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“Alguns projetam um crescimento de 5% positivo esse ano… Se 5% é positivo e o ano passado foi 4% negativo, crescemos 9%. É um milagre. É uma coisa inacreditável”.
Jair Bolsonaro “cometeu” a frase acima em entrevista à Jovem Pan. Realmente, é inacreditável. Começando por um gritante erro de matemática básica.
Vamos supor que o PIB de 2019 foi igual a 100 dinheiros, sendo “dinheiros” uma unidade criada para facilitar esse exemplo.
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É fácil notar que, após uma queda de 4%, o PIB de 2020 será igual a 96 dinheiros. Em seguida, com o crescimento de 5% que se espera em 2021, o PIB chegaria a 100,8 dinheiros. No total, o crescimento acumulado em 2 anos seria igual a 0,8%.
A conta de Bolsonaro só fecha se a economia crescer pouco mais de 13,5% em 2021. Só assim o PIB chegaria a 109 dinheiros no exemplo acima.
Não foi só um erro de cálculo. Bolsonaro demonstrou que repete certos números sem saber o que eles significam. Um cidadão comum que dissesse a mesma coisa mereceria compreensão. Entrevista ao vivo é complicada mesmo. Acontece…
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No Brasil onde eu gostaria de viver, qualquer candidato a cargo público perceberia o absurdo e corrigiria em seguida. É o mínimo que podemos cobrar deles. Como veio de um presidente da República no terceiro ano de mandato, não é um erro que pode passar em branco.
Ainda assim, o pior da fala de Bolsonaro não está na conta errada. Se o erro crasso passa a impressão de que o presidente não tem noções básicas de matemática, a lógica por trás do argumento confirma também a ignorância sobre temas econômicos.
Bolsonaro trata o crescimento do PIB em 2021 como se fosse um acontecimento extraordinário. Usando as palavras do próprio presidente, seria um “milagre econômico”. A conclusão talvez fosse razoável num ano normal em que o PIB crescesse 5% ao ano. Infelizmente, 2021 não é um ano normal.
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É preciso entender o que significa um crescimento de 5% este ano. Quase todas as economias do planeta devem crescer bastante no mesmo período. Como a taxa de crescimento em 2021 se baseia numa comparação com 2020, qualquer ano parece bom.
Além do ano passado ter sido muito ruim no geral, o fundo do poço econômico ocorreu ainda nos primeiros trimestres. Esse é outro fator que distorce a taxa de crescimento do PIB. Quando o último trimestre do ano é muito melhor que os 3 primeiros, basta manter o ritmo para alcançar um crescimento expressivo.
Os cálculos mais recentes da Instituição Fiscal Independente, ligada ao Senado, estima que basta manter o ritmo da atividade econômica para que PIB cresça 4,9% em 2021. Quase todos os economistas apresentam previsões parecidas. Caso o leitor se interesse pelo tema, há farto material na internet sobre esse assunto, conhecido pelos falantes de economês como “carregamento estatístico” ou “carry-over”.
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Portanto, um crescimento de 5% em 2021 não é suficiente nem para concluir que a economia está evoluindo bem ao longo do ano. O que poderíamos dizer então sobre a hipótese de que vivemos um “milagre econômico”?
Quase 15 milhões de brasileiros apareciam como desempregados na última PNAD Contínua. Outros 6 milhões só não aparecem como desempregados porque desistiram de procurar emprego e são “desalentados” na classificação do IBGE. Mais 33,3 milhões de brasileiros estão subutilizados no mercado de trabalho: possuem emprego, mas gostariam de trabalhar mais, pois conseguiram no máximo um bico.
Só nesses três grupos, são quase 55 milhões de pessoas que gostariam de produzir mais, mas não conseguem por falta de emprego. O responsável por lidar com o problema diz que vivemos um “milagre econômico” e se mostra incapaz até de falar sobre economia, apesar de já estar no terceiro ano de mandato.
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O erro matemático, infelizmente, é só o começo do problema.