Melhores do ano: como a eletrificação dos veículos cresceu em ritmo exponencial em 2021

Se a participação dos carros eletrificados no Brasil ainda não atingiu níveis europeus, pelo menos ela mostra que estamos no caminho certo

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Caros leitores, digníssimas leitoras,

Outro ponto que podemos destacar no mercado brasileiro deste ano é a venda de carros eletrificados, sejam eles os 100% elétricos ou os híbridos (plug-in ou não).

Ok, sei que a venda de carros eletrificados cravou a participação de 1,76% sobre o total de carros novos vendidos. O que, naquela visão econométrica, seria o nosso “desvio-padrão”.

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Mas, o crescimento da demanda por esse tipo de veículo ao longo dos últimos anos vem acontecendo (sempre) de forma exponencial!

Em cinco meses deste ano a participação dos carros eletrificados passou a casa dos 2% no mercado nacional. Em dezembro, se usarmos o arredondamento matemático de uma casa decimal, esse índice chegou a 2,5%. O que é uma bela marca.

Lógico que lá nas “Zoropa” as vendas de carros eletrificados vêm batendo a marca de 20%. Em países como Portugal, por exemplo, em alguns meses elas já bateram a casa dos 25%.

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Pelo menos, isso é um indicador de que estamos no caminho certo!

Quando falamos de carros eletrificados a pergunta é: o que o consumidor brasileiro vem preferindo? O 100% elétrico ou o híbrido?

A regra é clara, Arnaldo: de cada 100 carros eletrificados, 92 são híbridos e 8 são elétricos.

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Se a participação do carro eletrificado no mercado nacional é de quase 1,76%, a distribuição fica sendo como 1,62% para o híbrido e 0,14% (o que é “peanuts”) para o 100% elétrico.

Em números totais, temos até agora quase 2,7 mil carros elétricos vendidos e 31 mil de carros híbridos, num universo de 1,911 milhão de carros vendidos.

Mas aí cada montadora tem a sua estratégia.

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Outro lado interessante é notar como são distribuídas as vendas desse tipo de combustível. No caso de carros elétricos, existe uma pulverização em 12 marcas que concentram quase 96% das vendas.

A líder absoluta é a Nissan, graças a sua parceria com as locadoras (com destaque para a Movida). Tirando ela, notamos que o segundo, terceiro, quarto e quinto lugar do nosso ranking são para marcas de alto valor agregado. Outro ponto interessante é que a “mítica” Tesla já se encontra em terras tupiniquins, com um pedacinho do mercado.

Já olhando o mercado de veículos híbridos, a visão é totalmente contrária. Esse nicho de produto está centralizado em quatro marcas que detém mais de 95% desse segmento.

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Temos a onipresente Toyota, com o seu Corolla híbrido (seja o sedã médio ou o SUV) como líder absoluta e, na sequência, a Volvo.
De fato, só as duas correspondem por 85% do mercado de carros híbridos – a gente colocou a BMW e a Porsche na conta só para fechar naquele número mágico de “95% do mercado”.

Por curiosidade, a gente juntou o mercado de carros elétricos e híbridos só para saber quem é quem no jogo. Assim, aquela parcela de 16,6% de share da Nissan em carros elétricos foi diluída para 1,30% quando falamos de carros eletrificados.

A participação de cada marca no share das vendas é um ponto interessante. Mas o foco central para verificar se estamos entrando efetivamente na eletrificação do mercado, é entender como o produto eletrificado se comporta dentro de cada marca.

Por exemplo, 40% dos carros Mini e 34% dos veículos Porsche são eletrificados. Para a Toyota que possui o carro líder de vendas neste subsegmento, os carros eletrificados representam quase 12% das suas vendas. E isso é muito para uma marca de volume!

Já a Volvo, que fica propagando aos sete ventos que é uma das líderes na eletrificação de veículos, então… é verdade: 96% dos carros que ela vendeu neste ano foi desse tipo de combustível.

Mas aí você vai ver o gráfico e vai me falar que na Lexus os carros eletrificados são quase 100%. Verdade! Mas a Lexus tem só 6% do volume de vendas da Volvo.

Além disso, o que a gente gosta dos suecos (sim, eu sei que o dono da Volvo agora é chinês…), é daquele conceito de “welfare state” que os países nórdicos adoram…

O problema do carro eletrificado (plug-in) é aquele clássico dilema de Tostines: “compro um pois terei onde carregar ou, como existe algum lugar para carregar comparei um carro elétrico?”.

Chegamos então no grande problema do setor de carros elétricos: os eletropostos (ou a falta deles).

O grande empecilho para o mercado decolar é a necessidade de investimentos de infraestrutura para termos postos de carregamento (preferencialmente) rápido. Mas, aqui em terras tupiniquins, a gente depende muito da chancela (benção) do poder público para isso acontecer.

O ponto aqui é a escolha que o Estado tem que fazer: investimentos em infraestrutura ou então gastar bilhões de reais em um fundo partidário, por exemplo.

Só um alienado, como o estagiário aqui, iria alocar os recursos disponíveis para investimentos de infraestrutura, em detrimento ao financiamento partidário, visto que eles (os partidos) são os fiéis defensores do Estado democrático de direito!

(Rindo horrores)

Pois bem, o que os vikings da Volvo fizeram?

Eles decidiram fazer o tal investimento em infraestrutura. Estão sendo criados 13 corredores elétricos com carregadores rápidos (tipo 40 minutos para carregamento completo). E tudo isso na faixa!

Com isso, eles fecharam uma área de 3.250 Km. Ou seja, se você decidir sair de Belzonte até Curitiba com o seu carro elétrico, conseguirá fazer o percurso sem grandes percalços! Médio… se eles colocarem os carregadores num posto Graal, por exemplo, aí será mais barato você alugar um jato particular para fazer o trajeto.

E, para finalizar, o Joãozinho lá da Volvo, no melhor estilo Texas Hold’em do poker, meteu o louco e decidiu ir de all-in. O que ele fez? Eles (Volvo) decidiram que, a partir do ano que vem, só haverá o XC40 100% elétrico para ser vendido no mercado brasileiro.

Sim, ele matou a versão híbrida.

E qual é o tamanho da jogada? 38,5% de todos os carros que a Volvo vendeu nesse ano eram da versão hibrida e/ou a combustão. Ou 91,5% de todos os XC40 comercializados.

Para você entender o tamanho da audácia, é só você, caro leitor, imaginar trocar o produto principal do seu negócio por outro bem diferente (em preço e motorização, neste caso).

Lógico que existem alguns pormenores, do tipo: eles não tinham homologado produto similar para o mercado brasileiro. Mas eles poderiam dar aquele migué e voltar com o XC40 a combustão, por exemplo.

O que seria a saída mais fácil. Bastaria dizer algo como: “momentaneamente, o nosso projeto de eletrificação no Brasil irá dar uma pausa e blá, blá, blá”.

Mas aí ele foi pelo caminho mais difícil (e íntegro), metendo o louco e dando um all-in (pagando para ver).

O que resta agora é saber se a jogada do Joãozinho vai ser a vencedora, ou se ele vai pular na lança!

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva