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O novo momento da sucessão: a recuperação de Bolsonaro e o tropeço da pré-campanha de Lula

Por  Carlos Eduardo Borenstein -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A pesquisa Ipespe divulgada na sexta-feira (22) sobre a sucessão presidencial dá sinais que a disputa pelo Palácio do Planalto ingressa em um novo momento. Embora o ex-presidente Lula (PT) ainda siga em vantagem nas simulações de primeiro e segundo turno, tenha uma rejeição mais baixa que a do presidente Jair Bolsonaro (PL) e conte a seu favor o fato de o governo ter uma avaliação negativa superando a positiva (52% a 29%), uma série de acontecimentos deixam o pleito de outubro em aberto.

O primeiro fato novo – e que beneficiou Bolsonaro – é a saída do ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) da disputa. Como parte dos eleitores que declaravam voto em Moro tem o presidente como sua segunda opção de voto, parcela importante do eleitorado lavajatista retornou para Bolsonaro, fazendo com que ele reduza a desvantagem em relação ao ex-presidente Lula (PT).

Vale registrar que essa aproximação de Jair Bolsonaro em relação a Lula não decorre apenas da saída de Sergio Moro do tabuleiro. Nos últimos meses, o governo tem adotado uma série medidas econômicas como, por exemplo, o pagamento do 13º salário para os aposentados, o Auxílio Brasil de R$ 400 e a liberação de até R$ 1 mil do FGTS, o que tem impactado positivamente na imagem do presidente.

Soma-se a essas medidas a estabilização da pandemia, fazendo com o que a economia e a sociedade retomem suas atividades para um padrão muito próximo ao cenário anterior a Covid-19. A estabilidade dos indicadores epidemiológicos cria um ambiente psicossocial de otimismo na opinião pública. Embora a inflação, o desemprego e o baixo crescendo continuem afetando negativamente a imagem do governo, existe uma melhora na percepção dos indicadores econômico-sociais quando comparados com 2020 e 2021.

Outro vetor importante desse novo momento da disputa ao Palácio do Planalto são os erros cometidos pela pré-campanha do ex-presidente Lula, que culminaram na saída do marqueteiro da pré-campanha petista Augusto Fonseca.

Quase que paralelamente ao anúncio da escolha do ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin (PSB) como seu vice, o que representa um aceno ao centro político e aos setores refratários ao PT, Lula passou a flertar com uma narrativa simpática à esquerda clássica como, por exemplo, a defesa do aborto, a revogação da reforma trabalhista e ataques a classe média, que foi chamada recentemente pelo ex-presidente de escravista.

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Essa narrativa acabou tendo repercussão negativa e ofuscou o foco anterior da campanha de Lula em temas centrais da sucessão como o desemprego, a inflação e a fome.

Embora a narrativa progressista de Lula tenha agradado aos setores mais à esquerda da sociedade brasileira, criou-se uma contradição com a agenda de frente ampla contra o bolsonarismo que vem sendo construída a partir da aliança com Alckmin.

Das narrativas à esquerda que o ex-presidente lançou mão, a que gerou a repercussão mais negativa foi a defesa do aborto, na medida em que deu munição para o presidente Jair Bolsonaro explorar a declaração de Lula junto ao eleitorado mais religioso, sobretudo os evangélicos, e ganhar pontos neste segmento do eleitorado.

O principal sintoma de que a pré-campanha de Lula está errando e passa por um momento negativo foi a decisão do PT em trocar seu marqueteiro. Ao que tudo indica, Lula irá mudar sua estratégia e a comunicação, afinal de contas não faria sentido o partido trocar o responsável pela comunicação se a campanha estivesse caminhando na direção correta.

Bolsonaro, por sua vez, também tem conseguido avançar a partir da tentativa de reproduzir a polarização de 2018. Aliás, dentro desta perspectiva está inserida a estratégia do presidente em polemizar com as instituições, agradando ao chamado bolsonarismo raiz. É possível que por trás disso esteja a recente decisão de conceder indulto presidencial ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), após ele ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

No campo da terceira via, as divergências continuam prevalecendo no PSDB, MDB e União Brasil e atrasando a definição de seu candidato. Apesar de o ex-governador de São Paulo (SP) João Doria ter sido escolhido em prévias como o pré-candidato tucano, parte importante do partido o rejeita, mesmo após o ex-governador do Rio Grande do Sul (RS) Eduardo Leite (PSDB) ter recuado de suas pretensões presidenciais.

