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O Copom desenhou, na Ata da sua última reunião, o mapa para os agentes econômicos navegarem até as próximas reuniões.
Por ordem de relevância, a direção da taxa de juros será determinada por cinco pontos destacados no documento: i) expectativas de inflação; ii) meta de inflação; iii) como analisar a inflação corrente; iv) taxa de juros neutra; e v) atividade econômica.
i) Expectativas de inflação:
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- As expectativas de inflação desancoraram 1p.p desde novembro de 2022. Podemos separar essa desancoragem em dois períodos e possivelmente quatro fatores. Os primeiros indícios começaram em novembro do ano passado com a incerteza acerca da política fiscal e do risco de leniência da política monetária. A partir de janeiro dois fatores passam a compor a desancoragem, o primeiro é o risco de revisão da meta de inflação para patamares mais altos e o segundo é a surpresa para cima da inflação de corrente de 0,5 p.p.. Nesse contexto, o Copom passou a trabalhar com um cenário alterativo e introduziu na reunião de fevereiro o risco da taxa de juros se manter constante até o terceiro trimestre de 2024. Dos quatro fatores geradores da desancoragem o BC tem efeito rápido e direto em apenas um deles, o risco de leniência da política monetária. Nesse sentido a estratégia ótima foi exatamente a adotada até o momento: sinalizar comprometimento com o seu principal mandato de estabilidade de preços.
ii) Meta de inflação e o balanço de riscos:
- Assim, as expectativas estão desancoradas, porém alguns pontos poderão corroborar para a reancoragem e o início do ciclo de cortes da taxa de juros. Analisando o balanço de risco prospectivo para as expectativas de inflação, estamos entrando em uma janela de potencial fluxo de informações benignas. Uma delas seria se no dia 29 de junho o Conselho Monetário Nacional (CMN) confirmar a meta de inflação para 2024, 2025, 2026 em 3% com alguma flexibilização no horizonte de prestação de contas do BC ao Ministério da Fazenda. Se observado, esse evento tem potencial de elevar a confiança na meta de inflação contribuindo para o processo desinflacionário mais célere e menos custoso. Adicionalmente, as incertezas fiscais podem ser sanadas com a votação e materialização do novo regime fiscal prevista para as próximas semanas.
iii) Como analisar a inflação corrente:
- A inflação acumulada doze meses medida pelo IPCA deverá apresentar volatilidade a partir de maio em decorrência de preços de hortifruti e do efeito base das mudanças tributárias de 2022. Na reunião de agosto do ano passado o Copom optou por suavizar o horizonte relevante da política monetária para seis trimestres, antecipando a sua preferência em casos como esse, mas claro, sem ignorar os seus impactos secundários. Assim, na ata de maio o Copom indica a sua preferência em acompanhar a dinâmica inflacionária subjacente. Nesse ponto, esperamos que os preços livres excluindo alimentação no domicílio deverão passar do patamar acima de 7% em março para próximo de 5% em julho, patamar este mais compatível com o limite superior do intervalo em torno da meta de inflação.
iv) Taxa de juros neutra:
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- Uma discussão importante apresentada na ata foi a confirmação da taxa de juros neutra no patamar atual em 4%, estimado pelo BC. Um risco latente posto com a apresentação do cenário alternativo em fevereiro era justamente a revisão da taxa de juros neutra para cima. Dessa forma, a maioria dos membros do Copom ainda vê essa discussão como prematura, o que condiz com a menor probabilidade do cenário alternativo se materializar e assim abrindo espaço para exclusão desse trecho na comunicação formal do BC na reunião de junho.
v) Atividade econômica:
- Apesar, das perspectivas de crescimento econômico não terem mudado de forma significativa no período recente para o Copom, a composição do PIB esperado na pesquisa Focus segue apontando para um crescimento mais intensivo no setor agropecuário, fator com potencial desinflacionário.
O que esperar para as próximas reuniões?
- Para a reunião de junho podemos esperar alguma suavização da comunicação do BC com a retirada dos riscos de cauda como o cenário alternativo e os riscos fiscais, porém, ainda não esperamos grandes revisões para baixo das expectativas de inflação e, portanto, ainda sem espaço claro para o início de corte da taxa de juros.
- Por outro lado, a contínua desinflação dos itens menos voláteis somado a janela de potencial fluxo de informações benignas poderão contribuir para revisões mais significantes das expectativas de inflação, abrindo assim espaço para o início do ciclo de cortes da taxa de juros em agosto.