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Alphabet: por que resultado dentro do esperado não foi suficiente para impulsionar ações

Com expectativas maiores sobre as ações de tecnologia, investidores e analistas ficam cada vez mais intolerantes com qualquer descompasso em relação às suas previsões
Por  Maria Antonia Viuge, Roberto Vinhaes -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Depois de divulgar seu resultado trimestral no último dia 24, a ação da Alphabet fechou a sessão caindo 9,5%. Enquanto a companhia cumpriu com as expectativas dos analistas para as métricas financeiras de receita e lucro, os dados da divisão de computação em nuvem (cloud) deixaram a desejar. Esse segmento segue em expansão, mas sua lucratividade permanece incerta. Não se sabe quando o cloud vai passar a consistentemente gerar lucros para o conglomerado e qual será o patamar de margem desse negócio. Por outro lado, os executivos registraram uma estabilização do mercado de anúncios, que vinha mostrando sinais de fraqueza.

Vale apontar que estamos falando de uma companhia com capitalização de mercado de US$ 1,5 trilhão que gera receitas anuais superiores a US$ 280 bilhões e, ainda assim, é capaz de continuar crescendo lucro por ação a dígitos duplos. O modelo altamente rentável e o monopólio de buscas conseguem entregar esse tipo de resultado. Não podemos deixar de ressaltar, no entanto, que a companhia poderia ser ainda mais lucrativa se otimizasse sua inflada força de trabalho e reduzisse o share-based compensation que consideramos excessivo nos patamares atuais.

Durante a temporada de divulgação dos resultados do 3º trimestre, ações do S&P 500 — cujas cifras de lucro por ação ficaram aquém das expectativas de analistas — caíram em média 5,5% nos dias seguintes ao resultado, de acordo com a FactSet. A média dos últimos cinco anos foi de uma queda na ordem dos 2,3%. Entendemos, então, que a Alphabet não esteve sozinha no movimento brusco de queda de seu papel depois do resultado.

As explicações para esse fenômeno variam em complexidade. Mas o que parece valer especificamente para as ações de tecnologia é a expansão de múltiplos que se deu ao longo do ano. Com expectativas maiores, investidores e analistas ficam cada vez mais intolerantes com qualquer descompasso em relação às suas previsões. O resultado é um mercado mais volátil. Essa característica vem se mostrando resiliente ao longo dos últimos anos, enquanto a economia americana aponta sinais divergentes em resposta à política monetária implementada pelo Fed.

A impressão é que os agentes do mercado oscilam entre acreditar em um hard landing (muito embora esse campo tenha cada vez menos defensores), soft landing e no landing. Os sucessivos aumentos de taxa de juros por parte do banco central americano têm tido sucesso recente em controlar a inflação, os dados econômicos se mostram fortes e o mercado de trabalho resiliente. Não somos macroeconomistas e não temos nenhum interesse em fazer previsões de qualquer natureza. O que conseguimos observar é que essa incerteza tem tido impacto direto sobre os preços das ações e as expectativas dos investidores. Uma parte disso é apenas o “curto-prazismo” habitual que orienta a vasta maioria das decisões na Bolsa. Outra parte reflete um ponto relevante: quais serão as empresas capazes de gerar valor no longo prazo diante de um contexto completamente diferente daquele dos últimos dez anos?

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A última década de QE (quantitative easing) permitiu crescimento agressivo de empresas que tiveram acesso a capital barato – ou de graça – para até mesmo aquelas que tinham modelos de negócio pouco lucrativos ou insustentáveis. Em outras palavras, nos parece que foi mais fácil ganhar dinheiro na última década do que nas anteriores. Agora, o capital volta a ter custo, a inflação afeta a ponta da oferta e da demanda e as empresas terão que se confrontar com isso.

No caso do Google, a empresa acumula um caixa de US$ 120 bilhões. Colocar esse caixa para trabalhar é um desafio para uma empresa desse tamanho e em um setor que vem atraindo cada vez mais escrutínio regulatório. Claro que um patamar de juros mais alto significa que manter esse caixa empossado será menos ruim, mas não é o ideal. Se a ação sofrer um derating, recompras parecem um destino eficiente para parte desse montante.

Como fica claro, divulgar um resultado trimestral que atenda às expectativas dos analistas não é suficiente para garantir uma reação positiva do papel. Os movimentos do mercado são ditados por agentes com pensamento de curto prazo e sua leitura do ambiente macroeconômico. O que cabe aos investidores fundamentalistas como nós é identificar boas empresas que são capazes de navegar ambientes adversos e gerar bons retornos ao longo do tempo. A volatilidade e as reações mais bruscas do mercado são oportunidades que devem ser aproveitadas.

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