Publicidade
Por Guilherme Zamur*
Resenha do livro O Lado Difícil das Situações Difíceis de Ben Horowitz – Guilherme Zamur
Cada vez mais comum, o termo “foguete não tem ré” é frequentemente utilizado para descrever startups que, por meio da inovação, conseguem aumentar seu faturamento ou base de clientes de maneira acelerada. Neste contexto, a analogia do foguete é adequada por vários motivos.
Continua depois da publicidade
A começar pela quantidade significativa de energia necessária para fazer o foguete decolar e atingir o espaço. Movimentar toneladas de alumínio contra a força gravitacional, rompendo a resistência do ar, não é uma tarefa fácil. Há também o risco de algo não funcionar antes, durante e após o lançamento, e o foguete empacar, cair ou, até mesmo, explodir. Da mesma forma, inovar em um mercado com soluções diferentes do status quo, rompendo a resistência para o novo, não é uma tarefa fácil. O risco é inerente aos negócios, em especial, aos mais disruptivos, em que impera a incerteza inclusive em relação às definições mais simples, como existir ou não demanda para aquele novo produto ou serviço.
Não à toa, pilotos e astronautas de foguetes espaciais orgulham-se muito ao cumprir sua missão de levar seu foguete para o espaço. De volta à Terra, são recebidos e ovacionados como heróis por seus concidadãos. O mesmo acontece com empreendedores que conseguem liderar e conduzir suas empresas a um crescimento acelerado. Se tornam heróis por serem capazes de cumprir a missão de levar suas empresas para uma nova realidade – um novo “espaço” -, mesmo contra todas as adversidades.
No entanto, a narrativa do foguete que não tem ré frequentemente coloca em segundo plano aspectos importantes da rotina dos empreendedores que comandam esses foguetes rumo ao desconhecido. Falar apenas do resultado positivo, do piloto que conduziu seu foguete ao espaço com maestria e agora é ovacionado como herói, é uma falácia recorrente nos mais variados conteúdos sobre empreendedorismo. E é nesse sentido que Ben Horowitz, em seu livro O lado difícil das situações difíceis (2015), diferencia-se dos demais ditos “gurus” do assunto. Afinal, nas palavras de Ben, “o difícil não é sonhar grande, é acordar suando frio no meio da noite quando o sonho vira pesadelo”.
Continua depois da publicidade
Além do resultado de sua missão, é fundamental dar ênfase ao processo pelo qual o empreendedor passa, como líder de um grupo de pessoas que compartilham um objetivo comum. Isso porque, na maior parte do tempo, as situações enfrentadas no dia a dia são difíceis. Ben fala com conhecimento de causa: em sua vida e carreira no setor de tecnologia, vivenciou diversas situações difíceis “para as quais não há atalhos”. De estagiário na Silicon Graphics, passou pela SGI, NetLabs e Lotus, assumiu cargo executivo na Netscape e, posteriormente, abriu a Loudcloud, em 1999, pouco tempo antes do estouro da bolha da Internet dos anos 2000.
Através de suas dificuldades e experiências, é possível identificar no livro de Horowitz bons ensinamentos para empreendedores e líderes que enfrentam situações difíceis diariamente. Dentre eles, destaco dois que ressaltam a importância do Instituto Formação de Líderes São Paulo (IFL-SP) na formação de líderes e empreendedores para o Brasil.
O primeiro ensinamento diz respeito à necessidade de lidar com um turbilhão de emoções a todo momento e, em especial, nas situações difíceis. Como observa Horowitz, nas diversas situações difíceis pelas quais ele passou, a parte racional da situação não era a mais complexa. Nas palavras de Ben, a habilidade mais difícil para um líder – ou “diretor-executivo” como ele chama – é administrar os próprios sentimentos e sua mente.
Continua depois da publicidade
Os motivos para tal são muitos. Existe uma expectativa de que o líder seja capaz de decidir a respeito de qualquer assunto, mesmo aqueles que não domina. Porém, como “as coisas dão errado mesmo para quem sabe o que está fazendo”, argumenta Ben, para quem não sabe, então, a probabilidade de dar errado se multiplica, e junto com a decisão do líder vem a responsabilidade e a culpa pelo erro. Nisso está uma fonte de diversas emoções para o líder que “leva tudo para o lado pessoal, ou não leva os problemas suficientemente para o lado pessoal”. Lidar com este turbilhão de emoções não é simples e Horowitz sugere que a troca de experiências com outras pessoas que passaram ou estão em situação semelhante é fundamental.
O segundo ensinamento diz respeito à possibilidade de desenvolver as características necessárias para a liderança. Para Ben, um líder precisa ter coragem para lidar com situações difíceis, bem como precisa ter três habilidades para obter sucesso em suas missões. Ter coragem não é deixar de sentir medo em qualquer situação, mas ter a capacidade de ignorar este sentimento quando ele aflora. É possível, portanto, aprender formas de fazer isso no que Horowitz chama de processo de desenvolvimento da coragem, onde “toda vez que você toma a decisão difícil e correta, torna-se um pouco mais corajoso; toda vez que toma a decisão fácil e errada, torna-se um pouco mais covarde”.
Além disso, o líder precisa ser capaz de formular e comunicar a visão da missão, ser capaz de alinhar os interesses dos indivíduos com este objetivo e, por fim, ser capaz de realizar a visão, colocando-a em prática. Logo, tanto a coragem como as habilidades necessárias para liderar não são características pré-determinadas no nascimento, mas sim passíveis de serem aprendidas, tais como os movimentos “não naturais” específicos do boxe, para citar o exemplo que Horowitz destaca.
Continua depois da publicidade
O IFL-SP segue esses dois ensinamentos de Horowitz. Sendo composto por jovens líderes e empreendedores, com apreço inegociável pela liberdade, o Instituto possibilita um espaço rico de troca de experiências que ajudam – e muito! – a lidar com o turbilhão de emoções que um líder enfrenta em sua atividade solitária. Além disso, também oferece um ambiente seguro e as ferramentas necessárias para que seus associados possam exercer, na prática, a coragem de tomar as decisões certas, mesmo que difíceis, e as habilidades de liderança, formulando, comunicando e colocando em prática uma visão, seja para o Instituto ou para os projetos que promovemos. Fica, portanto, o convite para que os pilotos de foguetes que não têm ré conheçam mais sobre o livro de Horowitz e sobre o IFL-SP.
Referências
HOROWITZ, Ben. 2015. O lado difícil das situações difíceis. Editora WMF Martins Fontes. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla.
Continua depois da publicidade
*Guilherme Zamur é empreendedor e fundador da Fiscal Cripto, sistema dedicado a ajudar investidores de criptoativos a fazer suas declarações fiscais. É mestre em Administração pela FGV-SP e associado ao IFL-SP.