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No MDB, apesar de a senadora Simone Tebet estar postada como pré-candidata, parte importante do MDB das regiões Norte e Nordeste já pende para Lula, enquanto o MDB do Sul, Sudeste e Centro-Oeste inclina-se para Bolsonaro. E no União Brasil, após as resistências que o nome do ex-ministro Sergio Moro encontrou junto aos setores que eram do ex-DEM, o partido posicionou o presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, como pré-candidato ao Planalto.

Apesar de a terceira via ensaiar uma narrativa “nem Lula e nem Bolsonaro” como forma de se posicionar no tabuleiro, não há consenso nem agenda nesse campo capaz de fazer frente à força política e social do lulismo e do bolsonarismo. Mais do que isso, Doria, Leite, Simone e Bivar nem sequer chegam aos 5% das intenções de voto nas pesquisas. Nesse campo da terceira via, o candidato melhor posicionado é o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que na última pesquisa Ipespe registra apenas 8% das intenções de voto.

Para efeito de comparação, enquanto os nomes da terceira via – considerando Ciro nesse campo – contabilizam apenas 15% das intenções de voto no cenário estimulado do Ipespe, Lula e Bolsonaro concentram 76% das intenções de voto na estimulada, e 66% na menção espontânea.

Os números mostrados pelo Ipespe apontam que, salvo a ocorrência de um fato novo relevante, a polarização Lula x Bolsonaro dificilmente será quebrada. Mais do que isso, a novidade que temos neste momento é uma recuperação de Bolsonaro, o que sedimenta ainda mais a polarização em curso.

O que precisamos observar nos próximos meses é qual será a intensidade desta aproximação. Se é verdade que o franco favoritismo de Lula deixou de existir – até mesmo o PT abandonou a narrativa de vitória de Lula em 1º turno – também é verdade que o ex-presidente possui uma vantagem sobre Bolsonaro. Outros dois aspectos importantes é que, até agora, Lula não perdeu intenção de voto, e possui um índice de rejeição (42%) mais baixo que o de Bolsonaro (61%), o que se mantido pode ser decisivo no segundo turno.

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Por outro lado, a partir dos “tropeços” da pré-campanha de Lula, Bolsonaro conseguiu, neste momento, trazer o debate eleitoral para um terreno em que o presidente fica mais confortável: o debate da agenda de costumes e a exploração do suposto “risco” que a uma volta do PT ao poder poderia representar, apostando na narrativa do “medo”, o que sempre assusta a classe média, principalmente.

Outro desafio de Lula e Bolsonaro é como que eles trabalharão a conquista do eleitor de centro, que será decisivo nesta eleição. Lula, após o tropeço de sua pré-campanha, pode ter causado desconfiança nesse público. O mesmo pode ter ocorrido com Bolsonaro após conceder o indulto presidencial a Daniel Silveira, que apesar de agradar ao bolsonarismo, pode não ter sido bem recebido por outros setores da opinião pública.

Diante de todos esses aspectos, faltando cerca de seis meses para as eleições, a sucessão está em aberto. Nota-se que a distância entre Lula e Bolsonaro tem se reduzido em todas as últimas pesquisas.

Outro aspecto importante a ser ponderado – e que pode impactar o cenário – é que os institutos de pesquisa não têm como mensurar o impacto da abstenção, que tem crescido eleição após a eleição, e no pleito de 2018 atingiu 20,3% no primeiro turno e 30% no segundo turno.

Carlos Eduardo Borenstein Cientista político formado pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-RS). É analista político da Arko Advice Pesquisas desde 2006 e consultor político e de marketing eleitoral pela Associação Brasileira dos Consultores Políticos (ABCOP). Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.

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