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As irmãs Luciana Miranda e Ana Lúcia Miranda de Moura embarcaram na quinta-feira para férias na Patagônia argentina. Acostumada a viajar ao menos duas vezes por ano, Luciana sabia que o preço da passagem ficaria em torno de R$ 2,5 mil.
Mas, apesar de ter comprado com três meses de antecedência, pagou R$ 3,8 mil. Ana Lúcia, que vai para dois destinos do Sul da Argentina, com uma criança e um bebê, pagou mais de R$ 10 mil e conta que uma colega que comprou três dias depois teve de pagar R$ 14 mil para viajar com a filha.
Ainda que os preços estivessem nas alturas, elas não cogitaram mudar os planos das férias. “Achei bem caro, mas estava morrendo de saudade de ir para lugares diferentes. Queríamos levar as crianças para ver a neve”, diz Ana Lúcia.
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Com a ideia fixa de levar os filhos para a neve, porém, elas desistiram de ir a Ushuaia, cuja passagem era ainda mais cara, e optaram por hotel mais barato. Ainda reduziram o orçamento para passeios e restaurantes.
“Coisas que pagaríamos à vista, parcelamos. Mas não pensamos em desistir”, diz Luciana. São pessoas como Ana Lúcia e Luciana que estão garantindo a recuperação da demanda do setor aéreo. Após dois anos de pandemia e fronteiras fechadas, os consumidores estão encarando valores altos, mas boa parte, em todo o mundo, não abre mão de viajar.
No Brasil, o valor médio da passagem para voos domésticos está no patamar mais alto desde 2009 e, mesmo assim, a demanda atingiu, em abril, 90% da registrada no mesmo período de 2019. Naquela época, o preço médio pago pelo consumidor era 13% mais baixo que o atual. O mercado internacional, porém, ainda está em 66% do nível antes da Covid-19.
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Dados da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) apontam que a América Latina é hoje a segunda região com melhor recuperação da demanda, atrás apenas da América do Norte — a entidade não revela dados por país. A projeção é que a América Latina encerre o ano com 94,2% da demanda de 2019. A América do Norte deve atingir 95% e a Europa deve ficar com 82,7%.
“A indústria tem sido mais sustentável e robusta do que muitas pessoas esperariam. Na América Latina, principalmente, o panorama é bastante positivo, porque a recuperação foi muito forte”, diz o presidente da Iata, Willie Walsh.
O presidente da Airbus para América Latina e Caribe, Arturo Barreira, também diz estar otimista com a região. “O que está claro é que, conforme caíram as restrições, o tráfego aéreo voltou mais rápido do que se previa. Esperávamos que a demanda voltasse aos níveis pré-pandêmicos na região em 2024 ou até 2025, dependendo do cenário. Mas, agora, já se fala que deve ser no próximo ano.”
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Demanda
Apesar de a retomada da demanda por viagens aéreas ter sido mais rápida que o esperado, isso não significa que as empresas do setor estão em situação confortável. Com o preço do combustível de aviação subindo de forma acelerada, deve ser difícil a recuperação financeira acompanhar o ritmo da demanda.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, reconhece que a demanda tem avançado bem, mas lembra que os dados atuais incluem passageiros que compraram passagens antes da pandemia, remarcaram os bilhetes e só estão embarcando agora.
Ele diz também que essa retomada indica que parte dos consumidores é capaz de arcar com preços superiores, mas a classe C deixou de viajar. Questionado sobre a possibilidade de haver um “teto” para a demanda, que não tem contado com a classe C, ele disse não ter como fazer essa previsão.
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O executivo destacou ainda que, embora a ocupação esteja em um patamar positivo, o setor vive um momento “duro” devido ao preço do combustível. No país, o querosene de aviação subiu 92% em 2021 e 71% no acumulado deste ano.
Preocupação
Presidente da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata), Willie Walsh, afirma que, hoje, a cotação do combustível é uma das principais preocupações do setor, que deverá gastar US$ 192 bilhões com querosene neste ano. “Não tem como as companhias aéreas absorverem isso.”
A Iata prevê que o lucro retorne à América Latina — e ao mundo — em 2023. Mas, no Brasil, antes mesmo da pandemia, as empresas já não tinham ganhos financeiros.
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A última vez que isso ocorreu havia sido em 2017, quando, juntas, lucraram R$ 413,7 milhões. Nos anos seguintes, os prejuízos foram de R$ 1,9 bilhão e R$ 3,3 bilhões. Mas as contas explodiram mesmo em 2020 com a chegada da Covid e de perdas que alcançaram R$ 20,3 bilhões no ano.
Walsh diz não poder afirmar se as empresas vão registrar lucro no Brasil em 2023. “Se você considerar a região toda, 2023 é algo realístico. Em alguns países específicos, pode não ser. No Brasil, ainda está havendo reestruturações e não posso falar país por país. Mas a recuperação (da demanda) tem sido rápida.”
Neste ano, a única região que deverá ter lucro é a América do Norte, com US$ 8,8 bilhões. Para Walsh, a diferença entre a região e a América Latina é que o governo dos EUA subsidiou o setor e concedeu às empresas empréstimos a juros baixos. Isso fez com que as companhias mantivessem um maior número de funcionários e pudessem adicionar capacidade de forma mais ágil quando a demanda voltou. Também colaborou para a América do Norte o tamanho robusto do mercado doméstico.
“A posição (financeira) relativa da América Latina é mais fraca porque não houve socorro (do governo) e o mercado de carga não ajudou tanto (na Ásia principalmente, o segmento tem sido uma alavanca importante), mas o panorama ainda é bastante positivo para a região”, diz o executivo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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