Itaú Unibanco volta a competir em seguros corporativos

A presença de seguros no mercado de capitais é uma necessidade urgente para apoiar os investimentos vitais no Brasil

Denise Bueno

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(Getty Images)
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Nove anos após ter deixado o segmento de seguros corporativos, o Itaú Unibanco está retomando a oferta de produtos nessa área através da Itaú Seguros e planeja expandir ainda mais sua presença por meio de parcerias com a Itaú Corretora.

“Atualmente, o foco está em linhas financeiras, especialmente seguro garantia, em todas as suas modalidades, além de fiança locatícia”, revela Eduardo Domeque, head de seguros do Itaú Unibanco.

“Manteremos, porém, uma linha de atuação híbrida, como já fazemos no varejo, onde buscamos entregar a melhor proposta de valor para os nossos clientes, seja usufruindo da solidez e confiança da marca Itaú ou oferecendo alternativas cuidadosamente selecionadas no mercado – o que reforça o conceito de ‘one-stop-shop’ financeiro. Devemos manter o sólido crescimento que essa estratégia tem proporcionado ao longo de 2024”,  resumiu Domeque à coluna.

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Embora não tenham sido divulgados muitos detalhes, o renascimento do interesse do maior banco privado do Brasil no mercado de seguros está gerando grande interesse entre os executivos que atuam com riscos corporativos.

Em muitos casos, esses contratos envolvem especialistas altamente disputados por corretores, seguradoras, segurados e resseguradoras, já que o cerne é uma avaliação sólida dos riscos. Se calculados com precisão, esses contratos podem trazer lucro substancial; entretanto, um cálculo inadequado pode levar a prejuízos significativos.

Em agosto de 2014, o Itaú interrompeu sua atuação em grandes riscos, seguindo uma tendência do setor de seguros em que bancos focam mais no mercado de varejo. O banco vendeu sua divisão de seguros de grandes riscos para a seguradora americana ACE, que desembolsou R$ 1,5 bilhão pela aquisição.

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Dois anos mais tarde, a ACE adquiriu a Chubb Seguros, transformando-se na maior seguradora de capital aberto do mundo, com um valor de mercado de US$ 51,2 bilhões. O nome Chubb prevaleceu após a fusão das empresas.

Outros grandes bancos brasileiros, como Bradesco, Caixa e Banco do Brasil, também tomaram medidas no mercado de grandes riscos.

O Bradesco estabeleceu uma parceria com a Swiss Re Corporate Solutions, o braço de seguros da suíça Swiss Re, o que começou a render frutos após cinco anos. O grupo suíço assumiu as operações de seguros corporativos (“Property & Casualty”) e de transportes da Bradesco Seguros, permitindo-lhe acesso a canais, clientes e segmentos que, de outra forma, seriam de difícil alcance.

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O marco de R$ 1 bilhão em receita da Swiss Re Corporate Solutions no Brasil, conhecida como CorSo, foi comemorado em outubro de 2022, sendo 35% dessa quantia proveniente da joint venture. Na semana passada, uma equipe da Bradesco Seguros estava em treinamento técnico na matriz suíça.

A escolha de uma seguradora pelo cliente nem sempre se baseia em critérios estritamente técnicos. Em algumas situações, as empresas optam por uma seguradora associada a um banco visando facilidades nos serviços bancários e taxas mais baixas para financiamentos. Sim, esse tipo de cenário ainda é uma realidade. Além disso, quando se trata de multinacionais, a seleção da seguradora frequentemente é influenciada pela empresa local parceira do programa mundial de seguros.

Esse antigo modo de negociação tem valorizado especialistas que buscam reduzir custos e obter capital suficiente para cobrir os negócios que serão gerados pelos R$ 1,7 trilhão em investimentos planejados no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em todos os estados brasileiros. Os fundos virão do Orçamento Geral da União (R$ 371 bilhões), de empresas estatais (R$ 343 bilhões), financiamentos (R$ 362 bilhões) e do setor privado (R$ 612 bilhões).

