciclo de alta provavelmente está encerrado. Mas a política monetária deve permanecer no campo restritivo por um bom período”, disse.

Sobre o momento no qual os juros começarão a cair e por quanto tempo, Igliori acredita que esse momento está mais para a segunda metade do ano que vem. “O resumo é que as coisas estão na direção certa, mas os números ainda não permitem descuidos, particularmente dada a piora no balanço de riscos internacionais. A chamada última etapa do processo de desinflação pós covid-19 pode ser mais longa do que o antecipado ou desejado”, comentou.

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Sávio Barbosa, economista chefe da Kínitro Capital, viu poucas novidades no documento, uma vez que a maioria dos participantes do Fomc concordou novamente sobre a necessidade de o Comitê se mover cuidadosamente. “Todos os participantes concordaram que a taxa de juros precisará se manter restritiva por algum tempo, até que a inflação mostre uma desaceleração sustentada em direção a meta”, destacou.

Para ele, a ata de hoje é compatível com a entrevista coletiva concedida por Jerome Powell após a última reunião e com as falas recentes dos membros do Fomc. “Eles seguem sustentando um discurso de ‘higher for longer’, tentando evitar que a curva de juros coloque ainda mais prêmios de cortes e afrouxe ainda mais de condições financeiras”, afirmou.

“Nossa visão é que a economia americana seguirá crescendo acima do potencial no início de 2024, o que torna mais provável o início do corte de juros no 2º semestre do próximo ano.”