Tabata Amaral expôs a hipocrisia de Ciro Gomes – e isto é imperdoável

O PDT e seu líder jamais foram "a favor de uma reforma, mas não desta", como diziam. Ao propor mudanças no texto do governo - e conseguir praticamente tudo o que pediu -, Tabata Amaral votou a favor da reforma da reforma, que não era a governo. Por tabela, expôs quem usava palavras vazias como desculpa para demonizar a reforma, sem qualquer responsabilidade com o futuro do país.

Pedro Menezes

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Sobre Tabata Amaral e a cúpula do PDT, vale a pena analisar como cada um procedeu no debate sobre a reforma da previdência.

Acredito que a mera observação dos fatos revela o verdadeiro motivo por trás de todos as adjetivações no discurso de Ciro Gomes. Conta também, é claro, o conhecido apreço de Ciro pelas adjetivações.

Quando o governo propôs sua reforma da previdência, Tabata e o PDT disseram a mesma coisa – “entendo a necessidade de uma reforma, mas não concordo com esta que foi proposta”. Por trás das mesmas palavras, ambos agiram de modos muito distintos.

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Tabata propôs 12 alterações no texto do governo. O PDT propôs um outro texto, completamente diferente. Só neste ponto, já há uma diferença crucial.

Como bem sabe qualquer pessoa que acompanha política brasileira – e a cúpula do PDT acompanha há um bom tempo -, o texto aprovado pela Câmara inevitavelmente teria como base aquele que o governo enviou.

Ao re-escrever a reforma inteira, ao invés de propor muitas e muitas mudanças no texto do governo, o PDT revelou que sua intenção não tinha cunho legislativo e propositivo, mas propagandístico.

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Além disso, a re-escrita da reforma dificulta a comparação com as projeções do governo sobre impactos no orçamento público – isto é, dificulta a comparação com o famoso “trilhão”.

Para ser “a favor de uma reforma, mas não desta” de modo convincente, é preciso demonstrar alguma disposição ao diálogo propositivo. A proposta alternativa do PDT mostra um partido que nunca esteve disposto a debater a reforma que existe na realidade concreta. E nunca se importaram com a possível demora na aprovação e seus impactos para os 13 milhões de desempregados que Ciro Gomes gosta de citar em discursos.

Das alterações que Tabata Amaral propôs ao texto do governo, praticamente todas foram acatadas. A deputada perdeu na aposentadoria especial de professores (ainda bem, na minha opinião), mas ganhou em quase todos os pontos mais importantes da reforma – como a mudança no BPC.

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A situação é tal que Laura Carvalho, economista que colaborou com a campanha de Guilherme Boulos, ter elogiado o texto final na sua primeira coluna após a aprovação.

Segundo Laura, as pautas mais importantes para a esquerda – aposentadoria rural, tempo mínimo de contribuição, etc – foram acatadas na versão aprovada em primeiro turno pela Câmara. Eram, em suma, as mesmas pautas que Tabata defendeu publicamente quando saiu o texto inicial.

Propor alterações ao texto, ao invés de propor um texto alternativo, revela diferenças importantes no comportamento de cada um. Até porque, como as alterações pontuais podem ser acatadas (como foram), o deputado que as propõe fica publicamente desmoralizado ao votar contra um projeto que está de acordo com o que ele defendia.

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Depois de ver praticamente todas as suas demandas aceitas, Tabata tinha até certa obrigação moral de votar a favor do projeto.

O PDT jamais correu esse risco. A proposta do partido não incluía sequer a adoção de uma idade mínima, pauta que até Dilma Rousseff considerava a mais importante da reforma. Jamais foi um texto factível.

O discurso sobre ser “a favor de uma reforma” sempre foi lorota: Ciro Gomes e seus aliados nunca estiveram minimamente preocupados com a demora em aprovar a reforma custaria ao país. Não houve qualquer  disposição ao diálogo.

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Esta hipocrisia foi exposta publicamente conforme as pessoas observaram a postura de alguns deputados do PDT e PSB, em contraste com as cúpulas partidárias.

Esses deputados atenderam a uma demanda da sociedade brasileira, que se tornou mais favorável à reforma, especialmente nos estados do Sul e  Sudeste. Não por acaso, a Ideia Big Data estima que a aprovação de Tabata Amaral dobrou nos últimos dois meses, entre aqueles que conhecem a deputada.

A notícia não surpreende. Cresceu a demanda por quem fale sério sobre macroeconomia e justiça social, mas PT/PDT/PSOL não querem ser a oferta. Nesse contexto, a margem de lucro dos primeiros empreendedores inovadores tende a ser enorme.

O mercado de ideias também pune quem se apega a ideias fracassadas. Através do exemplo, Tabata demonstrou a velharia de algumas ideias do PDT. Para um político vaidoso, como Ciro Gomes, isto é imperdoável.

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Pedro Menezes

Pedro Menezes é fundador e editor do Instituto Mercado Popular, um grupo de pesquisadores focado em políticas públicas e desigualdade social.