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O PT lança amanhã a chapa Lula-Alckmin parecendo contar com uma espécie “benefício da dúvida” conferido pelo mercado para sua agenda econômica.
Pesquisa da área de estratégia macro da XP conduzida ainda em março mostra que — embora haja relevantes visões divergentes do diagnóstico auferido — há pouca diferença negativa nas expectativas de agentes do setor em termos de câmbio e Bolsa quando o cenário de vitória de Lula é comparado a um cenário de continuidade do governo Jair Bolsonaro – que, a bem da verdade, também provocou reações negativas recentes com aval para mudanças em regras fiscais e expansão de gastos.
Por mais que as polêmicas de Lula dessas últimas semanas tenham minado um pouco dessa boa vontade, não há indicativos de uma grande deterioração nessas projeções — embora a continuidade dessas falas mais à esquerda possa lhe custar caro em termos de confiança à frente.
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A aposta majoritária parece ser a de que o petista tende a repetir o pragmatismo do mandato iniciado em 2003 – é o tal do “seguro” vendido por seus auxiliares (e por ele próprio, na entrevista à Time publicada na segunda, por exemplo). Mesmo na avaliação de agências internacionais de risco, o “track record” de Lula indica uma gestão macro “pragmática”, segundo ouvimos recentemente de mais de uma delas.
Essa conta mostra que, entre as promessas de revisão de reformas e mudanças nas regras fiscais feitas pelo próprio Lula de um lado, e a perspectiva de moderação e diálogo que tem sido trabalhada por aliados próximos do petista de outro, tem vencido a segunda opção – ainda com a esperança de que uma guinada pragmática seja feita em algum momento da campanha.
Mas, apesar de esperada, essa guinada ainda não parece estar em um horizonte próximo para Lula. Nesse interim, o que se oferece é uma sugestão de que o país não sairá dos trilhos justamente pelo desempenho passado, mas com pouco de concreto sobre como o caminho seria construído no futuro.
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O movimento parece tentar manter a discussão feita por Lula no campo generalista, para não exigir dele uma defesa explícita da contenção fiscal que o aproximaria do discurso da equipe econômica atual.
Petistas do entorno do ex-presidente esperam que o evento de amanhã funcione como um aceno a uma frente mais ampla em defesa da democracia e contra Bolsonaro – mais moderado, portanto –, embora reconheçam um Lula mais imprevisível que o de campanhas anteriores e admitam que gestos para o público “de casa” precisarão ser feitos.
O esperado, portanto, é que à frente permaneça a ambiguidade entre o pragmatismo vendido por aliados e os acenos para dentro de casa. O risco para o petista é que essa balança continue a pesar para o lado caseiro, a ponto de inverter as expectativas que hoje dão a ele esse “benefício da dúvida” durante a campanha.