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(Bloomberg) — Armínio Fraga viu sua cota de crises financeiras em seus 63 anos. “Por ser um veterano, tenho memórias e cicatrizes de eventos como este”, diz o ex-presidente do Banco Central do Brasil.
E quando ele olha para as finanças do Brasil hoje, vê sinais reveladores de que outra crise pode estar se formando em meio à pandemia.
O ex-presidente do BC cita cada um deles rapidamente: uma moeda em queda, expectativas de inflação em alta e um governo lutando para evitar que os investidores preocupados tirem mais dinheiro do país por meio da redução do prazo de vencimento de sua dívida.
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“O Tesouro reduz o prazo de vencimento final e o prazo médio de vencimento dos títulos, tomando um risco que em algum ponto é material combustível, é dinheiro na mão das pessoas”, disse Fraga, que já trabalhou com George Soros e que hoje dirige seu próprio fundo de hedge no Rio de Janeiro, em entrevista por meio de vídeo.
“O equivalente a mais de 50% do PIB vence em um ano se você incluir as operações compromissadas que estão no balanço do Banco Central.”
Fraga poliu suas credenciais como combatente da crise que abateu a inflação em 1999, quando aumentou as taxas de juros de referência para 45% ao ano em seu primeiro dia como presidente do Banco Central. Desta vez, porém, ele considera que uma ação na frente fiscal, e não na monetária, é necessária para recuperar a confiança dos investidores.
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Não é por acaso que os investidores estão evitando o Brasil, apesar de uma liquidez recorde nos mercados globais. O real é a moeda com o pior desempenho entre as principais divisas globais em relação ao dólar este ano, enquanto o Ibovespa está abaixo do desempenho em relação a vários pares e a curva de juros futuros está pressionada, indicando incertezas fiscais. Pelo segundo ano consecutivo, a saída de investimentos estrangeiros da bolsa atinge recordes.
Nova âncora
Sócio da gestora Gávea Investimentos, Fraga acredita que o teto dos gastos precisa ser revisto. Embora os investidores possam desaprovar a ideia no início, o que Fraga propõe é um plano de várias etapas que incluiria uma nova reforma da Previdência, administrativa, uma revisão tributária e uma nova âncora orçamentária para atingir o superávit primário no curto prazo.
Até agora, o ministro da Economia, Paulo Guedes, parece às vezes pregar no deserto sobre a importância das reformas, diz Fraga, enquanto o presidente Jair Bolsonaro vai acrescentando obstáculos às medidas que prejudicariam os servidores públicos e outros grupos de pressão.
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“Parece aos observadores políticos que muito disso está ligado à reeleição”, disse Fraga. “É bom manter um limite nos gastos e investimentos do governo por mais um ano, mas do que precisamos é de uma segunda âncora para o déficit primário, precisamos nos livrar disso.”
O Brasil aumentou os gastos sociais para enfrentar a retração econômica das medidas de combate ao coronavírus. Vários bilhões para os trabalhadores informais foram a principal estratégia, já que o governo conseguiu evitar uma desaceleração econômica pior em comparação com outros pares emergentes, e o início da recuperação foi acentuado.
Como o déficit fiscal pode chegar a 17% do PIB até o final do ano, inviabilizando a perspectiva de uma ajuda prolongada, são grandes as dúvidas sobre o ritmo de recuperação a partir do próximo ano, especialmente porque a taxa de desemprego pode subir para mais de 20%.
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“Há potencial para uma crise, a economia ainda está fraca, o desemprego pode chegar a mais de 20% se tivermos um abismo fiscal”, disse Fraga. “Eu não vejo as coisas se acalmando se não fizermos as coisas básicas do lado fiscal, eu realmente não vejo.”