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Efeito reverso: montadoras lucram com IPI e presenteiam consumidor com carro 0 km mais caro

No final, benesses do governo federal às montadoras não vão chegar ao consumidor final. Mas, pelo menos, vão garantir um PLR gordo para diversos executivos...
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras,

Encerramos o mês de fevereiro e o primeiro bimestre do ano. Passamos pelas festividades de Carnaval, momento em que o país começa a funcionar de verdade, e entramos naquela fase insuportável entre o Carnaval e o Ano-Novo, quando precisamos “realmente” arregaçar as mangas!

E como foi a dinâmica de vendas do setor automotivo?

O mês de fevereiro finalizou com ridículos 120 mil carros vendidos. Isso representou uma queda de 24% sobre fevereiro do ano passado, quando vendemos 158 mil carros.

Neste primeiro bimestre, o setor registrou o volume de 236,7 mil veículos vendidos contra 320,8 mil nos primeiros dois meses de 2021. Ou seja, retração de 26,2% – ou 84 mil carros vendidos a menos.

No começo deste ano, o nosso “sonho de uma noite de verão” era que o setor conseguisse fazer o mesmo resultado do ano de 2021, com GRANDES CHANCES de uma leve queda de 2% a 3%. O estagiário ficava vendo e revendo todos os seus modelos econométricos, uma vez que a voz uníssona do setor era de que as vendas se expandiriam em até 10%.

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Pois bem, se a gente pegar a projeção do pessoal e colocar o sinal de menos (-) na frente, com sorte a gente chegará lá!

Gente, o setor se encontra no seu pior patamar desde 2006. Retrocedemos 15 anos!

Mas isso não é o pior. O pior de tudo é que o setor TRAVOU de vez!

Quando as vendas de veículos novos “param”, o pessoal migra automaticamente para os carros usados. A tônica sempre foi a de que o brasileiro sempre estava comprando carro, seja ele novo ou usado. E, quando víamos as curvas de vendas destas duas modalidades, o setor registrava crescimento nas vendas mesmo quando o setor de veículos novos despencava.

Mas, neste ano, está tudo de cabeça para baixo. As vendas de veículos usados neste primeiro bimestre totalizaram 1,225 milhão de unidades vendidas, contra 1,745 milhão do primeiro bimestre do ano passado. Isso representa uma queda de 30%, ou 520 mil carros a menos. Esse é o pior resultado do setor de carros usados desde 2011!

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Na real, a situação do setor é tão crítica que, daqui a pouco, eu posso virar jornalista de obituários, de tanta tragédia que a gente noticia.

E em situações de crise, a grande pergunta que o setor automotivo faz é: e agora, quem poderá nos defender?

Antes fosse o Chapolin Colorado… mas serve o Governo Federal.

E, tal como nosso carismático (e atrapalhado) herói mexicano, o governo federal vem chegando com as suas invencionices.

A última, em plena sexta-feira de carnaval, foi reduzir o IPI dos carros novos. Ou seja, o Paulinho decidiu usar uma “tática” que já foi utilizada nos últimos 30 anos, esperando um resultado diferente.

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O problema do Paulinho é que ele deve ter passado muito tempo fora do Brasil e se esqueceu da regra básica do país:

Qual seria a lógica básica?

A lógica é a de que os veículos novos ficassem ligeiramente mais baratos…

Mas aqui é Brasil! O que a história nos conta? COMO NOS ÚLTIMOS 30 ANOS, quando houve redução de imposto, as montadoras reajustavam G-R-A-D-A-T-I-V-A-M-E-N-T-E os preços dos carros, e aí embolsavam toda essa diferença para elas. Mas elas faziam isso em alguns meses…

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Elementar, meu caro Watson! Aqui é Brasil.

Então, como foi desta vez?

Meu… nem esperaram uns dois meses para avacalhar! Tacaram o louco e foram com tudo! Grande parte das montadoras decidiu passar a “mão grande” nessa redução de IPI, agora! O que apuramos é que elas aproveitaram esse mês de março e soltaram NOVOS reajustes nos seus veículos. Ou seja, além de embolsarem na redução de IPI, aumentaram o preço do carro.

E não foi aquele aumento de 0,5%. Eles majoraram o preço em mais de 2% neste mês, fora o ganho do IPI. Teve carro em que o aumento do preço chegou a quase 10%.

Lógico que existem aquelas montadoras que passaram um óleo de peroba antes. Teve marca que anunciou reajuste e depois cancelou o aumento (mas passou a “mão-grande” no IPI). Outras que não reajustaram, mas também não reduziram.

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Só teve uma montadora de volume (pelo que apuramos) que reduziu os preços dos seus veículos na mesma proporção da redução de IPI.

No final, essas benesses do governo federal não vão chegar ao consumidor final. Mas, pelo menos, vão garantir um PLR gordo para diversos executivos…

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui.

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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