Será que o nosso PIB potencial não está maior?

Existe uma boa possibilidade de estarmos subavaliando o nosso PIB potencial

Luiz Fernando Figueiredo

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(Getty Images)
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As surpresas de maior crescimento aconteceram seguidamente nos últimos quatro anos, algo que chama bastante atenção, que, no mínimo, vale alguma investigação a respeito.

Uma breve recapitulação: no início de 2021, o Focus projetava 3,4% de PIB ao fim do ano, o efetivo foi de 5,0%; no início de 2022, o Focus projetava 0,3% de PIB ao fim do ano, o efetivo foi de 2,9%; no início de 2023, o Focus projetava 0,8% de PIB ao fim do ano, e o número deve ser ao redor de 3,0%; e por enquanto, o Focus projeta PIB de 1,5% em 2024, mas há uma significativa chance de ser mais próximo de 2,0% a 2,5%.

Nesse sentido, será que o PIB potencial brasileiro não é mais elevado do que a expectativas atuais, do que os analistas acreditam?

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No questionário pré-Copom de junho, a mediana estava em 1,8%.

Ainda que o crescimento potencial seja uma variável não observável e as estimativas acabem divergindo bastante, o principal ponto de discussão que estamos propondo é o histórico de reformas estruturais dos últimos seis anos e seus efeitos.

Algumas cujo efeito não é direto, mas influenciam diretamente na elevação da credibilidade institucional do país e, por conseguinte, ajudando os investimentos.

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Esse processo começou com reforma trabalhista realizada em 2017 e, a partir de 2019, a lista se torna bastante extensa: tivemos a reforma da previdência, a independência do Banco Central, inúmeros marcos regulatórios – ferrovias, saneamento básico, startups, lei de liberdade econômica, dentre várias outras.

Além disso, hoje estamos provavelmente na antessala da aprovação da reforma tributária, que tem potencial de elevar o PIB em 1,0 a 1,5% quando estiver em vigor.

E é nesse ponto, que vem a interessante reflexão que Roberto Campos Neto tem feito em suas últimas exposições.

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Há oito anos, os economistas diziam que o PIB potencial do Brasil era ao redor de 2,8%. As soluções apontadas para elevar esse valor passava por uma lista de reformas e medidas que aumentassem a eficiência institucional.

Nos dias de hoje, uma boa parte dessa lista já se realizou e por que o PIB potencial é de 1,8%?

Um outro elemento que é consequência de uma das reformas, a reforma trabalhista, é uma NAIRU: uma taxa de desemprego que não acelera e nem desacelera a inflação em patamar mais baixo.

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De fato, estamos vendo um mercado de trabalho ainda robusto e resiliente, com desemprego em níveis que não se via desde 2015.

As mudanças positivas do lado microeconômico levam um tempo para surtir efeito e, uma vez que o impacto não é capturado nos modelos econômicos, existem motivos para se afirmar que esse efeito cumulativo parece estar se manifestando em nosso PIB potencial mais elevado.

Um cálculo recente feito pela Buyside, consultoria econômica de bastante qualidade, chegou à conclusão que o nosso PIB potencial está hoje mais para 2% a 2,5% e subindo para 2,6% nos próximos anos, isto sem incluir qualquer efeito da reforma tributária.

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Ou seja, existe uma boa possibilidade de estarmos subavaliando o nosso PIB potencial se olharmos os indícios que comentamos acima. Será que não estamos num bom momento para revermos com maior profundidade os nossos modelos?

Este artigo tem a co-autoria do economista da Jive Investments Luan Takada e a base de estudos da Buyside, Andrea Damico e Gustavo Rostelato

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Luiz Fernando Figueiredo

Presidente do Conselho de Administração da Jive Investments. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.