Entre mortos e feridos, a indústria automotiva brasileira sobreviveu

Após 8 anos, TODO o setor automotivo voltou a crescer!

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Caro leitor, digníssima leitora; o ano de 2018 encerrou da melhor maneira possível para o setor automotivo. Depois de um longo e tenebroso inverno, TODOS os segmentos da indústria automotiva apresentaram resultado positivo!

Isso era um fato que não ocorria desde 2010. Quando falamos de TODOS, estamos falando das vendas de carros; caminhões e ônibus; máquinas agrícolas e motocicletas. Era quando estava rolando aquela quebradeira geral iniciada com o Lehman Brothers, entre 2008 e 2009;  foi onde “o nove dedos” disse que no Brasil teríamos só uma “marolinha”.

Daquele momento em diante, o setor automotivo entrou numa draga sem fim!

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A tabelinha abaixo mostra esse desempenho ao longo da última década:

Mas, vamos lá! Ano novo, vida nova, vamos comentar o que aconteceu no ano passado e fazer as nossas previsões para 2019 em diante.

Como diria Jack, o estripador: “VAMOS POR PARTES”! Ou melhor, POR SEGMENTO:

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Motocicletas

O mercado de motos encerrou o ano de 2018 com crescimento de 10,5% sobre o ano anterior. Finalmente houve uma quebra neste ciclo negativo que se arrastava por 06 anos! Mas o que aconteceu para isso ocorrer? O obvio! O mercado de motocicleta é focado em sua grande maioria para o público C e D. E, aí amiguinhos, quando a “marolinha” do “nove dedos” chegou, quem você acha que foi o primeiro a ser impactado, neste últimos seis anos?

Quando o mercado estava quase chegando na casa de 2 milhão de motos vendidas, o crédito para a compra da motocicleta corria solto, o que impulsionava as vendas; mas quando a “marolinha” bateu na classe C e D (que foram para o olho da rua), a inadimplência das carteiras de financiamentos quase chegou a estratosfera!

E qual foi o motivo do crescimento deste ano? A Honda!!

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Quando falamos de motos, tem a Honda e a Yamaha (o resto é tudo “café-com-leite”). E o que o pessoal da Honda decidiu fazer? Decidiram ampliar a produção de motos lá na Zona Franca de Manaus. OK, mas isso não reflete em vendas? Lógico que não, Watson! Eles foram além: o que impulsiona o mercado de motos (e de veículos) é o crédito. O crédito para motos minguou de tal maneira que praticamente não existe – o que existe, é o consórcio. Aí, os japas fizeram o Consórcio Nacional Honda voltar a vender de forma massiva. E estão vendendo. Ou seja, ele programa a sua produção futura, com o que vende agora. E eles (o consórcio) estão vendendo muito; tanto que o seu consórcio é responsável por quase 40% das vendas das suas motocicletas.

Na verdade, eles não estão fazendo nada de novo… só estão reaplicando uma fórmula de sucesso que foi nos inícios dos anos 90 e 2000, que foi antes deles terem caídos no canto da seria (crédito para motos dos bancos de varejo).

O mercado deve apresentar novo crescimento na casa de 10% a 12% para este ano, ultrapassando a marca de 1 milhão de motos vendidas em 2019.

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Caminhões e ônibus

O grande destaque do ano, foram as vendas de caminhões, com crescimento de quase 50%. O tombo nas vendas tinha sido feio para o setor (queda de 70% entre 2011 ~ 2016).

Outro lado positivo é saber onde ocorreu esse crescimento. E aqui, o grande ponto positivo foi ver que este aumento de 50% ocorreu na demanda de caminhões pesado e extrapesado. Esse segmento registrou crescimento de quase 90% sobre o ano anterior. Isso é excelente! O nosso principal modal é o rodoviário. Crescimento de quase 90%, no “caminhão rodoviário”, implica em aumento na demanda de produtos a serem transportados. O pessoal da ponta (frotistas) já está sentindo o reflexo da melhora da economia e se programa para atender a esta nova demanda.

E o que esperar de 2019? Da mesma forma que o setor de caminhões despencou 70% em vendas em 5 anos, os próximos 5 anos deverão ser de forte crescimento. O que teremos?

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O pessoal (frotistas) renovando a sua frota que está ficando velha; no final de 2022 início de 2023 os motores dos caminhões vendidos serão modificados para atender as novas especificações. Inicialmente, projeta-se um aumento no preço do veículo de 16% a 18%. Ou seja, o que teremos antes desse período é uma “corrida às compras” para o empresário ter um caminhão novo, com motor antigo, mas com custos bem menores.

Se imaginarmos um gráfico (com as vendas do setor), ele terá um formato de “V”. Caiu fortemente, mas a perspectiva é de crescimento forte!