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Esses contratos envolvem muitos tipos de seguros e interesses diversos. O principal foco no momento é o seguro garantia, que tem como objetivo assegurar a conclusão de projetos dentro dos prazos e custos acordados. No entanto, as perdas passadas e as preocupações com riscos futuros e imprevisíveis têm limitado o apetite das resseguradoras, que são as principais fornecedoras de capital para o seguro primário.

O governo e as construtoras envolvidas são basicamente as mesmas que foram investigadas em 2014 e que causaram perdas significativas para o setor de seguros. Isso resultou em prêmios de seguro mais altos e condições contratuais mais restritas, já que as perdas passadas desempenham um papel importante na formação dos prêmios.

Além disso, o cenário global atual se encontra em uma fase chamada “hard market” (mercado difícil), onde as cláusulas e condições contratuais estão mais rigorosas. Isso se justifica pela necessidade das resseguradoras de recuperarem as perdas históricas desde o início da pandemia, as quais incluem mortes, interrupções nas cadeias de suprimentos, indenizações por perda de lucro de empresas afetadas pelos bloqueios, aumento de acidentes durante a retomada das operações fabris, entre outros fatores.

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Para tornar as coisas ainda mais complexas, o mundo está enfrentando tensões geopolíticas após a pandemia. Os conflitos entre Rússia e Ucrânia têm causado prejuízos significativos, com apreensão de bens e interrupção de fornecimento de diversos produtos. Isso tem resultado em rupturas nas cadeias de suprimentos em muitos setores da economia global.

Além disso, um fator crucial são as indenizações recordes devido a perdas relacionadas a eventos climáticos extremos. O primeiro semestre de 2023 continua a tendência dos anos anteriores, com perdas substanciais. Embora o total de perdas de US$ 110 bilhões tenha sido menor do que no primeiro semestre de 2022 (US$ 120 bilhões), esse montante ainda supera a média dos últimos dez anos (US$ 98 bilhões, ajustados pela inflação).

O mesmo padrão se aplica às perdas seguradas de US$ 43 bilhões, que foram menores do que os US$ 47 bilhões do mesmo período do ano anterior, mas ainda superiores à média de dez anos para perdas semestrais, que é de US$ 34 bilhões. Esses dados foram revelados em uma pesquisa da Munich Re.

A agitação nesse setor está apenas começando e também afeta os corretores de seguros. Para orientar a técnica, a gestão e maximizar os negócios, os clientes e as resseguradoras competem por corretores especializados em seguros. A demanda é especialmente alta nos novos contratos na área de energia, tanto na exploração e produção de petróleo e gás, quanto nas usinas térmicas.

A WTW (Willis Towers Watson) anunciou novas contratações para sua área de seguro garantia, incluindo Leonardo Baeta, especialista em recursos naturais como petróleo, energia e mineração; Aline Dalindo, com experiência na área de crédito; e Marco Darhouni, com anos de atuação nos setores de transporte, aviação e navegação.

Neste mês, a Latin Re, composta por executivos de várias seguradoras, resseguradoras e corretoras, celebrou seu sucesso ao se tornar a primeira corretora de resseguros do Brasil a obter licença para operar diretamente no mercado de seguros Lloyd’s of London, o maior do mundo.

Todos reconhecem que os organismos multilaterais não conseguirão lidar sozinhos com tantos investimentos e, portanto, a partilha de riscos desempenha um papel fundamental. A criação de produtos para captação de recursos e redução do custo de capital é uma abordagem válida, incluindo debêntures de infraestrutura e garantias bancárias.

No entanto, devido ao grande volume de investimentos previstos, a presença de seguros no mercado de capitais é uma necessidade urgente para apoiar os investimentos vitais no Brasil. Isso explica o retorno do Itaú, a parceria do Bradesco e o reforço do setor de seguros por parte de bancos de investimento.

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Denise Bueno

Jornalista especializada em seguros, resseguros, previdência e capitalização, é fundadora do blog Sonho Seguro