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SÃO PAULO – O que você faria se tivesse US$ 165 bilhões em sua conta bancária? É com esse tipo de “problema” que Tim Cook, CEO (Chief Executive Officer) da Apple – a maior empresa do mundo – se depara todo dia pela manhã. Longe de ser uma dor de cabeça, Cook pode se divertir imaginando o que poderia fazer com essa enorme quantia de dinheiro investido.
Para se ter ideia, o executivo poderia causar grande impacto em três dos temas econômicos brasileiros, simultaneamente: ele poderia doar US$ 2 bilhões para Eike Batista, permitindo-o sair da monstruosa dívida de US$ 1 bilhão para o patamar de bilionário e escapar da classe média, comprar a Petrobras e ainda por cima inflar uma bolha imobiliária no Brasil. Com o troco, possivelmente ainda compraria boa parte das empresas listadas na bolsa brasileira.
É claro que o Estado brasileiro não aceitaria um cheque da Apple pela sua mais valiosa (e importante estrategicamente) estatal, Eike não deverá receber um TED monstruoso em sua conta bancária tão cedo, e nem a Apple tem o interesse de comprar uma infinidade de apartamentos nas principais cidades brasileiras – mas não deixa de ser interessante imaginar a monstruosidade do dinheiro. Além dos US$ 2 bilhões para Eike, Cook gastaria cerca de US$ 115 bilhões pela Petrobras e mais US$ 23 bilhões pelos 30.000 imóveis encalhados das oito principais imobiliárias nacionais – colocando o preço médio em R$ 1 milhão. Total? US$ 140 bilhões.
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Os US$ 25 bilhões restantes são superiores a grande parte do caixa das empresas brasileiras – somado. Se fosse uma fortuna pessoal, seria o suficiente para ser o 30° homem mais rico do mundo, e só um brasileiro, Jorge Paulo Lemann, estaria na sua frente nos rankings de fortuna. E mesmo assim, não por uma diferença considerável – Lemann tem US$ 25,2 bilhões.
Para se ter noção do que representam os US$ 165 bilhões, basta olhar os números de reservas internacionais dos governos mundo afora. A Apple possui mais dinheiro em caixa do que nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, com US$ 145 bilhões, e o Reino Unido, que tem US$ 110 bilhões.
Mas não possui mais dinheiro do que o Brasil, que tem reservas de US$ 379 bilhões. E também não chega perto da reserva internacional chinesa, estimada em US$ 3,99 trilhões. Aliás, China e Apple investem seu dinheiro do mesmo jeito: os treasuries, os famosos títulos de dívida dos Estados Unidos.
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Mentalidade de Steve Jobs ajudou a formar esse caixa
Se há alguém responsável por esse caixa é Steve Jobs. O falecido CEO e fundador da empresa, tinha uma política estrita de não gastar dinheiro com o que ele acreditava ser “desnecessário”. Ou seja, não distribuia dividendos e nem mesmo fazia caridade com o dinheiro da empresa.
Essas duas práticas eram comuns no período em que Jobs esteve afastado da Apple, nas décadas de 80 e 90. Voltando para uma empresa bastante próxima de falir, em 1997, Jobs resolveu fazer com que o dinheiro que a empresa ganhasse permanecesse no caixa da empresa. Como dali em diante a empresa estourou de ganhar dinheiro, essa quantia monstruosa foi formada.
A morte de Jobs, porém, mudou algumas coisas. A empresa chegou a aprovar o pagamento de dividendos para os acionistas – o primeiro desde 1995 -, um bilionário programa de recompra de ações e a criação de um fundo para caridade. Depois de praticamente duas décadas de uma política de “não se curvar ao investidores”, a empresa finalmente foi vencida por Wall Street.
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Dinheiro não pode ser usado
A notícia ruim para Cook é que isso não vai passar de um exercício de imaginação. Mesmo que exista a vontade de pagar dividendos astronômicos, a empresa concentra a maior parte do seu dinheiro fora dos Estados Unidos, em suas subsidiárias estrangeiras. Levar para os Estados Unidos faria com que o fisco ficasse com um terço de tudo – uma quantia considerável.
Isso significa que ou a Apple faz compras e investimentos através de seus braços mundo afora, ou simplesmente mantém o dinheiro parado em investimentos conservadores – atualmente, a empresa deixa boa parte da quantia em treasures americanos. Mesmo assim, a matriz segue com uma bela quantia de dinheiro em caixa nos Estados Unidos, que permitiram que ela comprasse a Beats por US$ 3 bilhões. E isso é só o caixa gerado em um mês de operações “comum”, longe de lançamentos.
Deste jeito, o dinheiro parado no exterior não tem grandes utilidades para a empresa. Tanto é que a empresa tomou US$ 17 bilhões emprestados em abril de 2013 – na maior oferta de títulos de dívida da história – para que pudesse cumprir com o programa de recompra de ações pedido por Carl Icahn, um dos homens mais ricos do mundo e conhecido por ser um acionista ativista. O tamanho do programa? US$ 55 bilhões.
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iPhone 6 pode “piorar” situação
Além de não poder distribuir o dinheiro para os acionistas, a Apple está enfrentando outro “problema”. Uma montanha de dólares deve entrar em caixa, fruto do lançamento do iPhone 6, que tem sido um sucesso de vendas até agora – o maior da empresa até o momento.
Embora seja um sucesso nos Estados Unidos, a maior parte dos aparelhos vendidos foi na China e em outros países emergentes. Isso significa que esse dinheiro dificilmente será enviado para a matriz americana, mas ficar parado em algum país com impostos menores sobre capital, como a Irlanda.
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