Motocicletas fecham o semestre com alta de 23% nas vendas

Mas quais são os grandes fatores que explicam essa ascensão em motos e a derrocada em autos?

Raphael Galante

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Caros leitores, digníssimas leitoras,

Se o setor de quatro rodas (carros) vem definhando ao longo dos últimos anos, um que vem na contramão é o de motocicletas.

No final deste primeiro semestre, o setor registrou quase 640 mil motocicletas vendidas contra 517 mil sobre o primeiro semestre do ano passado, uma alta de 23%. Sobre o ano pandêmico de 2020, o crescimento nas vendas chega a mais de 80%, chegando a 350 mil motos.

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Este é o melhor resultado da indústria dos últimos sete anos!

Mas quais são os grandes fatores que explicam essa ascensão em motos e a derrocada em autos?

O primeiro é o fator crédito: apesar de não termos todas as informações sobre o crédito de veículos (já que os funcionários do Banco Central do Brasil ficaram quase o 1º semestre inteiro de greve), o que percebemos é que – por incrível que pareça – não faltou crédito para o pessoal de motos, diferentemente do que ocorreu para o pessoal de autos.

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Geralmente, quando começa a “dar ruim” na economia, o crédito de motos é o primeiro a sofrer. Mas essa dinâmica mudou completamente nos últimos 5-6 anos. O crédito de motos manteve-se “flat” ao longo da última década, enquanto o de autos está (a cada mês que passa) batendo seu recorde negativo de participação.

A primeira explicação é que o pessoal de motos apostou (certíssimo) na formação de uma carteira de consórcio. O consórcio é aquele produto “jabuticaba” (praticamente só existe no Brasil) que é amado por vários e odiado por muitos. Independentemente de ser bom ou ruim, o produto funciona MUITÍSSIMO BEM para o setor de duas rodas.

Outro fator para o sucesso das vendas de motocicletas é que o produto está atrelado às regiões mais carentes do Brasil (figurando como o primeiro veículo automotor do núcleo familiar) e em lugares onde o clima é mais tropical. É uma daquelas particularidades de vivermos num país continental – aquele conceito de que existem vários “Brasis” dentro do Brasil.

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O crescimento do setor neste primeiro semestre é de 23%. Mas na região Norte, ele cravou 41% de evolução, seguida de Centro-Oeste, com 23%, Nordeste, com 22%, Sudeste, com 21%, e da “polar” região Sul, onde tivemos 17,8% de crescimento.

O setor de motocicletas surfou positivamente nos últimos anos, motivado “em parte” pela pandemia. Com a Covid, tivemos o aumento da demanda por serviços de delivery (que veio para ficar na vida do brasileiro); aumento do desejo por mobilidade urbana “individual”; alta dos preços de petróleo e os demais paranauês.

Foi o que apontou o Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo: “As unidades fabris retomaram o ritmo das linhas de montagem e registram crescimento sustentável. Temos um mercado com tendência de alta, com o avanço dos serviços de entrega, o maior uso da motocicleta nos deslocamentos urbanos, além do fator aumento dos preços dos combustíveis”.

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Além disso, o pessoal da entidade revisou as projeções para 2022, apontando forte tendência de que o resultado seja o melhor dos últimos oito anos: “Com a nova perspectiva, a indústria de motocicletas deve ficar próxima aos patamares alcançados em 2014. Naquele ano, foram produzidas 1.517.662 unidades. Mas estamos atentos às diversas variáveis que poderão impactar negativamente o mercado, como a alta da inflação e o aumento da taxa de juros, que reduzem bastante o poder aquisitivo da população. Além disso, estamos num ano eleitoral e, como acontece sistematicamente, isso gera muito estresse no mercado”.

Além disso – por incrível que pareça (2) – tivemos no começo deste mês uma (possível) mudança na cobrança do IPVA para as motocicletas.

Em linhas gerais, o Senado aprovou uma diretriz dizendo que os estados podem cobrar alíquota de 0% para motocicletas de baixa cilindrada (até 170 cc³) já no começo do ano que vem.

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Tal medida – na visão deste vil estagiário – é maravilhosa! O consumidor vai deixar de pagar o IPVA destas motos, que oscilaria num range de R$ 250 até R$ 600, considerando que o público dessas motocicletas é aquela parte da população que se encontra na base da pirâmide social. Ou seja, isso vai representar um alívio financeiro imenso. Esse montante é praticamente o valor de duas prestações do financiamento de uma moto dessas.

Mas, para isso acontecer, os estados deveriam aceitar essa renúncia fiscal o que, convenhamos, na atual conjuntura econômica e com os atuais políticos, não irá acontecer nunca! Infelizmente…

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva