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A desaceleração da inflação e o crescimento da renda, suportado por um mercado de trabalho ainda aquecido, tem contribuído para uma resiliência nas vendas do varejo, mesmo num momento em que o impacto da taxa de juros em patamares altos tem aparecido em diversos indicadores. Os economistas destacam que o desempenho do comercio varejista manteve a tendência de aquecimento nos segmentos sensíveis à renda e de contenção naqueles mais dependentes do crédito.
Segundo os dados do IBGE, as vendas no varejo ampliado – que inclui veículos, materiais de construção e atacarejo – subiram apenas 0,2% em setembro na comparação com agosto. No conceito restrito, que exclui esses segmentos, a alta foi de 0,6%.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, comenta que a leve alta no varejo ampliado superou sua estimativa de queda de 0,1% no mês e que a principal surpresa negativa do mês veio do segmento de atacarejo. Na comparação anual, as vendas subiram 7%, ante projeção de alta de 11,6%.
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“Nossa previsão é que o varejo ampliado termine o ano com crescimento de 2,9%. Essa perda de fôlego mostra como os juros altos impactam a economia, inibindo o consumo, principalmente dos setores sensíveis ao crédito”, explica.
Já nos segmentos sensíveis a renda, como supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, setembro trouxe o quarto mês seguido de crescimento. “A recuperação da renda média contribui para esse comportamento positivo”, analisa Claudia.
A economista do C6 Bank diz que, Com o dado divulgado hoje, o varejo ampliado encerrou o 3º trimestre estável em relação ao trimestre anterior. “O resultado da PMC reforça nossa visão de que veremos uma desaceleração da atividade no segundo semestre, com grandes chances de contração do PIB no terceiro trimestre. Nossa previsão para o crescimento do PIB de 2023 é de 3%, com viés de baixa. Para 2024, o crescimento deve ser de 1,5%”, prevê.
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Rafael Perez, da Suno Research, também destacou o forte impactos das vendas mais ligadas à renda, como a dos segmentos de supermercados, alimentos e bebidas, além de móveis e eletrodomésticos, com aumentos de 1,6% e 2,1%, respectivamente.
No entanto, ele alerta que o cenário doméstico ainda deve impedir uma retomada mais robusta do comércio, por conta do elevado endividamento e da alta inadimplência entre as famílias, o que tende a limitar o potencial de consumo e a demanda por crédito.
“Porém, estes resultados de setembro mostram que o varejo deve ser beneficiado pela queda na inflação, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento da massa salarial. Eventos como Black Friday e festas de final de ano também podem trazer algum fôlego para o setor, contribuindo para uma menor desaceleração da atividade econômica no último trimestre”, pondera.
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Os economistas Marco Antonio Caruso e Igor Cadilhac, do PicPay, afirmam em nota que os números surpreenderam positivamente, mas que as altas ficaram concentradas em poucas atividades. De fato, das oito atividades de pesquisa do varejo restrito, cinco tiveram resultados negativos em setembro.
“Parte desse movimento ainda está relacionado à crise contábil de grandes varejistas reconhecidas este ano. Por outro lado, no campo positivo, os hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, de maior peso na pesquisa, vêm se beneficiando de um aumento da massa de rendimento e da desinflação no setor alimentício”, explicam
Já no varejo ampliado, as aberturas ficaram no campo negativo. Os veículos, motos, partes e peças, por exemplo, devolveram parte do ganho expressivo observado em agosto e recuaram 0,9%. As vendas de materiais de construção foram impactadas pelo forte regime de chuvas registrados em setembro, especialmente nos estados do Sul, caindo 2%.
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“Olhando à frente, o resultado observado sinaliza um movimento em linha com a nossa percepção mais otimista para o varejo restrito até o final do ano. Os incentivos à renegociação de dívidas, em conjunto com um mercado de trabalho aquecido, devem contribuir para uma maior confiança das famílias e propensão ao consumo”, avaliam.
Eles destacam ainda que foi observada recentemente uma redução, ainda inicial, no comprometimento de renda e na inadimplência.
A leitura da XP Investimentos é que as condições de crédito restritivas e o elevado endividamento das famílias seguem pesando sobre o varejo. No entanto, o alívio na inflação de curto prazo e a recuperação do mercado de trabalho têm fornecido sustentação para algumas atividades varejistas.
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“As diferenças entre as atividades mais sensíveis ao crédito e mais sensíveis à renda persistem. Em linhas gerais, o consumo das famílias vem perdendo força no período recente”, comentou a XP em sua análise.
O XP Tracker para o PIB do 3º trimestre indica queda de 0,3% ante o 2º trimestre – e elevação de 1,8% ante o 3º trimestre de 2022 -, o que reforça a expectativa de crescimento de 2,8% em 2023 como um todo.
Para Maykon Douglas Feitosa, da HighPar, embora não mude a expectativa de PIB mais fraco no 3º trimestre, o número de vendas varejistas em setembro pode ser considerado uma novidade válida. “Mas é importante notar que se mantém o comportamento tímido do setor em termos qualitativos, com difusão mais baixa e concentração em itens de primeira necessidade, como alimentos. É um comportamento tradicional em momentos como o atual, em que os juros muito altos inibem o consumo de bens mais duráveis.”