O setor de ônibus vai entrar na mesma vibe que o de caminhões. O impacto do novo motor, vai forçar um processo de antecipação de ônibus. Vai faltar espaço – nos próximos anos – para o pessoal da Marcopolo lá em Caxias do Sul. Mas, como “a gente é brasileiro” (deixa tudo para a última hora), você pode ter certeza que o pico de vendas vai ser entre os anos de 2021 e 2022.

Máquinas agrícolas

O crescimento do setor foi de quase 12%. O grande problema do setor agrícola é que o seu maquinário ainda é muito velho. Existe uma demanda gigantesca de aumento de produtividade no campo, simplesmente com um processo de renovação de frota. Para vocês terem uma ideia, o melhor ano de vendas de máquinas agrícolas ocorreu no longínquo ano de 1976, quando foram vendidos mais de 80 mil veículos. Estamos comemorando um crescimento de 12% em 2018, mas vendemos pouco mais da metade do que vendemos em 1976.

O problema do setor é linha de crédito. Tinha muito dinheiro via governo (BNDES), mas aí a torneira secou. Por exemplo, o que mais cresceu nas vendas de máquinas agrícolas, foram as colheitadeiras (crescimento de 25%). E colheitadeiras tem preço médio de R$ 250 mil até R$ 1 milhão (fora aquelas que ultrapassam isso).

Para o agricultor que tem “n” variáveis para administrar no campo, um investimento desse é bem pesado e. sem crédito. tudo fica mais difícil.

Automóveis

 O setor automotivo foi um destaque à parte! As vendas voltaram ao patamar de 2015 com 2,47 milhões de carros vendidos – alta de 13% sobre 2017, mas ainda distante do recorde de 3,63 milhões do ano de 2012.

O grande destaque é o avanço das SUV. Esse nicho de mercado cresceu 25% sobre 2017 e representa por 1/5 de todos os carros vendidos. E o futuro é promissor para este segmento: teremos em 2019 novos lançamentos, como o T-Cross da VW; um ano cheio do C4 Cactus da Citroen, entre vários facelift dos que estão por aí.

Na parte dos consumidores, o foco que toda montadora deu neste ano foi para a venda de veículos com isenções tributárias para os deficientes físicos (menção honrosa para a Honda – eles sempre trabalharam com a inclusão deste público). Nos últimos 2-3 anos, percebemos um aumento para atender esse público, mas o ano de 2018 foi o ano em que mais se vendeu carros para os PCD.

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O conceito é simples: o Estado é incompetente demais para prover um sistema de locomoção para todos; logo eu dou uma isenção tributária para os deficientes físicos e fica tudo certo! O lado perverso de tudo é que, aquela “marolinha” gerou um estrago tão grande nas contas dos Estados que o pessoal do CONFAZ decidiu mexer nas regras de isenções – logicamente que sempre para piorar a vida de todos…

O preço do veículo para eu obter as isenções está congelado há quase 09 anos (afinal, a inflação no Brasil é apenas um traço), e agora eu sou obrigado a ficar mais tempo com o veículo. A renúncia fiscal do ICMS devia estar doendo demais para os Estados (menção honrosa para o Estado de SP, que não aceitou a proposta do CONFAZ!).

Do lado das montadoras, o grande destaque foi a VW. Crescimento de 35% e, assim como a fênix, está ressurgindo das cinzas! Novos lançamentos para este ano (como o T-Cross, que já falei). E principalmente novos conceitos como o Golf elétrico que vai pintar no segundo semestre e as “novas concessionárias digitais”.

Independentemente se você gosta ou não da VW, uma coisa é certa: no mercado brasileiro, ela sempre foi uma das primeiras em inovação. E os novos projetos para este ano, reforçam essa teoria. Para uma “octogenária” está dando um pau nas “novinhas”…

Por aqui, a aliança Renaul-Nissan (a Mitsubishi é café-com-leite), continua dando frutos, com crescimento médio de 25% independentemente do escândalo do “ex” presidente preso lá no Japão.

Mas a menção “mais que honrosa” vai para a CAOA-Chery. O cara que fez a Renault e Hyundai (aqui no Brasil) agora está ajudando a fazer uma nova marca. A marca encerrou o ano com crescimento de 131%, com quase 9 mil carros vendidos. Ainda é pouco, mas o futuro é promissor. A marca já ultrapassou (em unidades vendidas) a Volvo e a Land Rover, encerrando o ano na 18º colocação. Neste ano ela deverá ultrapassar – facilmente – a AUDI, BMW, KIA, M. Benz e brigará pela 13º posição com alguma das marcas da PSA. Lembrando que começam as vendas (pra valer) do seu novo sedan pequeno, agora nesse ano.

A grande dúvida deste ano está com o pessoal da FCA: possuem mais de 700 concessionários e vendem 62% dos seus produtos diretamente ao cliente final (como comparativo, o percentual da Honda é de 17%). A grande pergunta que deve nortear a montadora neste ano é: “como eu me livro de metade desse povo sem ter que indenizar ninguém?” Ou pode ser um grande devaneio meu…

E aí, o que achou? Duvidas, me manda um e-mail aqui.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva