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Vamos ser sinceros. Criticamos os médicos brasileiros por se recusarem a ir ao interior, mas somos hipócritas.
Quantos dos seus críticos estariam dispostos a abrir mão dos luxos e comidades dos grandes centros urbanos? Médicos apenas seguiram os mesmos passos de milhões quando decidiram morar nas metrópoles.
Se há um culpado pela escandalosa dificuldade de acesso à saúde do brasileiro mais pobre, ele se chama “estado”. Não pelo que faz, mas pelo que poderia deixar de fazer.
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Entre 2013 e 2018, as universidades brasileiras foram a parte mais importante do “Mais Médicos”. Uma que não dependia da simpatia de ditadores.
Nos últimos cinco anos, o número de vagas para formação médica saltou de 19 mil para 31 mil. A lógica é elementar: se há mais médicos, há mais chance de alguns trabalharem no interior do país. No longo prazo, o acesso à saúde nos rincões seria facilitado.
Governos, entretanto, não costumam seguir a lógica elementar. No início deste ano, o Ministério da Educação cedeu à pressões corporativistas e instituiu uma moratória de 5 anos na criação de novas vagas e cursos de medicina. O então ministro Mendonça Filho acreditava que, agora, o Brasil havia alcançado “um patamar de atendimento pleno das necessidades”. Nada mais longe da realidade.
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Reclamar da falta de médicos e impedir sua formação não é o único meio do governo dificultar o acesso à saúde.
Em boa parte do mundo, profissionais treinados são autorizados a realizar atividades menos complexas e, em casos mais graves, encaminhá-los a formados em medicina.
Isso poderia ser feito no Brasil e trazer bons resultados.
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Uma revisão de literatura publicada este ano, mostrou que enfermeiros treinados podem realizar o atendimento primário em pacientes com efeitos iguais e até melhores do que os realizados por médicos.
Nos Estados Unidos, técnicos em optometria podem fazer exames de refração, receitar óculos e lentes de contato. Não é incomum que óticas tenham optometristas a postos e ofereçam descontos para quem realizar o exame na própria loja (veja aqui e aqui).
Mais ao norte, os canadenses colocaram seus optometristas até dentro de supermercados! Quando há algo mais grave, estes profissionais encaminham o seu paciente para um médico especializado.
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Por aqui, ainda obrigamos médicos oftamologistas a lidarem com uma enorme quantidade de pessoas que desejam apenas saber o grau do seu novo óculos. No Brasil, os optometristas vivem num limbo legal com decisões que ora liberam, ora proíbem o exercício da sua profissão.
Este arranjo sobrecarrega os profissionais da medicina e cria uma intransponível para a maior parte da população.
Hoje, médicos não podem concentrar sua atenção em pacientes com problemas especializados e mais complexos. Qualquer procedimento, simples ou não, exige uma visita ao consultório.
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Com este arranjo, se já era difícil o sistema de saúde chegar aos rincões do país, o governo brasileiro está demonstrando com afinco que quer tornar qualquer melhora impossível.