5 gráficos para entender as manchetes sobre o mercado de trabalho

Na quinta-feira, saiu o CAGED. Já na sexta, foi a vez da PNAD Contínua. Mas o que significam essas siglas? Qual a diferença entre um e outro?

Pedro Menezes

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Carteira de Trabalho (Fotos Públicas)
Carteira de Trabalho (Fotos Públicas)

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Chega o fim do mês e é certo: os números do mercado de trabalho são divulgados pela imprensa e imediatamente interpretados pelo público, que a partir daí forma suas certezas. Com frequência, as pessoas não sabem o que significam os resultados anunciados ou como interpretá-los. Afinal, 121,4 mil empregos criados em agosto é muito ou pouco?

Nesta semana, aconteceu de novo. Na quinta-feira (26), saiu o CAGED. Já na sexta (27), foi a vez da PNAD Contínua. Mas o que significam essas siglas? Qual a diferença entre uma fonte e outra? Noto essas dúvidas até mesmo em operadores experientes do mercado financeiro.

Pois bem, escrevo aqui um texto que pode ajudar a entender os números que saíram ontem, mas também os que vão sair no fim do mês que vem, e no outro, e no outro. Se você não faz ideia do que é o CAGED ou a PNAD Contínua, esse texto é para você.

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Se você é rato de dados sobre mercado de trabalho, se quer avaliações detalhadas sobre qual setor está puxando a geração de empregos nos últimos meses, talvez o texto não seja tão útil. Mas os gráficos provavelmente são, já que oferecem um panorama histórico para os números que saíram agora.

Sem mais delongas, seguem 5 gráficos para entender as manchetes sobre o mercado de trabalho.

1)Entendendo as fontes: CAGED (empregos com carteira assinada)

Existem duas fontes principais sobre a situação do mercado de trabalho:

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– o Cadastro Geral de Empregos e Demissões (conhecido como CAGED), divulgado pelo Ministério da Economia

– a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (conhecida como PNAD Contínua), organizada pelo IBGE

Cada uma tem um número principal que geralmente aparece nas manchetes. No caso do CAGED, é o saldo de empregos e demissões; na PNAD Contínua, a taxa de desocupação (popularmente conhecida como taxa de desemprego) ganha destaque.

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O CAGED é um sistema historicamente vinculado ao extinto Ministério do Trabalho, herdado em 2019 pelo novo Ministério da Economia. Nele, são registradas todas as relações de trabalho formais – isto é, com carteira assinada.

No primeiro gráfico, está a série completa da geração de empregos formais no Brasil, acumulada em 12 meses. Nas manchetes, esse é o saldo do CAGED, No primeiro gráfico, está a série completa da geração de empregos formais no Brasil, acumulada em 12 meses. Nas manchetes, esse é o saldo do CAGED, resultado de uma conta simples: admissões menos demissões. As 121,4 mil vagas abertas em agosto já estão incorporadas no gráfico.

É possível ver muito da nossa história recente no gráfico acima. O desastre do governo Dilma fica evidente: a ex-presidente pegou um país que gerava quase 2 milhões de empregos formais nos 12 meses anteriores, mas entregou um saldo que também próximo aos 2 milhões… negativos.

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Por outro lado, os dados também jogam água no chopp do governo. Não há inflexão significativa no governo Bolsonaro. Até agosto, a geração de empregos está no mesmo patamar que estava no fim de 2018, quando. Bolsonaro assumiu. Apesar do resultado melhor do que o previsto pelo mercado, agosto não foi sequer o auge desde a crise.

Em agosto de 2019, o Brasil tinha cerca de 459 mil vagas de emprego a mais do que em agosto de 2018. Nesses 12 meses, segundo a PNAD Contínua, 1 milhão e 700 mil pessoas entraram na força de trabalho. Além deles, boa parte dos que já integram a força de trabalho estão em empregos sem carteira assinada, que poderiam ser substituídos por vagas formais.

O atual ritmo precisa pelo menos dobrar para ser capaz de cumprir as expectativas do eleitor. Os números recém-divulgados podem até ser positivos, mas estão muito longe de serem suficientes.

