Setor imobiliário deve assumir sua responsabilidade no combate às mudanças climáticas

A transição para modelos com baixas emissões de gases de efeito estufa é também uma oportunidade para construtores e gestores imobiliários

Luis Claudio Garcia de Souza Marcelo Hannud

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(baona/iStock/Getty Images Plus)
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O processo de construção de empreendimentos imobiliários, somado à manutenção e à operação dos imóveis já existentes, é responsável por mais de 40% das emissões de CO2 lançadas na atmosfera anualmente. Esse dado destaca a urgência de os atores do setor imobiliário encararem a realidade e assumirem seu papel no combate ao aquecimento global. Enfrentar as mudanças climáticas é uma responsabilidade de todos e tem consequências diretas para o setor, que enfrenta perdas causadas por fenômenos naturais, como grandes enchentes ou ondas de calor, com impacto direto no consumo de energia.

No entanto, como todo grande desafio, a necessária transição para modelos com baixas emissões de gases de efeito estufa é também uma oportunidade para os construtores e gestores imobiliários. Aqueles que liderarem essa mudança sairão na frente na corrida por uma nova forma de atuação na cadeia de desenvolvimento imobiliário e definirão as mudanças a serem implementadas.

A humanidade está testemunhando a maior expansão de área construída da história. De acordo com um estudo da Agência Internacional de Energia que traçou um cenário das emissões do setor imobiliário, entre 2020 e 2060, o total de área construída no mundo deve dobrar, atingindo 241 bilhões de metros quadrados. Isso equivale a uma cidade do tamanho de Nova York sendo construída a cada mês.

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Esse crescimento vem acompanhado de um compromisso e uma pressão cada vez maiores para alcançar a neutralidade de carbono, o que só será possível por meio de modelos inovadores de atuação e novas tecnologias. Seja por meio de regulamentações governamentais, pressão de investidores ou demanda do mercado consumidor, os imóveis passarão a ter novos elementos definidores na sua precificação.

Esse cenário impõe, por exemplo, um grande peso na eficiência energética de um imóvel, seja ele residencial ou corporativo, no momento da escolha para ocupação. O custo da energia tende a se correlacionar cada vez mais com o custo do carbono, tornando-a mais cara à medida que promove mais emissões. O acesso a alternativas energéticas limpas e eficientes exigirá investimentos dos atuais proprietários para readequações e fortalecerá fornecedores alinhados com as expectativas de um setor comprometido com um mundo neutro em carbono.

O boom na construção não se limitará ao aumento do número de novos imóveis e infraestrutura ao redor do planeta. Há uma crescente necessidade de adequar ativos imobiliários antigos para que não percam competitividade na transição para uma economia de baixo carbono. Fornecedores com a capacidade de reutilizar materiais em projetos de renovação ou oferecer matéria-prima produzida a partir de processos mais limpos de manufatura ganharão cada vez mais relevância no mercado.

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Embora de forma mais discreta do que em setores como o de energias renováveis, atores que têm um impacto positivo no clima na cadeia imobiliária começam a mostrar seu propósito e sinalizam como serão as construções no futuro. Desde o ano passado, devido ao braço de venture capital da Aurea Finvest, que criou um fundo para investir em startups que buscam soluções sustentáveis para o setor, temos tido contato com diversos atores dessa corrida. Há empreendedores ao redor do mundo que estão atentos às necessidades de descarbonização do desenvolvimento e gestão imobiliária.

Foi assim que chegamos a empresas como a Kiterio, nos Estados Unidos, que desenvolveu uma plataforma com a capacidade de integrar dados e facilitar o monitoramento de edifícios, permitindo, por exemplo, uma redução de 10% a 30% nos custos de energia e manutenção predial. Ou a também americana Beagle Services, que instala dispositivos inteligentes nas tubulações para detectar vazamentos e reduzir o desperdício de água. São serviços que, além de melhorar a pegada de carbono de cada empreendimento, se tornarão indispensáveis na administração de imóveis devido aos benefícios financeiros que oferecem.

A busca do setor imobiliário para se adaptar às atuais necessidades climáticas do planeta tem ganhado força não apenas em fóruns setoriais, mas também em debates mais amplos na sociedade. No Brasil, ainda este mês de outubro, o Museu do Amanhã sediará a primeira Conferência de Mudanças Climáticas e Descarbonização do Setor Imobiliário, promovida pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e pela Aurea Finvest.

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Fora do país, a COP28, que ocorrerá entre 30 de novembro e 12 de dezembro, é uma oportunidade para incluir o setor imobiliário no debate sobre o aquecimento global. O local do evento é ideal, já que a Conferência das Partes sobre o clima será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes. Em cinquenta anos, a cidade deixou de ser uma vila para se tornar uma grande metrópole no meio do deserto e agora terá que enfrentar questionamentos sobre como tornar suas construções grandiosas mais sustentáveis.

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Luis Claudio Garcia de Souza

Chairman e fundador da Aurea Finvest

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Marcelo Hannud

CEO e fundador da Aurea Finvest