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O ano de 2022 marcou uma significativa quebra nos padrões globais de comportamento dos ativos de risco, desviando das tendências observadas ao longo das últimas quatro décadas. Com alta inflação, volatilidade acentuada, taxas de juros elevadas, tensões geopolíticas e um contexto crescente de protecionismo, essa realidade afetou diversos gestores de patrimônio, incluindo os Family Offices (FOs).
Em pesquisa recente, realizada pela gestora de ativos BlackRock, envolvendo 120 “single family offices” que gerenciam US$ 243 bilhões, buscou-se entender como o time de gestão de recursos dessas famílias vêm se adaptando a um cenário que emergiu no ano passado, apresentando novos desafios e quais são as principais mudanças em suas estratégias de investimento.
Buscando ter uma relevância amostral global, 20% das entrevistas foram feitas com Family offices da América Latina e Ásia, com 41% na Europa e Oriente Médio, e, 39% dos Estados Unidos e Canadá. Ao contrário do levantamento anterior, feito em 2020, que revelou uma estabilidade nos portfólios dos FOs, a mudança rápida do cenário macroeconômico global implicou em uma mudança estrutural capturada pela pesquisa.
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Algo que chama atenção é a relevância do componente tático nos portfólios, tornando a alocação mais dinâmica. Na pesquisa, 76% dos entrevistados afirmaram estar reavaliando suas estratégias de alocação com maior frequência, ajustando o portfólio aos novos desafios de curto prazo enfrentados pelos alocadores. Por sua vez, 83% dos entrevistados aumentaram a posição de caixa, esperando oportunidades de deslocamento de preço para alocar seus recursos.
A tendência observada na penúltima pesquisa já indicava um diagnóstico por parte dos FOs em ter mais liquidez, justamente para se beneficiar desses deslocamentos de forma mais dinâmica. Isso tem acarretado alocações mais táticas, que parecem ser um padrão de curto prazo condicionado às condições atuais, mesmo mantendo como estratégia principal a perpetuação de riqueza de longo prazo.
Os FOs mantêm uma alocação de 61% em ativos tradicionais, sendo distribuídos em 10% em liquidez, 14% em renda fixa e 37% em ações. Os 39% restantes são investidos em investimentos alternativos, dos quais 9% são líquidos e 30% são ilíquidos. América Latina e Ásia seguem uma proporção de 70% em ativos tradicionais e 30% em alternativos, indicando uma preferência regional por estratégias mais conservadoras.
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Entretanto, os percentuais investidos em investimentos alternativos por Family offices permanece superior à maioria dos demais segmentos de investidores, mostrando o compromisso das famílias com a preservação e apreciação de capital no longo prazo.
Comparado ao estudo anterior, houve uma ligeira diminuição na alocação em ativos alternativos. Este movimento sugere que, embora os FOs tenham aproveitado as baixas taxas de juros para expandir suas alocações em alternativos, agora eles estão buscando novamente oportunidades nos mercados tradicionais, prezando por ativos de maior liquidez.
No âmbito de investimentos privados, uma tendência emergente é a intenção de aumentar alocações em setores específicos, como infraestrutura e crédito privado internacional, áreas historicamente negligenciadas pela categoria. Todavia, os mercados privados apresentam inúmeros desafios, como menor liquidez, a falta de visibilidade na estrutura de certas operações e a dificuldade de acesso as melhores oportunidades de investimento, sendo o último apontado como o desafio mais relevante pelos Family Offices.
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A pesquisa nos traz uma visão clara que os FOs focaram seus recentes esforços em três grandes blocos estratégicos:
1) preferência significativa por investimentos de renda fixa
2) busca contínua pela diversificação por meio de investimentos alternativos
3) capacidade cada vez mais evidente de adotar estratégias táticas para explorar oportunidades de deslocamento de preços no mercado
Vivemos uma mudança estrutural única no cenário macroeconômico global, obrigando a maioria dos investidores globais a entender os ajustes necessários para tornar sua alocação de ativos mais adaptada às essas novas condições. São mudanças que devem perdurar por algum tempo, mas que vêm moldando a indústria de gestão de patrimônio.
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Nesse cenário, os Family Offices se posicionam como uma referência relevante para o setor, ditando tendências e mostrando que um planejamento de longo prazo com ajustes táticos adaptativos continua trazendo resultados consistentes para os objetivos de longo prazo dos investidores, mesmo no meio das complexidades do panorama financeiro atual.