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2)  Entendendo as fontes: PNAD Contínua (pesquisa do IBGE)

Com relação ao CAGED, a PNAD Contínua tem uma vantagem e uma desvantagem patentes.

A vantagem: a PNAD Contínua inclui informações gerais e panorâmicas, com dados sobre o mercado de trabalho informal.

A desvantagem: o CAGED é um cadastro geral que abarca toda a população com carteira assinada, sendo por isso consideravelmente mais preciso do que a PNAD Contínua, uma pesquisa amostral.

É da PNAD Contínua que saem informações como o tamanho da força de trabalho, a população empregada e desempregada, o rendimento médio dos trabalhadores, dentre outras. O gráfico abaixo apresenta a taxa de desocupação, o número mais divulgado da pesquisa.

Em geral, há um padrão sazonal claro na evolução da taxa de desemprego, que cresce entre janeiro e março e cai entre abril e dezembro. Esse padrão é visto no gráfico e só foi quebrado em 2015 e 2016, no meio de uma avassaladora recessão.

Para que esse padrão sazonal não atrapalhe a visualização dos dados, também há uma linha referente à taxa de desocupação média nos 12 meses anteriores. Novamente, é nítida a melhora após 2017, mas o ritmo é lento e incomparável com a queda na crise.

3) 2019 em perspectiva histórica: o saldo do CAGED entre janeiro e agosto de vários anos

 Nos primeiros 8 meses no ano, o CAGED registrou cerca de 540 mil empregos. Foi o melhor desempenho para o período desde 2014, quando o saldo de janeiro e agosto chegou a 606 mil.

Por outro lado, 2019 teve geração líquida de empregos inferior a todos os anos até 2014. Ou seja: mesmo considerando que fomos melhor do que nos últimos anos,  o atual patamar é muito baixo do ponto de vista histórico. Mesmo anos de recessão, como 2009,  viram um desempenho melhor do mercado de trabalho.

De um ponto de vista histórico, os resultados recentes continuam terríveis. É por isso que a imprensa sempre ressalta que a retomada econômica está lenta. Não se trata-se de birra contra o governo, apenas da sóbria análise dos fatos.

4) Os últimos números da PNAD Contínua em perspectiva histórica

Os números da PNAD Contínua contam uma história semelhante. De fato, o desemprego está em seu menor nível desde que saímos da crise. Apesar disso, a velocidade de redução do desemprego não anima os economistas.

Em agosto de 2019, último número divulgado, a taxa de desocupação diminuiu 0,3 p. p. com relação a agosto de 2018. Mas esse ritmo é baixo, não. Chega a metade dos -0,7 p. p. que eram registrados no início de 2018. Isto é, o desemprego continua caindo, mas está caindo cada vez menos.

O próximo gráfico mostra justamente isso, a velocidade de redução da taxa de desemprego. Nele, é possível ver o vertiginoso aumento registrado até 2017, que se converteu em queda na virada para 2018. Também é possível notar a desaceleração desta redução entre 2018 e 2019.

5) A única saída: crescimento econômico. Ou: sim, você come PIB!

O que explica a decepção na retomada dos empregos? Não é difícil imaginar que o PIB tem a ver com isso.

Como mostra o gráfico abaixo, o saldo do CAGED tem correlação direta com a taxa de crescimento do PIB. Um cálculo análogo pode ser feito usando a variação da taxa de desemprego.

Fato é que a economia está crescendo pouco e, por isso, a geração de empregos decepciona. O crescimento de 2017 e 2018, ao redor de 1%, deve se repetir em 2019. Como resultado, não é possível esperar números muito melhores numa economia que cresce menos.

O lado bom é que uma melhoria no crescimento do PIB provavelmente gerará impacto perceptível no bem-estar do cidadão. Um crescimento próximo de 2% em 2020, como se prevê, pode gerar 800 mil empregos formais no ano caso fique em cima da reta de regressão abaixo.

É importante reconhecer que esta retomada é mais lenta do que gostaríamos. Só assim será possível pressionar os governantes para que eles façam o seu trabalho.

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Pedro Menezes

Pedro Menezes é fundador e editor do Instituto Mercado Popular, um grupo de pesquisadores focado em políticas públicas e desigualdade social.