Turkey, peru ou dinde?

Não me lembro quantos anos tinha quando comi peru pela primeira vez. Mas lembro, exatamente, como foi. Era noite de ano novo. Primeiro notei o aroma.A casa estava repleta dele. Depois, a curiosidade. Fui ao forno. Minha mãe alertou: “sai daí menino, vai se queimar!”

Paulo Panayotis

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Insisti. Abri. Lá dentro fumegava uma ave misteriosa. Muito maior do que o já desvendado frango. Provei. Adorei!A carne macia, tenra, suculenta e em abundância, ficou em minha memória gustativa para todo o sempre. Anos mais tarde, a curiosidade me instigou.


Crédito: Divulgação

No Brasil, a deliciosa ave consumida nas festas de final de ano(Natal e Ano Novo) responde pelo nome de peru. Em países de língua inglesa, como Estados Unidos e Inglaterra, por turkey (isso mesmo, a Turquia). Já nos países francófilos, colonizados pela França, tem o sonoro nome de dinde (feminino de perua, masculino: dindon!). Vamos lá: a origem da ave, ainda selvagem, é dividida entre o México e o sul dos Estados Unidos. É dos astecas, portanto, a primazia do primeiro peru assado. Levado para a Europa pelos colonizadores espanhóis e portugueses, foi apelidado pela coroa portuguesa de peru. Explico: vinha das colônias espanholas e, para os portugas de então, todas as colônias que não eram suas, eram chamadas de… Peru!

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A partir do início de 1525, os britânicos o conheceram. E se encantaram! Trocaram facilmente os cisnes, prato típico das festas do império britânico, pelo exótico, carnudo e exuberante turkey. Também explico: naquela época os ingleses chamavam erroneamente o nosso peru de galinha d’ angola.

Ao descobrirem que ela, a galinha d’ angola, não vinha da Turquia, passaram a chamar a bípede de galinha da guiné, e tentaram esquecer o já popular nome turkey. Claro que os comerciantes protestaram, mas calaram, temporariamente. Quando surgiu por lá nosso peru, bingo! Voltaram a chamar o exótico pássaro gigante do novo mundo de? Turkey!


Crédito: Divulgação

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E por que dinde na França? Por lá, os comensais chamavam de dinde a galinha d’angola até o século 16. Mas quando a majestosa e suculenta ave chegou à Paris vinda diretamente das Américas, eles resolveram que ela se chamaria dinde! Por que? Não tenho a mais remota ideia! Aliás, ninguém tem… nem os franceses. Mas uma coisa é certa. Em qualquer parte do mundo, a ave sempre é servida nas festas de final de ano e sempre assada. Há motivos para tanto.

A abundância e mesmo a extravagancia caracterizam a essência do momento da ceia de Natal e Ano Novo, segundo o professor e pesquisador da história da alimentação, Carlos Roberto dos Santos, da Universidade Federal do Paraná. “Tanto, explica ele, que estes rituais passaram a ser entendidos como expressão simbólica do sucesso alcançado ao longo do ano. Assim, o prato que revela fartura é o assado, pois no seu preparo se perde algo, enquanto que no cozido se conserva a carne, a gordura, os seus sucos. Ou seja, quem assa a carne e, nas festas, o peru, simboliza para si próprio e para os outros que venceu mais um ano, que foi vitorioso mais uma vez! Ops! A coluna não deveria ser sobre gastronomia? E é! Afinal, quem é que esquece os sabores e cheiros da infância? Da comida caseira preparada pela mãe, pela avó? Eu, viajante que sou, provei perus assados em várias partes do mundo.Gostei de todos! Mas o que me vem sempre a mente é aquele da primeira vez quando senti o cheiro do peru assando… assado… servido! Então, feliz ano novo a todos seja com turkey , dinde ou peru!

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