Estamos preparados para a SELIC de um dígito?

Arthur Solowiejczyk, editor do Terraço Econômico, discute a condução da política monetária ao longo dos últimos anos e se a situação econômica do Brasil suporta juros básicos abaixo dos 10% ao ano

Terraço Econômico

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Fachada do Banco Central do Brasil
Fachada do Banco Central do Brasil

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*por Arthur Solowiejczyk, Editor do Terraço Econômico

SÃO PAULO – Com mais uma queda anunciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) para a taxa Selic, chegamos ao patamar de 11,25% ao ano para a taxa de juros básica da economia. Pelo andar da carruagem, chegaremos a um dígito na próxima ou no máximo em mais duas reuniões do Copom, conforme indicam relatórios do mercado financeiro ou da própria comunicação fornecida pelo Banco Central do Brasil.

Já tivemos, em um passado não tão distante, a Selic de um dígito. Naquele ano, 2013, a taxa básica de juros brasileira chegou a valores inimagináveis de 7,25% ao ano, após mudança de comportamento do BC, capitaneado pelo ex-presidente Alexandre Tombini. A partir de resultados fracos vindos da Europa e comportamento errante da economia norte americana, o Copom entendeu que as reduções das pressões inflacionárias vindas do resto do mundo abriam espaço para uma queda significativa da taxa de juros. E, claro, havia também um fator político. Dilma, em 2010, havia prometido em campanha que daria fim ao nosso histórico de juros altos.

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E o fez, efetivamente, mas foi usando a caneta presidencial e a complacência do Banco Central.

Não fizemos a lição de casa macroeconômica. O governo continuou gastando como nunca, jogando combustível no fogo inflacionário que já indicava estar saindo do controle. Resultado? A inflação – medida pelo IPCA – fechou bem acima da meta de 4,5% a.a nos anos seguintes. Só não foi maior em 2013 e 2014, porque alguns preços administrados foram mantidos até 2015, ano este em que eles foram liberados, e a inflação chegou ao patamar de dois dígitos, para 10,67%, resgatando lembranças sombrias para a população brasileira.

A situação atual é bem diferente. Foi preciso uma recessão de quase 10% em dois anos para a economia brasileira murchar e a inflação retroceder. Mas não foi só isso. No campo político, reformas como a de Teto dos Gastos e da Previdência sinalizam aos agentes que o governo está mais preocupado com a situação fiscal. A comunicação do BC melhorou sobremaneira, e o mercado financeiro começa a acreditar que, de fato, o Copom está mirando a meta de inflação e não há mais outros fatores que podem desviar a decisão de determinação da taxa de juros. A ideia de “um pouco mais de inflação para manter o crescimento”, tão controversa, parece ter ficado para trás.

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Infelizmente, precisamos passar pela maior recessão e pela disparada na taxa de desemprego para começarmos a fazer reformas. Esperamos para reformar o telhado com chuva e trovoadas, ao invés de fazer isso quando o tempo estava ensolarado.

Assim, estamos prontos para uma taxa Selic de um dígito, mas nos preparamos da pior maneira possível.

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O Terraço Econômico é um espaço para discussão de assuntos que afetam nosso cotidiano, sempre com uma análise aprofundada (e irreverente) visando entender quais são as implicações dos mais importantes eventos econômicos, políticos e sociais no Brasil e no mundo. A equipe heterogênea possui desde economistas com mestrados até estudantes de economia. O Terraço é composto por: Alípio Ferreira Cantisani, Arthur Solowiejczyk, Lara Siqueira de Oliveira, Leonardo de Siqueira Lima, Leonardo Palhuca, Victor Candido e Victor Wong.