Uma semana histórica para o Bitcoin

O ano começou bem para o Bitcoin. A julgar pelos acontecimentos da última semana, essa é a conclusão. Enquanto governos e reguladores ainda parecem vacilantes, ora receptivos, ora bastante consternados com o crescimento da moeda digital, cada vez mais comerciantes estão se dando conta das enormes vantagens de adotar a moeda como forma de pagamento.

Fernando Ulrich

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O ano começou bem para o Bitcoin. A julgar pelos acontecimentos da última semana, essa é a conclusão. Enquanto governos e reguladores ainda parecem vacilantes, ora receptivos, ora bastante consternados com o crescimento da moeda digital, cada vez mais comerciantes estão se dando conta das enormes vantagens de adotar a moeda como forma de pagamento.

Pelo lado dos reguladores, as notícias são variadas. Na Alemanha, embora o Ministério da Fazenda tenha reconhecido o Bitcoin como “unidade conta” e “dinheiro privado” para fins fiscais, na semana passada Carld-Ludwig Thiele, funcionário do Bundesbank, em entrevista à revista Handelsblatt, demonstrou preocupação e alertou os usuários sobre os riscos da moeda digital. “Devido à sua construção e sua volatilidade, os bitcoins são altamente especulativos”, advertiu ele. Curiosamente, seguindo a entrevista estava uma notícia de que cada vez mais estabelecimentos estão aceitando a moeda – a despeito de todos os avisos de perigo.

Na mesma linha foi a declaração de Ceajer Chan Ka-keung, do órgão regulador do setor financeiro de Hong Kong, deixando claro que a autoridade “está monitorando de perto o desenvolvimento do Bitcoin para garantir que a moeda digital não desestabilizará o mercado financeiro local”.

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Mas algumas notícias foram claramente positivas. Em reunião informal com o Banco Nacional da Bélgica, a Associação Belga de Bitcoin informou que “neste momento, o Banco Nacional não tem planos de regular Bitcoin além das próprias leis vigentes”. A melhor notícia, porém, veio de Cingapura. Famosa pela liberdade econômica e abertura financeira, a cidade-estado pronunciou-se oficialmente acerca dos bitcoins, divulgando pela Inland Revenue Authority of Singapore (IRAS, equivalente à Receita Federal) uma resposta aos questionamentos levantados pela corretora local Coin Republic. Mantendo uma postura amigável e dando um fim às incertezas com relação ao tratamento legal das diversas transações possíveis com a moeda digital, a IRAS definiu detalhadamente a forma pretendida de tributação do Bitcoin.  

Deixando o setor público de lado, voltemos nossa atenção aos acontecimentos no ecossistema Bitcoin. Feito notável, o serviço de carteira online blockchain.info atingiu, no início da semana passada, a marca histórica de mais de 1 milhão de carteiras criadas no site. Considerando que, há pouco mais de um ano, esse número não passava de 100 mil, o crescimento não é nada desprezível.

Em terra tupiniquim, a novidade veio do MercadoBitcoin, a exchange de bitcoins pioneira no Brasil, ao anunciar o primeiro ATM (caixa eletrônico) de bitcoins da América do Sul, a estrear na Campus Party 2014, em São Paulo. “Será uma forma de atrair as pessoas ao Bitcoin, pois ainda que seja um evento de tecnologia, muitos certamente nem sequer saberão o que é a moeda digital”, disse Rodrigo Batista, CEO do MercadoBitcoin.

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Mas a notícia mais alardeada da semana – e com razão – foi o anúncio da Overstock de que passaria a aceitar pagamentos em bitcoins. A Overstock, empresa americana de comércio online com mais de US$ 1 bilhão em receitas anuais, passa a ser o primeiro grande varejista a adotar o Bitcoin como forma de pagamento. A notícia é extremamente relevante por diversos motivos. Primeiro, porque a empresa antecipou em alguns meses a adoção da moeda, bem antes do que o mercado imaginava. Segundo, porque não é apenas um pequeno comerciante num bairro longínquo nos subúrbios de Berlin anunciando ao mundo a acolhida do Bitcoin.  É, na verdade, uma empresa aberta, com quinze anos de existência e listada em Bolsa desde 2002. É claro que o bottom line não foi a única razão para a adesão à moeda digital. Patrick Byrne, CEO e chairman da Overstock, é um libertário convicto, tem formação em economia da Escola Austríaca e simpatiza com a ideia de desestatização da moeda defendida por F. A. Hayek, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1974. Foi uma decisão ideológica também.

O que acelerou a adoção do Bitcoin pela Overstock foi o empenho da Coinbase, empresa sediada em São Francisco e especializada em intermediar pagamento em bitcoins além de outros serviços (a Coinbase recentemente levantou US$ 25 milhões com a empresa de Venture Capital  Andreessen Horowitz). A Overstock tornou-se, assim, a maior cliente da Coinbase.

A operação com a Coinbase funciona da seguinte forma: o consumidor paga em bitcoins e a Coinbase converte na moeda nacional, transferindo esta ao comerciante. Assim, o varejista evita ficar sujeito à volatilidade do bitcoin. Enquanto o uso da moeda não é generalizado e um mercado de derivativos não se desenvolve – o que permitiria hedgear a exposição em bitcoins –, a solução da Coinbase é fundamental para ampliar o uso da moeda. E como o próprio Byrne explicou em entrevista à CNN, “Não faz muito sentido manter encaixe na moeda enquanto não posso pagar meus fornecedores com bitcoins. Mas é como a história do ovo e da galinha. Agora estamos aceitando bitcoins como pagamento, mas sem mantê-los em caixa. Quando meus fornecedores começarem a aceitar, poderemos segurar alguns bitcoins e converter menos em dólares.” Concordo plenamente com Byrne.

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Sem dúvida alguma, a entrada da Overstock na economia do Bitcoin é um passo importante à ampliação do uso da moeda ao redor do mundo. Será que a Amazon vai dormir no ponto?

Ainda que tenha sido um excelente começo de ano para as moedas digitais, não devemos esperar só notícias boas no curto e longo prazo. É um mercado nascente, se não embrionário, em que há muitos obstáculos a ultrapassar. Tenho certeza de que haverá diversos solavancos ao longo do caminho. Mas também acredito, que pouco a pouco, as vantagens e os benefícios das moedas digitais ficarão muito mais nítidos e aparentes, levando empresas e indivíduos a encarar essa inovação financeira não como risco, mas como solução.

Ao mercado brasileiro de moedas digitais, outra novidade é este próprio blog, que hoje dá seu primeiro passo. Será um espaço dedicado à cobertura desse mercado, que, embora poucos entendam e muitos desacreditem, cresce rapidamente, atraindo muito além do que apenas geeks e gênios da computação – sendo este autor nenhum dos dois. Publicaremos não apenas notícias e fatos, mas também comentários e análises fundamentadas. Novidades não faltarão.

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A moeda na era digital está apenas começando.

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Fernando Ulrich

Fernando Ulrich é Analista-chefe da XDEX, mestre em Economia pela URJC de Madri, com passagem por multinacionais, como o grupo ThyssenKrupp, e instituições financeiras, como o Banco Indusval & Partners. É autor do livro “Bitcoin – a Moeda na Era Digital” e Conselheiro do Instituto Mises Brasil