Há seis anos, a Microsoft comprava o Linkedin por US$ 26 bilhões; valeu a pena?

"O objetivo da Microsoft é empoderar cada pessoa e organização para realizar mais", disse o CEO Satya Nadella na época. Embora o LinkedIn esteja se provando importante para esse objetivo, ainda não é fonte de lucro

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Em fevereiro de 2014, Satya Nadella foi anunciado como o novo CEO da Microsoft. A companhia havia sido tocada até 2000 por seu criador e acionista majoritário, Bill Gates, e depois por Steve Ballmer – que, apesar de não ter sido fundador, tinha status de tal, segundo o próprio Nadella. Tratava-se então de uma importante transição para a gigante da tecnologia.

Ballmer cometeu uma série de erros, desde menosprezar o surgimento de smartphones até tentativas equivocadas de entrar no espaço de produção de hardware, bem fora do escopo da companhia. O último erro foi custoso, tanto financeiramente quanto para a reputação da companhia. Ballmer comprou a finlandesa Nokia por quase US$ 8 bilhões logo antes de entregar o cargo, uma aquisição que teve seu valor reduzido a zero no balanço da empresa menos de dois anos depois.

Quando Nadella anunciou a compra do LinkedIn, rede social para profissionais, em 2016, por mais de US$ 26 bilhões, o movimento foi visto com maus olhos por muitos investidores e analistas. O histórico desastroso da Microsoft com fusões e aquisições contribuiu para isso, claro. Ademais, o recém-apontado CEO ainda era recebido com certo ceticismo por muitos agentes do mercado. A perspectiva de que teria que, além de endereçar os problemas centrais da Microsoft, digerir e integrar uma aquisição dessa magnitude foi justamente o ponto do questionamento, em nossa visão.

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Nadella escolheu o LinkedIn também por contar com dois executivos fundamentais: Reid Hoffman e Jeff Wainer. O primeiro foi co-fundador da empresa e atuava como presidente de seu conselho, além de ter uma carreira extensa e bem-sucedida no Vale do Silício – chegou a participar do início do Paypal, primeiro como membro do conselho e depois como COO.

Hoffman era, e ainda é, um nome muito respeitado no setor de tecnologia e a aproximação com Nadella, especialmente com sua entrada no conselho da Microsoft, serviu como endosso à gestão do então novo CEO da Microsoft.

O segundo, Jeff Wainer, era o CEO do LinkedIn. O executivo tinha trabalhado no Yahoo no início dos anos 2000 e em 2008 ingressou na empresa como presidente interino. Ele, ao lado de Hoffman, foi responsável pela transformação da empresa, que tinha 338 funcionários em 2008 e passou a ter 10 mil em 2016. A base de membros expandiu de 38 milhões para mais de 433 milhões no mesmo período.

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Nadella entendeu que o melhor caminho para extrair valor dessa compra seria deixar Wainer e Hoffman continuarem o trabalho que já vinham executando bem, desta vez com todo o suporte financeiro e tecnológico da Microsoft.

Esse modelo parece estar dando certo. Sob comando de Wainer e supervisão de Nadella e da Microsoft, o LinkedIn teve um ganho de escala que vem sendo refletido na geração de receitas.

Wainer, em 2020, passou o cargo de CEO para Ryan Roslansky, um veterano com 11 anos de casa, e assumiu o papel de executive chairman. Apesar da impressionante trajetória de crescimento de receita, a plataforma ainda não gera lucro, desafio que agora cabe a Roslansky. E é nesse ponto que estar embaixo do guarda-chuva da Microsoft é extremamente benéfico.

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A geração de caixa e lucro das outras divisões da companhia, muito maiores, mais do que sustentam o nível geral da rentabilidade. Isso permite, então, contínuo investimento no LinkedIn a despeito da ausência de lucro.

A rede tem as seguintes formas de gerar receita: (i) venda de assinaturas (Premium Subscriptions); (ii) venda de espaço na plataforma para anunciantes (Marketing Solutions); (iii) serviços de recrutamento (Talent Solutions).

Em paralelo, a empresa ainda gera receitas via duas outras divisões: (iv) Learning Solutions (antes, parte de Talent Solutions): plataforma educacional que oferece cursos que podem ser adicionados aos perfis dos usuários; (v) Sales Solutions (antes, parte de Premium Subscriptions), ferramentas para vendedores fazerem networking e, assim, elevarem suas vendas.

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A Microsoft não fornece números de receita por produto do LinkedIn. Não somos capazes, portanto, de determinar com precisão qual a monetização por usuário da plataforma via ads. Mas podemos estimá-la: com dados de 2016 – de quando a empresa operava de maneira independente – o LinkedIn gerava cerca de 18% do total de suas receitas via divisão de Marketing Solutions.

Outros 17% eram provenientes de assinaturas premium (que englobava o segmento de Sales Solutions) e os 65% restantes eram atribuídos ao segmento de Talent Solutions (que englobava o segmento de Learning Solutions).

Sabemos que no terceiro trimestre do ano fiscal de 2021, encerrado em abril de 2021, a divisão de anúncios gerou mais de US$ 3 bilhões em receitas nos últimos 12 meses, segundo Nadella informou em teleconferência de resultados do trimestre. As receitas cresceram 60% no período e, como percentual do total, elas representaram 32%. Esse número, à época, fazia do negócio de anúncios da companhia maior que pares como Snap e Pinterest.

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Assumindo que esse percentual se elevou para cerca de 35% – razoável, já que essa era uma divisão de maior crescimento que as demais – teríamos que as receitas do negócio de ads do LinkedIn hoje estão próximas de US$ 5 bilhões, em US$ 4,84 bilhões (35% dos US$ 13,8 bilhões do quatro trimestre do ano fiscal de 2022).

Com isso, temos uma rubrica de receita – de anúncios – por usuário muito inferior a seus pares, como mostra o quadro abaixo com nossas estimativas:

Expandir o número de usuários é importante e a empresa tem investido bastante nisso. Hoje conta com quase o dobro de membros desde que passou a integrar a Microsoft. Agora, precisam endereçar a baixa monetização de sua base e melhorar sua posição competitiva no espaço de anúncios para caminhar em direção à geração de lucro.

É importante ter em mente que contar com o LinkedIn no seu ecossistema vai além de simplesmente ter uma rede social que gera receitas e, futuramente, lucro para a Microsoft. Trata-se de fortalecer sua posição de empresa provedora de uma suíte completa de serviços para organizações profissionais.

Enquanto gere uma companhia que agrega dados de mais de 850 milhões de profissionais pelo mundo, a Microsoft consegue extrair insights para melhor servir seus clientes, aprimorar suas ferramentas e, ultimamente, tornar-se indispensável para as instituições que servem. Nadella foi claro quando assumiu o cargo de CEO: “O objetivo da Microsoft é empoderar cada pessoa e organização para realizar mais”. O LinkedIn está se provando importante para esse objetivo – ainda que, por enquanto, não seja fonte de lucro.

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Maria Antonia Viuge

Sócia e analista sênior da Nextep Investimentos. É economista formada pela UFRJ e pela Kingston University London

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Roberto Vinhaes

Roberto Vinhaes é sócio da Nextep Investimentos. Engenheiro formado pela PUC-Rio, foi um dos fundadores da Investidor Profissional, a 1ª gestora independente de fundos do país